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O Vazio Interior

Atualizado dia 9/25/2011 8:15:07 PM em Psicologia
por João Carvalho Neto


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Uma das questões mais presentes na clínica psicanalítica é o encontro do paciente com a existência do seu vazio interior. Parece claro, para nós psicanalistas, que todos trazemos esse vazio como fruto inevitável do próprio trauma do nascimento. A sensação de que algo foi-nos tirado –a mãe– que se consubstancia com a adolescência, quando a segunda mãe –o útero familiar– também tende a ficar mais distante.
Muitos conseguem elaborar satisfatoriamente a angústia dessa separação, adaptando-se à vida com este vazio, através de construções pessoais. Outros tendem a mecanismos de defesa neuróticos que passam a governar suas vidas.
Dentro da convicção que me orienta, acredito que as motivações geradoras desse vazio não se encontram na vida atual, mas apenas se reproduzem em circunstâncias particulares, em um exercício reencarnatório de busca pela autonomia espiritual. A etiologia está estruturada a nível profundo da essência espiritual, e diz respeito a uma separação primordial que aconteceu no momento em que a individualidade deixa de evoluir no reino animal e passa ao reino hominal, quando adquire a razão, o livre-arbítrio, o sentido da responsabilidade e, em decorrência, passa a se sujeitar a uma lei de retorno –a lei do carma– que lhe cobra atitudes sempre mais maduras diante da vida. Antes, enquanto animal, a vida transcorria no útero da natureza, sem que a existência de uma consciência pesasse sobre as vicissitudes experimentadas. Esse vazio, então, torna-se um vácuo espiritual que move a individualidade na busca do seu preenchimento, rumo à sua evolução, para que na plenitude se acalme sua angústia.

Quando Jung defende a existência de um lado sombra no psiquismo humano, muitos o interpretam como as tendências ruins de nossa personalidade, que preferimos manter obscurecidas até mesmo de nossa própria percepção. Mas esse lado sombra é tudo aquilo que não se torna passível de ser apreendido pela consciência, inclusive o que deixou nosso vazio interior.
O sistema sócio-econômico que rege a sociedade contemporânea conspira fortemente pelo agravamento desse vazio, na medida em que enfraquece o desejo pessoal em detrimento do desejo do consumo que é alienado. Ou seja, a alienação do nosso desejo no desejo que interessa ao sistema tira de nós a energia natural do nosso psiquismo que é vivenciada no desejo interior que deveria mover nossas vidas. Dessa forma, o que tem impulsionado nossas vidas é o desejo alheio.

Não é à toa que vivemos numa sociedade angustiada, com a sensação de que algo falta sem saber como preencher este vazio. Ao contrário, tenta de todas as formas diminuir sua dor e, com isso, entrega sua vida a uma nova forma de poder, o do paradigma médico cartesiano, que cresceu ao longo do século XX, que preenche quimicamente o vazio interior, mas que cobra submissão ao sistema de crenças estabelecido. Claro que os psicofármacos tendem a trazer alívio imediato às dores insuportáveis, mas podem se tornar também um típico processo de viciação, onde aquele que vende se sustenta à custa da satisfação do vício que alimenta no outro.

O filósofo alemão Heidegger define a angústia como uma predisposição de busca para preencher o nada, o vazio. Contudo, como o ser humano, na natureza da sua essência, deveria ser pleno – já que um dos princípios básicos do universo é não tolerar o vazio, logo o ser humano fruto desse universo seria cheio – esse nada não lhe é natural, mas conseqüência de sua vivência pessoal. Ora, se o nada que busca é, na verdade, o encontro com o que perdeu, a angústia, enquanto nostalgia pelo que ficou no passado, só cessará no reencontro com o Poder Criador da vida – origem da individualidade, de cujo afastamento surge o motivo primordial de seu vazio interior, e que é meta da plenitude a ser alcançada. A falta da consciência desse Poder Criador em si mesmo, alimenta o vazio que se esconde na sombra da personalidade.

Digo isso com a absoluta convicção de que podemos e devemos tratar psicologicamente os transtornos mentais de nossos pacientes, e é necessário que isso seja feito, para o alívio da angústia e porque a angústia também é o convite para o encontro maior com a causa. Contudo, essa cura jamais será definitiva enquanto não seja encontrado o caminho de nossa religação com esse Poder Criador, que não está em nenhuma religião –ainda que elas sejam estratégias úteis– mas no despertar interior do psiquismo amadurecido pelas experiências reencarnatórias, pela reflexão e pela meditação.
Uma psicoterapia que se restrinja a buscar causas e soluções nos aspectos superficiais da vida atual deixará sempre a desejar no que diga respeito às transformações profundas e à plenificação interior.

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
“Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”.
www.joaocarvalho.com.br

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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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