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Papai, meu amor por você é de todas as cores!

Atualizado dia 8/10/2014 1:57:42 AM em Psicologia
por Anna Karina de Pontes Leite


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Já alcancei o momento de lembrar de meu pai sem sofrimento. Desde sua morte há um ano e meio é a primeira vez que escrevo pra ele. Aliás, o título deste artigo foi o que escrevi num desenho que fiz na minha escola quando cursava a segunda série (hoje, terceiro ano do ensino fundamental) e ele cheio de orgulho me perguntou: “Foi você?” e eu percebi nitidamente seu entusiasmo. Meu pai achava-me inteligente, sensível e criativa e estes requisitos procurei por toda a minha vida desenvolver.  
Consigo lembrar de sua risada gostosa contando suas peripécias de juventude, emoção à flor da pele, herdei seu temperamento enérgico, por vezes agressivo, tentando se fazer entender em meio uma discussão a respeito de suas opiniões e crenças, moldado à educação rígida da década de 1930.  Mas como contraponto possuía um coração enorme, sempre disposto a amar e derramar carinho para seus familiares e amigos. Para àqueles que acreditava carentes, não poupava esforços em ajudar, conseguindo empregos dignos, cursos nas diversas áreas culturais, estimulando e descobrindo talentos. Oportunizou um novo direcionamento na vida de inúmeras famílias, fui testemunha diversas vezes deste cenário. Sincero e leal, com uma memória ímpar, dizia que a Vida tinha sido muito generosa com ele, pois era um “pelanco”¹ que estava nos lugares certos, nas horas certas.  Que só havia conseguido idealizar e concretizar tantos benefícios para a área cultural do Estado de Alagoas porque tinha contado com inúmeros amigos, aos quais ele sempre fez questão de ser grato. E aqui eu observo um aspecto muito interessante na vida de meu pai – a gratidão!  Sempre fazia questão de agradecer àqueles que contribuíram com ele no auxílio aos menos favorecidos, os ditos excluídos sociais. Nada do que fazia usava para se beneficiar ou se autopromover. Abominava bajulações e mecanismos mentirosos de ascensão no meio artístico ou social. Preservava sua autenticidade quando escrevia ou falava e com isso muitas vezes foi alvo de censura por tantos quantos são afeitos a hipocrisia.
Quando escolhi minha profissão ele mostrou desagrado, mas em um dos livros de odontologia que me deu fez um apelo especial pelos “milhões de desdentados deste país”, alertando do compromisso social que eu assumia a partir do momento que estivesse no mercado de trabalho. Meu pai era assim, apesar de uma aparência rígida era flexível por inteiro, sempre tinha um olhar abrangente quando analisava uma situação. Demonstrava o tempo todo que estaria comigo em qualquer circunstância repetindo “eu sou seu pai, eu estou aqui...” Devoto de Nossa Senhora tinha como hábito abençoar meus filhos e a mim, evocando a proteção da mãe de Jesus como um filho arrependido pedindo uma nova chance de se redimir.

Entre inúmeras crônicas que escreveu, solicitei a minha mãe que me cedesse uma para compartilhar com vocês. Subescreverei àquela que fez para seu pai, meu avô, do qual ele herdou o nome . Por Braulio Leite Junior  (advogado, teatrólogo, jornalista filiado a AAI e OJB): "Filho és... pai serás..."

"De repente, lá do fundo da memória ressurge a figura do meu pai. Hoje sou o que ele disse que eu seria um dia, "filho és, pai serás" - quando o contrariava e não levava em conta os seus conselhos. Agora eu o compreendo.

Não quero lembrá-lo como o vi pela última vez, na noite que antecedeu a madrugada em que morreu. Pálido, mãos trêmulas, gigante abatido sobre oleito, virando a cabeça de um lado para o outro. Depois entrou em coma e não olhei mais para o seu rosto. Percebi quando a sua respiração forte parou e fui para a rua olhar o céu da madrugada mais triste da minha vida. Não fiquei junto ao seu corpo inerte nem o acompanhei ao cemitério.

Hoje tantos anos depois, olho para três retratos que guardo da sua vida e noto, com os meus olhos de agora, a profunda identidade que nos unia. Como ele, gosto dos pássaros, criar animais, plantar e colher. Além disso, tenho as paredes da casa onde nasci e moro até hoje, cobertas de quadros e fotografias de pessoas amigas. São três fotos que guardam fisionomias diferentes, distantes umas das outras, três fases distintas do chefe de família que teve 20 filhos dos dois casamentos contraídos. Forte, alto, não fumava e não bebia, a não ser vinho do Porto e charutos "Suerdieck" em reuniões muito especiais. Também não jogava. Filho de pai português e mãe brasileira, falava e escrevia em três idiomas, mantendo correspondência em vários pontos do mundo.

Adepto do Esoterismo e filiado à Loja Maçônica "Virtude e Bondade" que frequentou durante 55 anos ocupando os mais diversos cargos, participou de várias missões em outras cidades brasileiras onde eram fundadas novas Lojas ou Capítulos. Espiritualista, mantinha vasta biblioteca, onde se encontravam livros raros e remetidos de vários países com dedicatórias de seus autores, com quem se correspondia.

(...) Depois que deixou o serviço público, levava-me, filho caçula, todas as tardes para passear, escolhendo um bairro que percorríamos a pé, visitando amigos, alugando charretes para me atender ou comprando frutas, amendoim, cocada, rolete de cana, farinha de milho, tapioca e outros quitutes , naquela época, vendidos nas esquinas ou portôes de sítios em grandes tabuleiros, guardados por velhas negras de torso e vestidos brancos de saias rodadas. Assim conheci Maceió, levado pela mão amiga do meu pai, que se desmanchava em agrados e gostava da minha companhia. Pela sua mão e ensinamentos aprendi a amar esta cidade, a conhecer seus homens de bem e a venerar a sua memória.

Queria que eu fosse médico e não o saltimbanco no qual me tornei. Nem mesmo quando me formei em Direito, fui o filho "doutor" que ele desejava. Rebusco a memória e revejo meu pai, no Natal, Ano Novo, e no dia do seu aniversário - 25 de fevereiro - junto a minha mãe, cercado pelos filhos, noras, genros, netos, bisnetos e agregados e sinto que ele continua vivo. Sua morte física não nos fez esquecer sua figura patriarcal, severa mas compreensiva, atenta aos tropeços de cada um de nós e pronto a ajudar, a amparar e também a admoestar quando necessário. E recordo seu sorriso discreto certo de que, mesmo sem conviver, estará sempre presente, enquanto houver sua lembrança, uma saudade na mente e no coração de todos nós que o conhecemos e amamos. E tenho a impressão de ouví-lo repetir a frase que, hoje, também pai de família, repito para os meus filhos, quando eles não levam na devida conta minhas advertências: - Filho és, pai serás.

E sinto uma saudade doída, machucada que me oprime o peito e molha a face, as lágrimas escorrendo pelo rosto".

Meu pai, isto tudo é pra você! Receba em pensamento e intenção as energias de amor e profundo respeito à sua existência. Obrigada por tudo e para sempre! 
 

¹filhote de passarinho

Texto revisado

 
 


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Conteúdo desenvolvido por: Anna Karina de Pontes Leite   
Terapeuta Floral.
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