Confissão de um cliente esquisofrênico

"Eu estava num Centro Espírita e houve uma mulher que me tocou nas costas e eu não pude evitar o movimento de afastamento, que "o meu corpo" realizou, por não estar esperando aquele gesto.

Ainda há partes em mim que hostilizam as mulheres.

 

Hoje eu consigo bloqueá-las, mas ás vezes elas furam o bloqueio e me vem um sentimento de animosidade, de hostilidade contra as mulheres.

 

Fico refletindo para identificar em mim de onde vem essas reações.

Observo que são partes de minha infância e da minha adolescência.

 

A "mulher" significa sexo para algumas partes de mim. E sexo para minha infância e adolescência era algo sujo, impuro, proibido e que faz com que Deus se afaste de mim.

 

Por isso devo evitá-lo e para isso é necessário evitar as mulheres.

 

O sonho destas partes de meu corpo é viver num mundo sem mulheres, porque aí não haverá perigo da perda da Graça de Deus em minha vida.

 

Quando criança veio a ordem de que sexo era uma coisa errada.

 

Eu penso, agora adulto, como pode ser errado algo que nos dá prazer... Se fazer sexo é errado, por que ele existe?

 

Os adultos censuravam o sexo para nós crianças, porém eram dele praticantes.

 

Na adolescência, sexo era proibido por causa da gravidez. Então, para evitar a gravidez se proibia o fazer sexo.

 

E se tínhamos o impulso sexual aflorando, sentiamo-nos culpados.

 

Criou-se um bloqueio onde a mulher era o símbolo da perdição, da perda da Graça Divina, porque ela nos leva ao sexo. E o sexo nos leva para longe de Deus.

 

Odiava o sexo, e depois passei a odiar as mulheres, porque elas simbolizavam o sexo.

 

Durante a idade adulta, tomei conhecimento de vários casamentos que não deram certo. Casamentos que se transformaram em lutas de raiva e ódio. Algemavam-se em sentimentos de vinganca, pela posse dos filhos.

 

Então casar-se e não ter filhos era o ideal para se evitar contendas, quando o casamento terminasse".

 

Eu fiz questão de pôr o texto sem emitir minha opinião para que cada um de vocês meditem nas palavras e principalmente nas conclusões que ele constrói, a partir dos fatos que viveu ou observou em sua existência.

 

Ele foi na infância assediado e usado sexualmente pelo próprio pai.

Formou-se engenheiro, muito inteligente exerceu essa função em autarquias até ser diagnosticado esquizofrênico.

 Então aposentou-se.

 

Cuidou da mãe e do pai até a morte com extremo zelo, respeito e carinho.

 

Nunca mencionou nada em relação ao pai, eu soube disso por uma parente e por intuição que é minha ferramenta de revelação e percepção em minha atividade terapêutica.

 

Interessante. Ele dizia; "ontem consegui levar meu corpo para o curso de médiuns, no CE".

 

Várias vezes ele falava, enfezado; não pude ir, derramei café na roupa, fiquei com dor de barriga, tive uma sensação estranha na cabeça um sinal, sei lá..."

 

Será que já não tivemos sensações desse tipo, em nossa "suposta" normalidade mental?

 

O prof. Hermínio Miranda no seu.livro Autismo levanta essa questão da normalidade mental humana e o Autismo.

 

Hoje não atendo mais esse cliente, após alguns anos de terapia conseguiu sua autonomia.

 

Hoje, leva seu corpo para onde quer ir. No coral, no cinema, nos cursos de Espiritismo. Ele se deu alta. Aceitei com alegria e a certeza do dever cumprido.

 

Ele segue uma vida ética, espiritual e socialmente equilibrada.

Convive com mulheres, crianças e desenvolve padrões de amizade com qualquer tipo de pessoa sem restrições

 

E guarda, com carinho e respeito, até quando esteve em terapia comigo, a caixinha com o pó do corpo do pai.

 

Texto Revisado