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É possível perder sem se perder?

por Rosemeire Zago em Corpo e Mente
Atualizado em 05/02/2009 15:04:39


Com o fim de um relacionamento, sempre nos sentimos perdendo praticamente tudo, a esperança, o amor, os sonhos, as idealizações; parece até que perdemos a vida, pois nada mais faz sentido. Nos perguntamos para que viver, se quem acreditamos que fosse viver para sempre ao nosso lado, se foi? Nos perguntamos em que ponto nos perdemos do outro, para que a separação tenha se tornado uma realidade da qual temos muita dificuldade em suportar. Cada um com certeza terá suas próprias respostas, as quais dificilmente coincidem umas com as do outro. Quem tem razão? Os dois? Quem sabe... Mas geralmente nos perdemos do outro no exato momento em que nos perdemos de nós mesmos.

Só quem viveu ou vive uma separação sabe a dor que ela provoca. São tantos os questionamentos, são tantas perguntas sem respostas... Podemos responder todas as perguntas que gostaríamos de ter feito ao outro, mas só teremos hipóteses e raramente responderemos corretamente. Nem as nossas próprias perguntas conseguimos responder, quem dirá responder pelo outro...
O tempo! Ah, dizem que o tempo pode curar feridas, responder perguntas. Mas como conseguir esperar que ele passe? Os minutos, que antes voavam, parecem ter se transformado em horas; as horas, em dias... tamanho é o sofrimento. Quando estamos bem e alegres, as horas voam e sequer percebemos. Mas, quando estamos sofrendo... tudo parece se potencializar e se intensificar.
Mas por que nos perdemos quando perdemos alguém? Por que usamos o termo perder? Será que nada ganhamos? Claro que, assim que acontece, nem em pensamento conseguimos perceber algum ganho. Mas se uma relação termina é porque algo não ia bem, ao menos para um dos envolvidos, ou para os dois, mas nem sempre os dois sentem da mesma maneira, cada um tem uma leitura diferente do que acontece. Por que temos que nos dilacerar com nossas dores, permitindo que atinja nossa própria alma? Onde estão os recursos que podem nos fazer e, principalmente sentir, tudo menos intenso?

Os recursos, as respostas, praticamente tudo está sempre dentro de nós, mas às vezes, as próprias lágrimas nos impedem de enxergar, as palavras que ainda soam em nossa mente não nos permitem ouvir nossa própria voz e assim continuamos a nos distanciar de quem já nos tornamos desconhecidos: nós mesmos! É nesse momento que o abandono dói muito mais, não só pelo fato de alguém ter ido embora, mas porque já nos abandonamos há muito mais tempo. Talvez não seja momento de ficar fazendo perguntas das quais não teremos respostas, porque quem as poderia dar já está longe, mas voltar a atenção para nossa própria vida e nossa forma de conduzi-la e também a maneira que conduzimos nossos relacionamentos.

Será que cuidamos do relacionamento que não existe mais como realmente acreditamos que deveria ser cuidado? Demos ouvidos aos nossos próprios pedidos ou ficamos sempre esperando e idealizando que o outro viesse para satisfazer nossas necessidades, muitas vezes inconscientes para nós mesmos? E se ele não conseguia nos satisfazer, por qual motivo continuamos tanto tempo ao seu lado? Esperando que mudasse? Que acordasse diferente e que fosse, como um dia ele próprio nos fez acreditar que seria? Mas será que não ignoramos as infinitas atitudes que não eram coerentes com as palavras?
Podemos viver esse momento de dor, sofrendo, chorando, nos escondendo dentro de um quarto escuro, ou podemos transformá-lo num momento de crescimento próprio, elevando nossa espiritualidade, aprendendo com os próprios erros. E quantos não cometemos?
Não, nada de culpas, pois elas não geram crescimento algum, só nos fazem ficar no papel de vítima e na busca por culpados. Devemos nos responsabilizar também por esse término, ainda que seja o outro que tenha tido a atitude de ir embora, nós participamos dessa decisão, por mais que isso possa nos machucar ainda mais. Confrontar a realidade nem sempre é o mais fácil, por isso tendemos a fugir; algumas vezes negamos os nossos mais sagrados sentimentos com o intuito de quem sabe, sofrermos menos. Mas isso se torna em vão quando não olhamos para dentro de nós, pois por mais que possamos fugir por alguns dias, horas, algumas pessoas por anos, não poderemos fugir para sempre do que está dentro de nós.

E afinal, o que sobrou além da dor? Algumas pessoas podem responder que nada sobrou, mas será? Como era sua vida antes desse relacionamento existir ou essa pessoa entrar em sua vida? Pior, ou melhor, do que é hoje? Tudo sempre tem um sentido para existir e também um sentido por ter acabado. Qual é o aprendizado disso tudo? Deve existir algum, ainda que não consiga perceber qual seja. Se alguém se afastou de você talvez seja porque você também não correspondeu ao que o outro esperava, como ele também não ao que você esperava, por mais que nesse momento negue isso. E será que continuar a viver assim iria fazê-lo feliz? É possível um estar feliz sem que o outro esteja? Amor não é troca? Havia troca na relação ou uma das partes se dava mais que a outra? Tantas coisas para pensar...

Pare, pense, reflita, analise, chore se tiver vontade, volte, se sentir que ainda há amor; mas não se afaste de sua essência, ainda que isso lhe custe ficar só, ou melhor, não estará só se ficar consigo mesmo, e isso só depende de você! Por isso, por mais que esse momento esteja doendo muito, não se abandone, mas use todo seu amor para curar sua dor!



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zago
Rosemeire Zago é psicóloga clínica CRP 06/36.933-0, com abordagem junguiana e especialização em Psicossomática. Estudiosa de Alice Miller e Jung, aprofundou-se no ensaio: `A Psicologia do Arquétipo da Criança Interior´ - 1940.
A base de seu trabalho no atendimento individual de adultos é o resgate da autoestima e amor-próprio, com experiência no processo de reencontrar e cuidar da criança que foi vítima de abuso físico, psicológico e/ou sexual, e ainda hoje contamina a vida do adulto com suas dores.
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