Polaridades são a divisão básica da energia primordial em
duas facetas de si mesma. Apareceu na natureza desde sua estruturação
e formação materializando-se em milhares e milhares de "formas
complementares" como macho e fêmea, dia e noite, ativo e passivo, elétrico
e magnético, simpatia e antipatia, estimulação e sedação,
ação e reação, agressão e inibição,
caçador e caça, coragem e medo, enfrentamento e fuga, atividade
e inércia, pra fora e para dentro, interior e exterior, aberto e fechado,
yin e yang, luz e sombra, consciente e inconsciente, eu e os outros, sujeito e
objeto, e assim por diante.
Pode-se dizer que toda a estrutura de nosso mundo material é bi-polar.
Os orientais chamavam à maneira uni-polar de percepção do
mundo que usa-mos, de "ilusão", de "campo das mil formas
de perdição", de Maia. Tendemos a sentir, agir e pensar de
forma unipolarizada, identificando-nos com uma metade da totalidade e negando
a outra. Nossa história de ser, de pensar , de sentir e de agir é
unidimensional. Aceitamos e amamos aquilo com o que estamos IDEN-TIFICADOS e APEGADOS,
vice-versa RENEGAMOS e DESGOSTAMOS tudo aquilo que, reprimido e negado em nós
mesmos, acaba constituindo nossa SOMBRA PSICOLÓGICA.. Cada EGO enclausurado
em sua campânula de auto-reflexão não atinge a realidade da
presença e da significação do OUTRO, alienando-o em causa
própria. Deste modo, o OUTRO, nunca tem razão, nunca merece respeito,
nem tem qualquer valor ou significação real para o EU. Dar razão,
concordar, baixar a guarda, submeter-se ou dar o braço a torcer são
comportamentos inadmissíveis para algu-mas pessoas, enclausuradas em suas
campânulas de auto-reflexão narcisística. O que fica e prevalece
sobretudo para estas é o medo, a insegurança, o temor de entregar-se
e vir a sofrer por este motivo. Em nossa experiência de vida, sem dúvida
há muitos exemplos e casos em que alguma pessoa nos traiu, nos deixou na
mão, levou todo o dinheiro, falou o que não aconteceu, deu falso
testemunho e assim por diante. Fazer dessas evidências um único e
totalitário critério de avaliação e de percepção
de todos os outros é problema de quem assim sente, age e faz... e não
do mundo, ainda que a experiência corrobore a necessidade de resguardo contra
o OUTRO. Não tememos necessariamente o novo ou o desconhecido, mas a repetição
de sofrimentos experimentados no passado.
Faz-se hoje em dia extremamente necessário demonstrar que no mais das vezes
é um MECANISMO que TEM SUAS PRÓPRIAS LEIS aquele que comanda nossos
atos, sentimentos, valores, opiniões etc. (em termos de polaridades), nas
interações de paixão, de amor, de simpatia - mas também
nas antipatias, ódios ou negações - MECANISMO INCONSCI-ENTE
que, enquanto tal, nos domina.
Nossa única chance de influir sobre este MECANISMO é conseguir a
maior consciência possível de sua ação, para podermos
agir em suas etapas e ajudar a definir os seus resultados.
Precisamos exercitar a consciência para poder perceber quando se instala
o robô em nossos atos, quando ele assume o controle de nossas res-postas
e reações ao meio e a maneira como nossos atos tornam-se "adaptativos"
e "naturais", o que quer dizer automáticos / inconscientes. Exemplo
disso em RELACIONAMENTOS é o diálogo de surdos, as brigas que sempre
têm previsíveis começos, rotineiros modos de se desenrolar
e finais conhecidos de todos; de tal forma que fica evidente - para quem cumpre
um papel no conflito - que "tudo se repete e nada leva a solução
alguma".
