Autoconhecimento: O Encontro Consigo Mesmo.




Autor Valter Cichini Junior
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 10/5/2025 6:38:29 PM
Há momentos na vida em que, mesmo sem estarmos em crise, sentimos uma inquietação difícil de nomear. Não é dor aguda, tampouco desespero. É mais um chamado silencioso. Como se algo dentro de nós sussurrasse que está na hora de parar, respirar e olhar para dentro. Não para consertar nada, necessariamente, mas para entender melhor quem somos e, talvez, descobrir quem ainda podemos ser.
Muita gente ainda associa terapia a situações-limite, uma separação dolorosa, a perda de alguém querido, uma crise de ansiedade, uma depressão que não cede, e sim, nesses momentos, buscar ajuda profissional pode ser vital, mas a terapia também pode ser um caminho de expansão, de autodescoberta, de liberdade, de potência. Às vezes, a maior transformação acontece quando não estamos tentando sobreviver, mas quando escolhemos viver com mais verdade.
Olhar para dentro não é sempre confortável, a gente vive em um mundo que valoriza muito a produtividade, a performance, a imagem, somos ensinados a correr, a conquistar, a mostrar, mas pouco se fala sobre pausar, sobre escutar o que se passa dentro da gente, sobre revisitar as histórias que contamos sobre nós mesmos, aquelas que herdamos da família, da cultura, das experiências que vivemos.
Quem nunca se pegou repetindo os mesmos padrões sem entender o porquê? Relações que não funcionam, escolhas que nos frustram, comportamentos que parecem automáticos. Às vezes, passamos anos achando que somos de um certo jeito, tímidos, impacientes, inseguros, sem perceber que isso pode não ser essência, mas repetição. E quando nos damos conta disso, nasce uma brecha, uma fresta por onde entra a possibilidade de ser diferente.
Autoconhecimento não é um projeto de perfeição, muito pelo contrário, é um caminho de encontro com a própria humanidade, com os nossos limites, medos, desejos, contradições. E, ao fazer esse caminho, vamos descobrindo também nossas potências, aquilo que nos move, que faz sentido, que nos conecta com o mundo de forma mais autêntica.
Uma pessoa me disse certa vez, no consultório: "Eu não vim porque estou mal, vim porque quero viver melhor." Achei fantástico e verdadeiro. Nem sempre é preciso estar quebrado para procurar terapia. Às vezes, é só uma vontade genuína de se conhecer, de cuidar da vida interior, de abrir espaço para ser mais inteiro.
E veja, isso não significa viver sem conflitos, o autoconhecimento não elimina os desafios da vida, mas ele muda a forma como os enfrentamos. Ao invés de agir no automático, reagindo do mesmo modo de sempre, começamos a escolher, ganhamos, pouco a pouco, mais liberdade, e liberdade, aqui, não é fazer tudo o que se quer, é saber por que se quer o que se quer. É poder dizer "sim" com o corpo inteiro e também dizer "não" sem culpa.
Há uma ideia bonita, embora sutil, na psicanálise: a de que não somos inteiramente transparentes para nós mesmos. Existem zonas obscuras, partes escondidas, desejos que tentamos calar, e tudo isso fala, nos sonhos, nos lapsos, nos sintomas, nas escolhas. A terapia é um espaço onde essas partes podem se expressar, sem julgamento, sem correção, apenas com escuta, e isso, por si só, é profundamente transformador.
Imagina poder olhar para a própria história com curiosidade, e não com vergonha. Revisitar momentos da infância, entender os vínculos que moldaram nossos afetos, reconhecer as dores que ainda ecoam. Esse olhar cuidadoso, acolhedor, pode desfazer amarras silenciosas e com o tempo abrir espaço para narrativas novas para versões mais verdadeiras de nós mesmos.
Talvez o autoconhecimento seja menos sobre encontrar respostas e mais sobre fazer as perguntas certas. Quem sou eu além dos papéis que desempenho? O que é realmente meu, e o que repito por medo ou costume? O que me faz bem de verdade? Que tipo de vida desejo construir?
Essas perguntas não têm respostas prontas, mas carregam uma força mobilizadora, e é aí que a terapia se apresenta como aliada, não como fórmula mágica, mas como processo, um processo de escuta, de elaboração, de construção de sentido. Um convite à presença, ao encontro consigo mesmo, com tudo o que isso implica.
Se você sente esse chamado, ainda que sutil, talvez seja hora de atender. Não precisa esperar a dor se tornar insuportável. Às vezes, o que você sente é só a vida pedindo espaço, um desejo legítimo de viver com mais consciência, mais leveza, mais verdade.
Autoconhecimento não é luxo, nem modismo. É cuidado, é compromisso com a própria existência e, nesse caminho, não se trata de se tornar alguém novo, mas de se lembrar, com mais clareza, de quem você sempre foi.
Paz e Luz.
Autor Valter Cichini Junior Atendimento em Psicanálise E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |





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