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TRANSTORNO DO PÂNICO

Atualizado dia 7/14/2006 10:30:54 PM em Psicologia
por Priscila Gaspar


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Marina teve um dia normal: levou os filhos à escola, foi trabalhar no escritório, almoçou com as colegas de trabalho, aproveitou a hora do almoço para fazer algumas compras e retornou ao trabalho. Chegou em casa por volta das 18 horas, muito cansada, mas ainda tinha que preparar o jantar e dar conta de toda aquela bagunça. Como já estava acostumada, não contava com a colaboração do marido e dos filhos, nem pediu ajuda. Foi fazendo tudo o que precisava sem, no entanto, perceber o quanto aquela situação a deixava magoada e com raiva, diariamente – há muitos anos!

O casamento estava difícil, há muito não havia um bom diálogo, tampouco a vida sexual era satisfatória. Sem contar a preocupação com o emprego, pois a firma iria dispensar alguns funcionários. Mas Marina procurava não pensar nisso. Evitava as emoções desagradáveis, agindo de forma automatizada, sem estar totalmente presente na situação. Terminou de guardar a louça na cozinha, sentou-se um pouco para ver a novela e, finalmente, relaxar.

Então, foi acometida por um mal-estar súbito: palpitação, suor, dor no peito – achou que fosse morrer. Levada ao pronto-socorro, realizaram exames e a hipótese de um infarto foi totalmente excluída. Voltou para casa com a recomendação de que precisava descansar. Deveria ser apenas estresse.
A partir desse dia Marina passou a ter medo de sair de casa desacompanhada – temia passar mal na rua. Novas crises ocorreram e cada vez ela tinha mais medo de que uma nova crise a acometesse num momento em que não pudesse contar com a ajuda de ninguém. Parou de dirigir e só saía acompanhada. Mais alguns exames e nenhuma causa orgânica foi encontrada. Veio o diagnóstico: Transtorno do Pânico.

Mas, afinal, o que é o Transtorno do Pânico?

O Transtorno do Pânico caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas que, muitas vezes, simulam doenças orgânicas como certas cardiopatias (doenças do coração). Acometido por taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos), sudorese (suor), sensação de morte iminente e, algumas vezes, dores na região do peito, o sujeito passa a sentir-se angustiado a ponto de não conseguir mais realizar suas tarefas diárias. Evita sair de casa, dirigir, etc., com sérios prejuízos profissionais e nas relações, tanto as sociais como as familiares.

Em geral, a partir da primeira crise, o sujeito passa a ter muito medo, aumentando a possibilidade de ter novas crises. É atualmente considerada um transtorno de ansiedade, juntamente com as Fobias, o Estresse Pós-Traumático, o Distúrbio da Ansiedade Generalizada e o Transtorno Obsessivo Compulsivo. Enquanto que nas Fobias o sujeito teme algo fora de seu corpo, no Transtorno do Pânico teme as reações do próprio corpo. É freqüente o medo da morte, pois na crise pode haver uma sensação de morte iminente, bem como medo de enlouquecer, por causa da perda de controle.

A ansiedade, por sua vez, pode aparecer em graus variados, desde um estado normal de alerta, no qual o sujeito está mais atento, passando por uma agitação difícil de ser definida, o medo e, num grau extremo, o pânico. Em certas situações de perigo real, a experiência emocional do pânico ocorre sem que isso caracterize um distúrbio. No Transtorno do Pânico o sujeito tem as mesmas sensações orgânicas e as emoções que sentiria se estivesse, por exemplo, em meio a um incêndio, mas neste caso sem saber de quê sente medo ou o quê o está ameaçando.

Ao contrário do que se costuma veicular, o transtorno do pânico não é uma doença nova; apenas essa denominação é recente. No século XIX Freud já havia descrito quadro muito semelhante sob a denominação de “neurose de angústia”, sendo as crises denominadas “ataques de angústia”. Os “ataques de angústia”, segundo Freud, poderiam ser acompanhados por distúrbios da atividade cardíaca, distúrbios respiratórios, acessos de suor, tremores, calafrios, fome devoradora, entre outros sintomas. Para o Pai da Psicanálise a maioria dos casos relacionava-se à necessidade sexual não satisfeita, embora ele também considerasse os casos decorrentes do excesso de trabalho, bem como os que ocorriam após recuperação de alguma doença grave.

Na atualidade, embora o quadro sintomático não seja diferente ao da descrição de Freud, entendemos que o transtorno do pânico corresponde a uma descarga energética no corpo, partindo de afetos não elaborados, num grau extremo de ansiedade. É como se emoções e sentimentos não compreendidos ficassem desconectados dos sintomas físicos. O sujeito se desliga ou se ausenta da situação presente, como se fosse uma espécie de fuga em relação às suas próprias sensações corporais. É como se desejasse, inconscientemente, manter-se anestesiado, ou seja, sem admitir que algo não vai bem em sua vida e, de certa forma, evitando tomar consciência das emoções.

Assim, a crise pode ocorrer algumas horas após o fato que a desencadeou, ou seja, as emoções não compreendidas são descarregadas no corpo momentos depois. Quando se apercebe delas, o sujeito é tomado por um susto, pois desconhece essas sensações corporais e não consegue relacioná-las às emoções que as desencadearam.

Em geral, a pessoa com transtorno do pânico tem dificuldade para relacionar as alterações que ocorrem em seu organismo com as respectivas emoções, mesmo em situações triviais no seu dia-a- dia. Por causa disso, muitas vezes não é possível detectar o fato que desencadeou a crise. No entanto, sabemos que, após a primeira, o próprio medo de ter uma nova crise pode desencadear outras.

Como tratar o Transtorno do Pânico? Existem várias formas de tratar o Transtorno do Pânico, entre elas as técnicas psicoterápicas. A psicanálise pode auxiliar principalmente no que se refere ao reconhecimento das próprias emoções, permitindo que o sujeito entre em contato consigo e reveja suas posturas. Como coadjuvante, podem ser úteis técnicas de relaxamento e exercícios, visando o reconhecimento das sensações corporais ligadas às emoções, bem como o controle respiratório. Em alguns casos existe a necessidade de acompanhamento médico (Clínico Geral ou Psiquiatra) para a administração de medicamentos calmantes e/ou antidepressivos. No entanto, é importante frisar que os medicamentos apenas colaboram para diminuir a intensidade e a freqüência das crises, sendo a psicoterapia indispensável.

E como fica a nossa personagem? Com o tratamento Marina percebeu o quanto estava evitando sentir aquilo que a incomodava. Aprendeu a perceber melhor suas emoções e a observar as reações corporais correspondentes. À medida que podia perceber-se, as crises foram se distanciando e ela readquiriu a confiança para retomar suas atividades normais. Agora, em vez de evitar as situações que geram sentimentos desagradáveis, Marina pode enfrentá-los e permite-se sentir raiva, mágoa, tristeza etc., pois aprendeu que são sentimentos normais de qualquer ser humano. Percebeu que, ao negar esses sentimentos, estava escondendo uma parte de si mesma, a ponto de não mais se reconhecer.

A psicoterapia ajudou também a definir melhor seus objetivos de vida e a colocar-se de forma mais ativa perante os outros, inclusive na família, redefinindo seu papel de esposa, mãe e mulher. Hoje é capaz de lidar com os “altos e baixos” no trabalho e na vida pessoal.


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Conteúdo desenvolvido por: Priscila Gaspar   
Priscila Gaspar é Psicanalista, Terapeuta de Regressão e Terapeuta de Casais, com especialização em Sexualidade Humana. Atende em psicoterapia individual e de casal.Contato: [email protected]
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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