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O Terapeuta Tradutor

Atualizado dia 10/13/2016 8:20:21 PM em Psicologia
por João Carvalho Neto


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Muitas vezes, escutando o discurso de alguns pacientes sobre seus psicoterapeutas de outros tempos, observo o quanto nós podemos estar negligenciando a subjetividade de nossas tarefas, valorizando aspectos mais imediatistas e superficiais em nome de uma erradicação simplista de sintomas. E isto não é difícil de ser explicado visto que a tendência da medicina contemporânea, e em especial da Psiquiatria, é a de eliminar a “doença” para que o indivíduo volte a ocupar o mais rápido possível seu papel como operário e consumidor dentro do sistema sócio-econômico.
Apesar disso até trazer uma satisfação imediata, tanto para o paciente quanto para a sociedade que espera seu retorno, alimenta consequências cumulativas que irão se manifestar posteriormente, como tantos transtornos mentais crônicos, inclusive as depressões.
É importante perceber, tanto pacientes como terapeutas, que cada sintoma traz sua cota de informação e demanda, exigindo mudanças para transformação de um estado que não se sustenta mais e que precisa ser alterado no rumo de uma evolução. Tenho chamado a isso de inadequação evolutiva, ou seja, existe uma demanda evolutiva a que a pessoa já se predispõe, por força dos caminhos que tenha percorrido nesta e em suas vidas anteriores. Contudo, as pressões externas ligadas a uma superficialidade material e os desejos internos de acomodação a um gozo já conhecido, fazem com que ela não perceba o seu próprio momento de transição, lutando para permanecer em uma situação de controle mas, agora, inadequada.
Então, o psicoterapeuta deve surgir como um tradutor desses sintomas que falam direta, mas subjetivamente, dessa inadequação, valorizando os sinais endógenos e exógenos presentes no processo. E isso realmente não é tarefa simples, contudo a única de eficiência. Um sintoma, principalmente os psicológicos, mas também os psicossomáticos, é o discurso da mente que não encontra mais estratégias elaborativas e que necessita aliviar a pressão intrapsíquica para não entrar em surto. Se eles são contidos simplesmente por estratégias condicionantes ou por psicofármacos, sem que haja a real tradução dos seus significados, voltarão a se manifestar como uma lei inexorável da vida para o expurgo do que não é mais suportável. Por isso, enquanto Psicanalista, tenho me preocupado muito com o anúncio de soluções rápidas para problemas tão profundos e antigos. Já dizia um provérbio chinês que “para todo problema difícil existe uma solução fácil... mas errada”.
Então, as características dos diversos tipos de transtornos psicológicos, com sua sintomatologia própria, são uma linguagem do inconsciente a ser traduzida pelo psicoterapeuta com o paciente, neste trabalho conjunto que se opera no setting terapêutico. Cada sintoma traz em si os sinais do que está acontecendo na intimidade da vida psíquica daquele indivíduo. O medo da perda de controle, a nostalgia do passado, a inquietação com o futuro, a fragilidade diante dos relacionamentos, a baixa autoestima, são possibilidades de sentido muito comuns nas pessoas que nos procuram. Mas não basta uma visão geral. É preciso contextualizar essas interpretações com a história do paciente, com aquilo que Freud chamou de Romance Familiar, para que ele deixe de se perceber como vítima e possa assumir a responsabilidade pelo seu caminho, pelo seu passado e futuro.
Só assim podemos resgatar a autoestima dessa pessoa, pois enquanto responsabilizando o outro, ela se percebe alheia ao seu poder de transformação e resolução. Pais, parentes próximos e vida familiar são gatilhos que nos direcionam, pela lei da sincronicidade, para o amadurecimento que nossa demanda interna espera alcançar. Eles não existem contra nós, nós os buscamos em nosso favor. Os problemas deles exercitam em nós o que precisamos transformar. Nas neuroses – e, de alguma forma, tudo se encaixa em uma grande neurose dessa e de vidas passadas – a energia psíquica com que alimentamos os sintomas, as queixas e a vitimização, deixa de ser utilizada para o fortalecimento do ego e a cura psíquica. Um ser espiritualmente amadurecido tende a assumir responsabilidades de transformação para melhor, enquanto aquele infantil se perde em transferências dessa mesma responsabilidade para terceiros.
Aquele que se percebe necessitando realizar um processo terapêutico tem que observar estas questões para que não se iluda, adiando soluções que virão mais difíceis com o tempo. Iniciar uma terapia nestes moldes é mais do que buscar curar-se, é terapeutizar-se para a continuidade da sua história, construindo subsídios e ferramentas para um trabalho que não se encerra nos 50 minutos de uma sessão, mas que é pertinente ao cotidiano, ao olhar com que passamos a nos observar diante dos exercícios que a vida nos propõe. Não é à toa que estava inscrito no frontispício do templo de Delfos, na Grécia antiga, e foi tomado como referência para a sabedoria socrática: “Homem, conhece-te a ti mesmo”.
Texto revisado

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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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