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Matrix Forever - Parte 1

por Acid em Espiritualidade
Atualizado em 22/10/2004 14:45:07


O filme Matrix apareceu do nada, sem merchandising (que contribuiu para que o filme obtivesse uma aura cult, de filme de arte, muito embora fosse um filme de entretenimento.) algum(*) e que causou uma mudança de paradigma no cinema: um filme de ação feito para pensar (e por muito tempo!). É verdade que tivemos um esboço de filosofia com filmes como O Exterminador do Futuro 2, e mesmo em Guerra nas Estrelas, mas eles só arranhavam a ponta do iceberg em relação aos meandros da mente e nossas ações no macrocosmo, que desta vez foi a base do roteiro de Matrix.

Guerra nas Estrelas se tornou praticamente um culto com frases como a do Mestre Yoda:
"Pois minha aliada é a Força. Uma poderosa aliada ela é. Ela cria a Vida, e a faz crescer. A sua energia nos envolve e nos une. Seres luminosos nós somos, não essa matéria rude. Você deve sentir a Força à sua volta. Aqui, entre você... Eu... A árvore... A rocha... Em todo lugar! Sim, até mesmo entre este solo e aquela nave!".

Então surge Morpheus com seus óculos redondos como os de Jung e vai mais fundo na nossa relação com o infinito:
- "A Matrix está em todo lugar, à nossa volta. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para que você não visse a verdade.
- Que verdade?
- Que você é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro... Nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar. Uma prisão para sua mente".

Mas não confundam a Matrix com a Força. Yoda nos dá a dica (nas entrelinhas) de que não somos o que aparentamos, e que há algo mais do que podemos perceber.
Já Morpheus diz isso com todas as letras. "Isso é besteira de filmes pra enganar trouxas", você pode dizer. Mas esses ensinamentos não foram criados por roteiristas à procura de alguma grana, e sim pelas mentes mais iluminadas que já passaram pela Terra:

Eu sou a luz que está sobre todos eles. Eu sou o Todo. De mim surgiu o Todo e de mim o Todo se estendeu. Rachai um pedaço de madeira, e eu estou lá. Levantai a pedra e me encontrareis lá. (Jesus, no evangelho de Tomé)

Eu sou a fragrância da Terra, eu sou o brilho do fogo, eu sou a vida de todos os vivos;
Sou o Espírito que reside em todos os seres;
De todas as criações sou o começo e o fim e também o meio;
Das letras, sou o A, nas palavras, a conjunção;
Sou o tempo perdurável e Aquele cuja face se volta para todas as partes;
Sou a morte que tudo arrebata, sou a origem das coisas futuras.

(Krishna, no Bhagavad-Gita)

O segredo do Aikido é harmonizar-nos com o movimento do universo e nos colocar em relação direta com o universo em si. Quando um inimigo tenta lutar comigo - o universo em mim mesmo - ele terá que quebrar a harmonia do universo. No momento em que ele se decidir lutar comigo, já estará derrotado. (Filosofia Aikido)

O Iluminado tem o poder de controlar a Matrix, assim como Neo, mas ele realmente não precisa controlá-la, porque é UM com ela, e FLUI por ela (mas não se confina nela). Ele está dentro, e ao mesmo tempo fora da nossa "realidade". Ele "lê" os códigos da Matrix, por isso sabe o que vai acontecer e como interagir com ela.

O filme é de uma inteligência única na história do cinema: Conseguiu trazer para o inconsciente coletivo dos ocidentais o que dois mil anos de doutrinas orientais não conseguiram. Claro que toda a mensagem está cifrada, e misturada com efeitos especiais e ação. Mas está lá... Uma cena emblemática do filme é a do garoto budista que segura uma colher, e ela começa a entortar. Neo olha curioso, e o garoto lhe diz: "Não é a colher que entorta, e sim você. Não há colher".

Bem, a colher foi só um exemplo pra causar o efeito "uau" que causou. Há um ditado chinês que diz "Quando o sábio aponta pra lua, o tolo olha apenas para o dedo". Quem ficou pensando apenas no poder de entortar uma colher perdeu a verdadeira revelação da cena que é: se você segue o caminho do meio (ações corretas, pensamento correto, enfim, é uma pessoa correta) o mundo pode desabar ao seu redor e você não será afetado. Pode até morrer, mas o seu "eu" não será (Gandhi disse certa vez: Vocês podem me acorrentar, me torturar; podem até mesmo destruir o meu corpo, mas nunca irão aprisionar a minha mente.) afetado(*).

Para provar, vamos substituir, no diálogo original, a palavra "colher" por "mundo" e "entortar" por "mudar":

Garoto: Não tente mudar o mundo. Isto é impossível. Ao invés disto tente perceber a verdade.
Neo: Que verdade?
Garoto: Não há mundo.
Neo: Não há mundo?
Garoto: Então você verá que não é o mundo que muda, e sim você mesmo.

Esse conceito não é novo. Há 1.300 anos, no Templo Fa Shin, dois monges discutiam:
- A bandeira está se movendo!
- Não, é o vento que está se movendo!
Como eles não conseguiam chegar a um acordo, (Enô, o Sexto Patriarca Zen da China (638-713).) Hui-Neng(*) apareceu e disse aos dois:
- É a mente de vocês que está se movendo!

O mundo não nos faz. Nós é que o fazemos.

Depois do sucesso do filme, várias pessoas e escolas esotéricas se debruçaram sobre cada cena, esmiuçando cada detalhe que pudesse ser relacionado com os ensinamentos dos livros outrora esquecidos em alguma prateleira empoeirada. Apesar de ter surgido muita viagem na maionese, tudo era válido, pois o filme se tornou um "veículo pop", uma interface rápida e direta para repassar conhecimentos milenares (que até há pouco tempo eram apenas para alguns "iniciados") para a nova geração. Coisas que talvez os diretores nunca tenham pensado, mas estão lá, representadas graficamente:Na primeira metade de Matrix, Neo não usa o famoso sobretudo. Quem o usa é Morpheus, que, como um mestre, ensina Neo a se adaptar à sua nova realidade. Quando Neo assume as rédeas do destino e decide ir salvar Morpheus, se apresenta com o sobretudo - que no oriente é como um manto sacerdotal que visualmente representa o mestre. Nesse momento, ele passa a ser o THE ONE (O Escolhido), embora ele mesmo ainda não se dê conta disso. E nesse mesmo momento surge o equilíbrio: Trinity (Shakti, a energia feminina, passiva, Yang) diz que é a comandante e baixa logo o fogo de Neo (Shiva, a energia masculina, ativa, Yin) que queria ir sozinho.

Já dentro do prédio, eles chegam juntos e se separam, cada um para um extremo, para fazerem sua "famosa matança em estilo acrobático" e voltam a se encontrar mais na frente, assim como os canais de energia (Ida e Pingala) percorrem em arco os extremos do tórax para se encontrarem nos chakras (como representado no caduceu de Hermes). Procurando informações detalhadas sobre essas energias me deparei com um trecho do Jornal Infinito que sem querer praticamente descreve a cena do tiroteio, de forma poética: "Shiva e Shakti, a energia masculina e feminina, dançam no corpo do homem e na sua mente quase toda a existência, criando e destruindo até encontrar a unidade, onde o conflito desaparece".
Que viagem, hein?

Referência: A filosofia em Matrix (alegoria da caverna de Platão); A religião em Matrix (influências Católicas, Budistas e Gnósticas)


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acid
Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog www.saindodamatrix.com.br
"Não sou tão careta quanto pareço. Nem tão culto.
Não acredite em nada do que eu escrever.
Acredite em você mesmo e no seu coração."
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