Hoje é premente a necessidade de percebermos a ação dos PERSONAGENS
que assumimos em nossas interações homem / mulher, na profissão,
no local de trabalho, na família e assim por diante. Além de perceber
é imprescindível dar uma nota pessoal aos mesmos, para que não
sejamos vítimas do processo inconsciente de submissão aos PER-SONAGENS
socialmente PRESCRITOS ou ADQUIRIDOS, com a conseqüente repressão
da INDIVIDUALIDADE.Cada pessoa quando se define como um EU, acolhe e reúne de modo mais ou
menos particular um conjunto considerável de IPEs ( Identificações
Parciais do Ego - quebra do par de opostos ). Depois, com o "auxílio
inestimável" da família e da cultura, a pessoa é levada
a identificar-se com um conjunto "particular" de IPEs ( que configuram
seu grupo, seu país, sua raça etc.) e também é guindada
a repetir e a responsabilizar-se pela continuidade de seu funcionamento dentro
das IPEs que constelou em seu EU. A este especial e quase particular conjunto
de IPEs, damos o nome de EGO CONSCIENTE, apesar dele abarcar uma perímetro
mais ou menos abrangente de camadas inconscientes (o INCONSCIENTE PESSOAL), facilmente
identificáveis por respostas emocionais repetitivas frente a estímulos
ou situações semelhantes, afetos que sempre "engolem"
o EU e se mostram "dominantes da percepção e do estado emocional
reinante", suposições quanto ao mundo, pressentimentos conscientemente
projetados, medos inexplicáveis ou injustificados etc. Não é
necessário perder muito tempo em demonstrar a eficácia e a realidade
destas camadas do INCONSCIENTE PESSOAL. O que importa, em termos funcionais, ao
EGO CONSCIENTE é considerar que o mesmo se apropria de categorias e preceitos
de natureza coletiva, amalgamando de forma mais ou menos coerente os valores e
percepções adquiridos pela sua própria experiência,
identifi-cando-se e apegando-se àquilo que "faça sentido"
- maior ou menor, aos seus olhos e, ao mesmo tempo, para sua maior segurança,
buscando encontrar maneiras de justificar / julgar / explicar sua "coerência"
no correspondente conjunto de crenças e de valores cultural / individualmente
adquiridos. Modernamente faz-se, mais que nunca, necessária a consciência
de que o número de PAR-TES ( Peculiaridades, especializações,
idiossincrasias, manias, obsessões etc.) cresceu em maior proporção
do que a capacidade de um indivíduo integra-las em TODOS SIGNIFICATIVOS.
Há uma interdependência e uma correspondência entre os papeis
sociais estabelecidos. O Algoz "pressupõe" uma Vítima,
O Mestre um Discípulo, o Poderoso um Impotente ... Sendo este um dos exemplos
mais identificáveis da ação inconsciente das POLARIDADES
em nossas vidas de relação.
A repressão e supressão dos sentimentos faz com que hoje tenhamos
uma completa e perigosa deterio-ração dos vínculos conjugais,
da amizade, da lealdade, das liga-ções de fé ( não
fanáticas - não devotas ), das comunhões de ideais e assim
por diante. Na ausência da função SENTIMENTO temos como conseqüência
a "solidão no meio da multidão", com as pessoas isoladas
umas das outras, sem nada para comungar, sem sentir apoio ou consideração
uns pelos outros. Outra conseqüência bastante comum é a perda
do sentido de privacidade e a repressão / negação da experiência
profunda da intimidade ou do segredo, dentro do âmbito individual. Chamamos
a este processo de ATOMIZAÇÃO do HOMEM, na medida em que os "átomos"
deixem de se sentir per-tencentes às moléculas e se vejam soltos
no espaço sem seus naturais pontos de referência emocional (Cônjuge,
amizades, família, companheiros).
Para tanto são exigidas muitas informações sobre POLARIDADES,
erguendo pontes entre um EU e o OUTRO EU, conscientizando Pa-péis e Personagens,
percebendo e acompanhando a dinâmica da repressão aos Instintos com
a conseqüente perda da graça e da espontaneidade.
É de suma importância poder descrever e entender os mecanismos inconscientes
que estão na base da experiência de relação.
por Luís Vasconcellos
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Sobre o autor
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.