O grande roubo da nossa genialidade
Autor Rodolfo Fonseca
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 22/10/2025 14:42:51
No início da década de 1960, em plena corrida espacial, a NASA percebeu que para levar o homem ao espaço não bastavam apenas engenheiros disciplinados e matemáticos brilhantes. Era preciso recrutar mentes criativas, capazes de resolver problemas inéditos, daqueles que não estavam nos livros nem tinham resposta pronta.
Para isso, a NASA contratou em 1968 o Dr. George Land e a pesquisadora Beth Jarman. Eles deveriam desenvolver um método científico capaz de medir o potencial criativo das pessoas, algo diferente do tradicional teste de QI, que mede apenas lógica e memória.
Land e Jarman definiram criatividade como a capacidade de gerar ideias novas, inesperadas e úteis para resolver problemas.
Com essa definição, criaram um teste simples de pensamento divergente: em vez de buscar a resposta certa, as pessoas eram estimuladas a propor múltiplas soluções possíveis para a mesma questão.
Esse teste poderia ser aplicado em qualquer idade, inclusive em crianças muito pequenas.
Para validar o método, eles aplicaram o teste em 1.600 crianças de 4 a 5 anos de idade. O objetivo era acompanhar o desenvolvimento delas ao longo do tempo e verificar como a criatividade evoluía com a idade.
Os resultados foram surpreendentes:
. 5 anos de idade: 98% das crianças foram classificadas como altamente criativas (nível de gênio).
. 10 anos de idade: apenas 30% mantinham esse nível.
. 15 anos de idade: caiu para 12%.
. Adultos (mais de 280.000 pessoas testadas com média de 31 anos): só 2% apresentavam a mesma genialidade criativa.
A pergunta inevitável é: quem está roubando nossa genialidade?
O próprio Land ficou chocado. Para ele, não nascemos "burros" e depois ficamos inteligentes, mas o contrário. Nascemos com a genialidade criativa intacta e, conforme crescemos, ela é apagada por condicionamentos sociais e educacionais.
Em suas palestras costumava dizer: "Nós não aprendemos a ser criativos. Nós desaprendemos a ser criativos."
Ele apontava a escola como principal fator: treinamos as crianças a buscar "a resposta certa" em vez de explorar possibilidades. Com isso, a mente criativa, fluida e imaginativa, vai sendo substituída por uma mente condicionada a obedecer, julgar e se encaixar.
Mas sejamos honestos: a escola é apenas a face mais visível de um problema muito maior. Vivemos em um sistema que premia obediência e pune ousadia. Aprendemos desde cedo que pensar diferente é arriscado, que questionar incomoda, que a resposta certa é sempre a que já foi aprovada. Em outras palavras, somos treinados a repetir, não a criar.
Mas se olharmos mais fundo, perceberemos que não é apenas a escola que faz isso. Toda a sociedade está estruturada para padronizar comportamentos, reduzir o inesperado, podar a individualidade.
Não é curioso que admiramos quem ousa ser diferente, mas passamos a vida inteira tentando ser iguais?
Oscar Wilde dizia: "Se você escolher ser algo como comerciante, político, juiz, inevitavelmente se tornará isso, e essa será sua punição."A punição está justamente em se reduzir a um rótulo. Quando nos deixamos definir por um papel social fixo, deixamos de ser todo o resto que poderíamos ser. Essa é a prisão invisível que o sistema nos oferece como recompensa: estabilidade, segurança, identidade fixa. Mas segurança demais é apenas outro nome para controle.
E como no filme Um Sonho de Liberdade, muitos de nós nos acostumamos tanto à prisão que, quando temos chance de ser livres, sentimos medo. Queremos voltar ao "conforto conhecido", mesmo que ele seja uma cela. Se apenas 2% conseguem preservar sua genialidade criativa, não é porque nasceram especiais. É porque ousaram permanecer diferentes quando tudo ao redor gritava para que se tornassem iguais.
Seguir o próprio caminho exige coragem, e mais do que isso, exige amor próprio. Porque só quem se ama o bastante é capaz de suportar as críticas, o medo e até a solidão de andar por uma estrada que quase ninguém escolhe.
O mundo chama isso de loucura. Eu chamo de liberdade.
A verdadeira inteligência não é acumular certezas, mas manter-se aberto à mudança. Como Einstein dizia: "A medida da inteligência é a capacidade de mudar."
A mente do iniciante, aquela que vê possibilidades porque ainda não sabe o que é impossível, é o estado natural da criança. E talvez o segredo do autoconhecimento seja justamente reaprender a olhar a vida com esse frescor, com essa abertura.
Não se trata de voltar a ser criança, mas de recuperar a essência que fomos forçados a enterrar.
Mas se você sente que perdeu a criatividade, saiba que ela não morreu. Apenas foi abafada por camadas de condicionamento, medo e conveniência. E é exatamente aí que começa o trabalho do autoconhecimento: remover, pouco a pouco, cada camada que não é você, até reencontrar aquela centelha original que te fazia único.
No fundo, sua maior genialidade é ser você mesmo, porque autenticidade não tem concorrência.









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