Você sente com freqüência que está absolutamente certo
?
Existe um universo excludente: o do ponto-de-vista de cada um.
A partir deste nosso tão estimado mirante pessoal ( aliás o CERTO
) não somos capazes de ver o OUTRO como outro EU, com características
próprias e funcionamento peculiar - não ! -. Tendemos a vê-lo
sob nossos próprios pontos de vista o que dificulta qualquer compreensão
para a realidade da existência do OUTRO, como diferente de nós mesmos.
Quantas vezes nos decepcionamos, impacientamos e brigamos com o outro pelo fato
dele não ter se comportado como nós o faríamos se estivéssemos
na mesma situação ???
Com isso estamos defendendo e reafirmando o que achamos certo, o que se deve fazer
em situações semelhantes. Contudo nos esquecemos que os mundos de
referência dos valores do OUTRO não são idênticos e
não geraram conclusões semelhantes nas ADAPTAÇÕES
EU/MUNDO do OUTRO.
O "certo para o OUTRO," em uma determinada situação pode
ser completamente diferente do modo como o vemos a partir de nossos pessoais pontos
de vista e, em assim sendo, não o compreendemos, não aprendemos
com ele, não o aceitamos e mesmo questionamos, ainda que não haja
certeza alguma em que possamos apoiar nosso pessoal ponto de vista. Ainda assim
agimos como se este fosse dotado de validade universal e de conotação
indiscutível.
O problema é de percepção antes de ser de consciência,
é de conflito entre robôs de programação diferente
ou incompatível, mais do que de consciência maturada, experiência
de vida ou firmeza de convicções.
O que chamamos de REALIDADE é o mundo real mais o que projetamos nele.
Vivemos na nossa REALIDADE e não apenas no mundo real. Portanto, psicologicamente
falando, não vivemos no mundo real. Tomamos uma parte dele ou, melhor dizendo,
somente as partes que nos são mais agradáveis e o reconstruímos
baseados em nossas próprias premissas e necessidades. Enquanto o fazemos
nutrimos a convicção de que o real que experimentamos corresponde
exatamente à realidade. Desta verdade psicológica nasceu a noção
jamais comprovada da objetividade.
É preciso derrubar de vez a idéia, o mito de que vejamos as mesmas
coisas e de que o mundo o percebido seja o mesmo para cada um de nós. Nossa
real subjetividade e o enorme poder que emoções, afetos, medos,
desejos e interesses têm para interferir na nossa percepção
e nos resultados dela ( o mundo conforme visto aos nossos olhos).
Duas pessoas podem comungar o mesmo apartamento e ele objetivamente falando tem
XY m² , o mesmo endereço e telefone, uma sala, dois quartos grandes
e um closed; e assim por diante, mas...
>>> para UM do casal, o apartamento é o lugar para receber bem
os amigos, fazer festas onde todos se sintam à vontade ( sem estas coisas
chatas de formalismos e preocupações com coisas ) e eles - os amigos
- devem aceitar de bom grado qualquer imperfeição ou falha possível,
pois são verdadeiros amigos e estes compreendem tudo ( inclusive a ocasional
falta de um sofá, a falta de um tapete ou o apertado da sala de estar ):
Nenhum dos meus amigos liga, nem vai reparar nisso !
>>> Para o OUTRO do casal receber é um sofrimento, especialmente
se a sala está incompleta, se faltam cortinas, se o sofá da sala
de TV, que é muito pequeno, tem que ser deslocado para a sala de estar,
que nem um tapete ainda tem; e se, principalmente, todos ( certamente ! ) estão
percebendo e condenando isso. Na percepção deste, esta casa é
um lugar de intimidade e recolhimento e não pode, nem deve, ser invadido
por ninguém que não seja íntimo do casal, por isso é
tão importante que eles venham cada um à sua vez, para que se crie
intimidade primeiro:
É horrível nos relacionarmos com quem ainda não conhecemos
bem !
por Luís Vasconcellos
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Sobre o autor
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.