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O OUTRO como DENUNCIADOR de SOMBRA

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 26/07/2000 19:13:45


Para entender como isso acontece convido você a se ver naquilo que descreverei em seguida:
Desde o começo da vida você veio com um grande conjunto de potencialidades humanas a serem realizadas em vida. Quando você começou a entender onde estava e o que todo mundo fazia ali, também começou a querer fazer, explorar, mexer... e depois, a perguntar, a advinhar o que se deve fazer, arriscando-se ao erro, tentando... e mais tarde, mais bem treinado, passou a já saber o que não se fazia, a fazer o certo e o esperado pela família, censurando em si mesmo aquilo que sabia ser inadequado, errado, pecaminoso, vergonhoso e assim por diante.
Pois bem, no caminhar do desenvolvimento da "sua criança" pela família e pela sociedade, você foi sendo treinado para poder discriminar, o melhor possível, o certo do errado, o bom do mau, o bonito do feio... Muitas "partes de si mesmo" tiveram de ser impedidas de agir por representarem tendências ou impulsos inaceitáveis para seus companheiros de caminhada, seus tutores, seus professores, seus treinadores. Com o tempo, o número de erros diários cometido acabou, felizmente, diminuindo e você já não dava tanto trabalho aos encarregados de sua supervisão, pois você já "sabia" o que se deve ou não se deve fazer, ser, sentir, falar etc. Todos passaram a confiar na sua capacidade de se conduzir sozinho sem dar mais trabalho à diretoria. E isto só aconteceu porque, desde o começo, você passou a internalizar valores e explicações encontradas no seu meio ambiente. Você fez isso na ânsia de se adaptar e de ser aceito por todos. Com o tempo você aprendeu quais partes ou potencialidades humanas ( das iniciais ) é vantajoso lidar e demonstrar; mas também, paralelamente, quais partes ou potencialidades reprimir, esconder, proibir ou censurar. Você pode ter sido convencido de que estas partes podem simplesmente desaparecer, como por um milagre, apenas por serem reprimidas ou por não serem exercidas, porém a verdade é que elas são persistentemente incômodas e precisam de constante cuidado para se manterem fora de cena.
Em linguagem psicológica ocorreu que você, no geral, se identificou com as parcelas de si mesmo aceitas pelo meio ambiente em que se desenvolveu. Você se apegou a elas - que deram certo e lhe trouxeram algum prazer - de tal forma que passou a chamar de EU a este ESTRUTURADO CONJUNTO DE POTENCIALIDADES HUMANAS SELECIONADAS. Ao identificar-se e apegar-se a elas você criou em si mesmo uma cisão, ou seja, de um lado as partes DEMONSTRÁVEIS e de outro as suas parcelas negadas e INDEMONSTRÁVEIS.
Dando nomes apropriados vamos chamar de PERSONA ( um EU-PARA-OS-OUTROS ) às partes conotadas de aceitáveis e de Sombra Pessoal ( o EU-NEGADO ) às conotadas como inaceitáveis. Você há de convir comigo que, de fato, você não é, sempre e exatamente, nem uma nem outra, pois se percebe, na verdade, como alguém que se encontra ao meio de tendências opostas, sendo puxado ora pela PERSONA ( contingente de facetas do EU que está VOLTADO PARA OS OUTROS ) ora sendo puxado pela SOMBRA PESSOAL ( contingente de características e possibilidades existenciais negadas ). Vamos dar a esta função administradora o nome de CONSCIÊNCIA. Esta precisa atender à necessidade de adaptação ao meio ambiente tanto quanto à realização das potencialidades pessoais. A tarefa da CONSCIÊNCIA é complexa e exige muita energia para ser concretizada plenamente. Ela está mediando os poderes do mundo face aos poderes do Inconsciente e sua tarefa envolve administrar outros potenciais e tendências além dos descritos até aqui.
Então você, que me acompanhou até aqui, descobre que somos todos PERSONAGENS EM CENA e todos os dias verifica que no mundo social há muita ilusão, muita hipocrisia e muita tapeação: nem tudo que parece ser é o que aparentava ser. Pois bem, o fato é que é muito fácil, pra você, ver a SOMBRA do outro, contudo quando se trata de ver a sua SOMBRA PESSOAL aí a coisa muda de figura e tudo fica nebuloso. Me acompanhe mais um pouco e se pergunte: Será que é fácil, para o outro, ver a minha SOMBRA ? A resposta é: sim ! O outro pode gastar apenas alguns segundos para ver em você aquilo que pode lhe custar grande esforço e tempo na busca de conscientizar a SOMBRA PESSOAL e alcançar alguma evolução moral. Se você já está ou esteve nesta busca então poderá contar com o outro para apontar ( ou cutucar ) a suas inadequações e defeitos. Na busca de evoluir e de se desenvolver humanamente você ouvirá o outro, por mais que lhe doa ouvir algo, abaixará a cabeça e se disporá a melhorar naquele aspecto que foi apontado como sendo seu, ainda que você tenha enormes dificuldades para admitir que isto seja mesmo verdade... Acreditando e confiando em si mesmo você faz um esforço moral e se aprimora sempre.
Já se disse que o mundo é o espelho do EU, mas nós ocidentais pouco entendemos do valor prático destas afirmações.
Por outro lado, se você não deseja, de modo algum, nem jamais pretendeu olhar para a sua SOMBRA PESSOAL então o outro ocupará o difícil e sofrido papel de DENUNCIADOR de SOMBRA pronto a demolir, a todo momento, a sua PERSONA infantil. Você encontrará no outro o inimigo aberto, o que fará piadas jocosas e irônicas com suas inadequações e defeitos. Viver esta situação é muito mais vergonhoso e humilhante do que dar o braço a torcer e admitir a autoridade do outro que, pelo convívio contínuo consigo, observa com clareza e aponta justamente aquilo que você mesmo se recusa a ver.
Está em suas mãos transformar ou não o outro em DENUNCIADOR DE SOMBRA. Se isto já aconteceu e se você já sofre por isso então volte-se pra si mesmo, retome a consciência de que você é duplo, para dizer o mínimo, e que além daquilo que você acredita ser é também aquilo que negou em si mesmo e que contudo, não desapareceu por mágica e está, isto sim, esperando que você retome sua caminhada de desenvolvimento e regenere as partes que foram relegadas, desprezadas e omitidas da sua PERSONA.

Se o outro está dizendo coisas terríveis a seu respeito isto se deve ao fato de você não ouvi-lo quando ele disse a primeira vez, nem na segunda, nem nunca. Experimente parar um pouco de só oferecer resistência. Tente um outro caminho. Foi você mesmo quem criou esta situação vexatória e incômoda e agora sabe como modifica-la a qualquer momento.
Dentro de você a CONSCIÊNCIA existe e você precisa voltar a ocupar uma posição mais central. Lembre-se do dito que afirma que você pode enganar / convencer/agradar algumas pessoas todo o tempo; pode enganar /convencer/agradar todas as pessoas algum tempo; mas, não pode enganar / convencer/agradar todas as pessoas todo o tempo... O sentido disto é aplicável à PERSONA quando em ação no meio social, mas quando se trata da família ou do parceiro de relação este dito tem que ser substituído pela máxima:
"você não vai conseguir enganar seu parceiro por muito tempo !"





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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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