A doença

Foi em 1.986, mais um plano econômico, o Cruzado. Impossível esquecer. Congelamento de preços. Todo mundo comprando feito louco, mas todo mundo sem estoques, sem poder importar. As matérias primas acabaram logo ou eram vendidas com preço alterado; melhor, o preço da fatura idêntico, mas o peso ou a quantidade a menos. Funaro e Sarney ameaçavam mandar prender quem aumentasse os preços…lembro dos fiscais tentando inutilmente encontrar os pobres animais no pasto. Na empresa vendíamos 20 e entregávamos 10 maquinas por mês, a preço tabelado. Eu estava pior que uma velha panela de pressão com a válvula se segurança danificada.
Um dia, sem mais nem menos, meus olhos ficaram amarelos, minha urina parecia Coca Cola e as fezes tinham ficado brancas. Isso já tinha acontecido antes comigo, em 1972, no Rio de Janeiro.
Hepatite. Tipo A. (A outra foi pior, tipo B).
Desespero total: teria de ficar de cama por um bom período, deixando a firma na mão de subalternos… o caos. E eu sem poder sair da cama!

Acabei descobrindo que mais uma vez o mundo não iria parar por minha causa e que as coisas continuaram a acontecer de uma forma previsível em função das circunstancias do momento. Mas o que aconteceu foi que "alguém" finalmente tinha desligado o bendito interruptor (Sabe aquele disjuntor das cadeiras elétricas?).

Não teve jeito. O tempo não passava, mas eu não podia fazer nada, um filme no vídeo, um pouco de TV, muita tristeza por estar fora de ação. E no começo lembro que não tinha paciência de ler mais que as noticias no jornal.
Aos poucos, porém, comecei a relaxar, a diminuir o ritmo mental, a reduzir meu nível de Stress que era elevadíssimo. Comecei a perceber que algo estava para acontecer mas ainda não sabia de que se tratava. Comecei a me lembrar dos primeiros sonhos. As minhas percepções estavam se tornando mais sutis, mais profundas. Acho que finalmente estava descobrindo que tinha de verdade uma luz no fim do túnel. Estava começando a verdadeira mudança.
Bendita doença!