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O apego incontrolável

Publicado por Bel Cesar em Espiritualidade

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O apego é a etapa seguinte ao desejo. Ou seja, há uma diferença entre sentir um desejo e estar apegado a ele. Esta informação pode parecer óbvia, mas nela há uma informação importantíssima para superarmos a dor do apego: ele é uma intensificação do desejo, mas não é em si mesmo desejo!

Em geral, não compreendemos esta distinção entre desejo e apego e por isso nos tornamos prisioneiros de nossos desejos. Quando somos movidos pelo apego ficamos rígidos: perdemos a habilidade de nos mover, pois uma vez apegados não estamos disponíveis às mudanças. Somente quando superarmos o apego é que nos tornamos livres para escolher o que faremos com a energia do desejo em nossa mente!

Estar desapegado é estar mais solto e menos preocupado. Para tanto, não é preciso renunciar a tudo, mas sim ter uma relação - mais relaxada e não tensa - com os mundos interno e externo. Renunciar significa não estar mais sob a influência de alguém ou daquilo que se deixou.

Se pararmos para analisar nossas atitudes cotidianas, iremos constatar que grande parte delas estão condicionadas ao apego. Temos apego à nossa auto-imagem, ao nosso status social, às pessoas de nosso convívio, sem dizer o quanto somos apegados ao nosso corpo que envelhece todos os dias...

De fato, podemos ficar chocados ao perceber o quanto estamos presos a esta atitude que nos impede de lidar com a realidade que surge a cada momento. No entanto, o budismo não quer nos incutir culpa ou mal-estar ao nos apontar uma atitude errônea. Mas sim, nos alertar para o fato de que o apego é uma atitude mental que precisa ser reajustada. Caso contrário, iremos sempre sofrer. Por exemplo, quando o amor está contaminado pelo apego logo sentimos ciúmes, medo de perder a pessoa amada.

Desta forma, associamos a experiência de amar ao fato de nos sentir presa a ela. Assim, quanto mais amarmos, isto é, quanto mais apego sentirmos, mais inquietos ficaremos.

O apego não nos deixa relaxar. Isto acontece porque confundimos o amar com o fato de nos sentirmos apegados. No entanto, intuitivamente sabemos que amar é uma experiência positiva, que nos acalma, enquanto o apego faz de nós pessoas inseguras e agitadas.

Neste sentido, saber o que nos faz bem e o que nos torna pessoas desequilibradas já é um bom passo para caminharmos em direção à nossa sabedoria discriminativa.

Os ensinamentos budistas constantemente nos alertam: as qualidades que projetamos sobre os objetos, situações ou pessoas por quem sentimos tanto apego são criadas em nossa própria mente. Resistimos a acreditar que elas não existem independentes de nossas projeções!

O apego surge quando atribuímos qualidades falsas ou exageradas a um objeto, situação ou pessoa. Exaltamos as qualidades e negamos as imperfeições. Iludidos pelas nossos próprias idealizações, nem consideramos o fato de que o objeto em si pode não conter estas qualidades. Exageramos de tal modo que nos esquecemos que somos nós quem atribui valores a este determinado objeto. Esquecemos de tal forma que chegamos ao ponto de acreditar que só ele poderá nos satisfazer. É uma loucura, mas é isso mesmo que fazemos: damos qualidades exageradas aos objetos, situações e pessoas e depois pensamos que não podemos viver sem eles!

Portanto, para mudar nossa atitude frente a um objeto de apego, temos que mudar nossa maneira de nos relacionarmos com ele. Podemos começar por reconhecer que estamos exagerando, intensificando o desejo. Por isso, precisamos primeiro observar a nossa mente e não dar tanta ênfase à situação à nossa volta.

Não podemos confundir desapego com desinteresse pela vida. Desapego é ter a capacidade de relacionar-se com mais espaço, flexibilidade e liberdade. O antídoto do apego é a mente que se dá por satisfeita. Reconhecer a satisfação é um sério desafio em nossa sociedade materialista.

Desapego não significa estar desligado do outro. Ao contrário, quanto mais desapegados formos numa relação, mais responsabilidade teremos por nossas atitudes mentais em relação ao outro. Isto é, quando nos responsabilizamos por nossos sentimentos, liberamos o outro de nossas expectativas insaciáveis. Ao passo que nos compromissamos com o processo de autoconhecimento, aumentamos o sentimento de respeito pelo outro. Por amá-lo, queremos poupá-lo das neuroses de nosso apego. Amar, segundo o budismo, é o desejo de ver o outro feliz. Neste sentido, liberá-lo de nossos medos e manias já é um bom modo de contribuir para a sua felicidade...

Última atualização em 21/8/6

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Sobre o autor
bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
Email: [email protected]
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