77 anos! O que faço com minha sexualidade?

Ela tinha 77 anos, e sempre trazia assuntos interessantes em nossos encontros nas consultas do Processo Mutação que eu aplicava nela.

 

Isso aconteceu há 10 anos.

Acometida de uma severa depressão, realizamos juntos uma jornada de recuperação de valores e estabelecimento de novas metas, que reorganizaram sua mente e determinaram caminhos menos estreitos para sua existencialidade.

 

Numa consulta, disse constrangida:

"Sr. Wilson fico excitada e meu marido não dá a mínima atenção, nem mesmo me toca, com carinho, sexo nem pensar".

 

E ela confidenciou que, em sua solidão e desejos, surge a imagem de seu primeiro namorado.

 

Diz ela, "conheci ele quando tinha 15 anos, era muito lindo, gostava de mim, chegamos a flertar, lógico que à distância, como era o costume da época. No entanto, a família dele, muito rica, preferiu que ele se casasse com outra moça da cidade, também rica, e eu fiquei muito triste, guardando meu sentimento por ele".

 

"Eu nem me lembrava mais desse fato, até que esse fogo começou a queimar em meu corpo, trazendo-me sensações estranhas, numa mulher da minha idade".

 

"E agora, à noite, ele me vem na imaginação e eu fico feliz com essa lembrança e sinto como que se passeássemos de mãos dadas pelas alamedas de nossa cidade, como jovens enamorados.

Isso me conforta, me acalma e me deixa feliz".

 

Ouvi atento e informei que isso pode ser natural, mesmo na sua idade, tanto sua sensação como os desejos.

 

Sobre a desatenção do marido, expliquei. Um e outro estão em caminhos paralelos, sentindo o corpo e a vida de maneira totalmente diferenciada. Ele ama do jeito dele.

 

Quanto às sensações, não podem ser consideradas estranhas, não... Afinal, o corpo é um instrumento da alma e enquanto a alma consegue produzir sensações, o corpo atende e responde, prontamente.

 

Sugeri que ela procurasse envolver o marido, motivá-lo para outras atitudes e desejos. Ela retrucou que tinha feito de tudo que sabia e imaginava, sem nenhum resultado.

 

Pois bem, aí está uma situação interessante para nossa reflexão.

 

Não sou apologista do adultério, nem incentivo pessoas a procurar fora de casa experiências de afetividade que não encontram com a pessoa que escolheu para viver um relacionamento.

 

Nem tampouco, entendo que "se possuir" possa ser pecado ou atrair influências negativas.  

 

Você tem o direito de dar ao seu corpo o que ele precisa e atender seus impulsos naturais, com Amor e Inteligência.

 

Uma outra alternativa, para atender essa energia, esses impulsos, que surgem de sua intimidade, no caso em pauta, é a arte, a dança.

 

Naquela época,  aos idosos era reservado para o homem, jogar dominó com os amigos e para as mulheres fazer tricot.

 

Hoje há grupos sociais, clubes que oferecem boas oportunidades de encontros, bailes, almoços em lugares aprazíveis.

 

Então, expliquei em detalhes sobre a energia sexual e o quanto essa energia é divina.

 

Pouco se sabe dessa energia e pouco se aproveita dela.

 

Na verdade, não é uma energia que serve apenas para a procriação ou prazer num simples relacionamento.

 

Trata-se de uma energia que Deus depositou no ser humano, para que ele possa ter atitudes divinas.

 

Ainda quando o ser humano tinha conhecimentos rudimentares de Si mesmo, a energia sexual era apenas o instrumento de procriação

 

Com o avanço da inteligência humana, hoje entendemos que essa energia serve para muito mais,

 

Ela nos proporciona um estado de criatividade, de afetividade, de identificação com Deus e pode trazer para a criatura que a libera, a alavanca para que se possa realizar obras e ações de magnitude, na sociedade na família e no trabalho.

 

É isso, um homem e uma mulher podem, com o desabrochar e direcionamento dessa energia, edificar atitudes belíssimas na vida.

 

Pois bem, a lembrança que minha cliente tem do rapaz nada tem de sujo nem de pecado. É apenas uma lembrança e com tanto carinho que certamente onde esse homem estiver será envolvido por uma boa energia, enquanto ela, nesse devaneio puro e sincero redireciona sua energia, transformando-a em uma fonte de alegria e paz.

 

E ela me confidencia, agora com 91 anos, com gratidão.

 

Meu marido é um anjo, faz tudo pra mim. Mudanças que o coração faz e o corpo obedece.

Texto Revisado