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Transferência e neuroses complementares

Atualizado dia 3/3/2012 10:45:13 PM em Psicologia
por João Carvalho Neto


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Um dos fenômenos psicológicos mais comuns nas relações humanas é o da transferência. Não pretendemos aqui aprofundar as bases teóricas sobre o assunto, mas apenas propor uma reflexão que seja útil àqueles que nos lêem.
Desde a mais tenra idade, ainda recém-nascidos, que vamos aprendendo a estabelecer relações com o mundo à nossa volta, sempre a partir daquelas figuras mais importantes que nos rodeiam, especialmente a mãe, pelo vínculo biológico e pelos cuidados com o bebê. Depois vão surgindo outros personagens, como o pai, avós, demais familiares, professores, amigos, etc.
Mas são com aqueles primeiros e mais íntimos vínculos que a criança vai, pouco a pouco, aprendendo sobre seus sentimentos e criando formatos de relacionamentos que tendem a perdurar por toda a vida.
A mãe será sempre a primeira figura de mulher a ser conhecida e amada pela criança como o pai será a primeira figura de homem. Isso levará o bebê a desenvolver reações específicas conforme tenham sido essas relações, ou mesmo diante da ausência delas.
Ao longo de sua vida o ser humano irá, então, repetir os formatos dessas aprendizagens relacionais, projetando nos seus futuros vínculos afetivos os aspectos que tenham marcado sua vida emocional infantil.
Por exemplo, uma criança que cresça vivenciando uma rejeição de mãe ou de pai poderá manter essa forma de sentir nas suas novas relações quando adulta, mesmo que isso não seja real, que seus novos parceiro sejam atenciosos e carinhosos, mas será verdadeiro para a sua percepção um estado de insatisfação. Essa pessoa tenderá a sentir que o afeto que recebe não é suficiente, porque a sensação de insuficiência de afeto ficou gravada no seu inconsciente.
A isso chamamos transferência.
A transferência vai aparecer de forma mais intensa nos vínculos amorosos conjugais, quando a mulher que não elaborou seus formatos infantis de afetividade continua procurando por seu pai em um marido. Ou o homem, nas mesmas condições, que continua procurando por sua mãe na esposa.
Até aí, a princípio, não estamos introduzindo nenhuma grande novidade para aqueles que procuram se familiarizar com o comportamento humano. Já se tornou chavão as pessoas dizerem que alguém é como se fosse o pai da esposa ou a mãe do marido.
A questão mais significativa que proponho levantar aqui é o que estou chamando de neurose complementar, porque cabe a pergunta: o que faz com que uma pessoa aceite o papel paternal com uma mulher que transfere sua carência para ele, ou por que alguém aceita o papel maternal com um homem em processo transferencial?
E a resposta é que aquele que busca uma relação em que irá suprir a necessidade transferencial de outro também está fazendo a sua transferência, de tal forma que suas neuroses se completam.
Ou seja, se uma esposa está procurando por seu pai na figura do marido, esse está procurando por uma filha na figura de sua esposa; se um marido está procurando por sua mãe na figura da esposa, ela está procurando por um filho na figura de seu marido.
Alguém pode estar questionando: mas você não pensa nisso quando se apaixona por alguém.
Realmente não pensa e, na maioria das vezes, nem sabe de suas tendências transferenciais, mas o inconsciente tem mecanismos próprios para fazer sua leitura da realidade, e percebe além das aparências. Ele – o inconsciente – sabe, de alguma forma, se aquela pessoa irá se encaixar dentro de suas necessidades transferenciais. Comumente, essa realidade só vai se tornar mais consciente por conta de um trabalho de psicanálise, ou com o passar do tempo e o avanço da idade que vão clareando novas compreensões de si mesmo, às vezes um pouco mais de autonomia pelo fortalecimento do ego ou por conta do encontro de novos parceiros conjugais que irão levantar uma real avaliação da relação antiga.
Diante dessa consciência e da resolução das carências transferenciais a única solução é a separação com o fim do relacionamento neuroticamente construído? Não necessariamente. Algumas pessoas sentem vontade de reconstruir uma nova relação, mais verdadeira e menos dependente, mas outros conseguem estabelecer estratégias que podem garantir a permanência e a melhora do vínculo. Não é difícil, basta vontade de ambas as partes.
Aliás, Erich Fromm, no livro “A arte de amar” reafirma que o amor conjugal não é apenas um sentimento mas precisa ser também um ato de vontade. Ou seja, se a plantinha do amor for devidamente cuidada pode continuar a dar bons frutos por toda uma vida.
Existirão perdas de gratificações afetivas em vínculos transferenciais? Claro que sim, mas o amadurecimento conjunto das partes pode trazer outros tipos de ganhos. E o que, nesta vida terrena, será plenamente gratificação? Algumas perdas sempre serão inevitáveis. A questão é contabilizar e saber administrar o ônus e o bônus.
Sucesso nessa empreitada, é o que desejo a todos vocês!

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
“Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”.
www.joaocarvalho.com.br
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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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