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Carnaval, uma alforria provisória - FINAL

Atualizado dia 2/20/2007 4:56:47 PM em Autoconhecimento
por Fátima Rodrigues Graziottin


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No Brasil o carnaval é festejado tradicionalmente no sábado, domingo, segunda e terça-feira anteriores aos quarentas dias que vão da quarta-feira de cinzas ao domingo de Páscoa..

Até a metade do século XIX, os escravos festejavam o carnaval, sujando-se uns aos outros com polvilho e farinha de trigo, ou espirrando água pelas ruas com o auxílio de uma enorme bisnaga de lata.

As famílias brancas, refugiadas em suas casas, brincavam o carnaval fazendo "guerras de laranjinhas", ou seja, pequenas bolas de cera que se quebravam, espalhando água perfumada. Jogavam também, de suas janelas, um líquido não tão cheiroso na cabeça dos passantes... Por isso as pessoas evitavam sair às ruas durante os dias do "Entrudo".
Isso fez com que os bailes de máscara, realizados apenas para a elite, durante o Primeiro Império e, a partir da década de 1840, para a classe média, fizessem muito sucesso.

Nesses bailes, que eram pagos e feitos em teatros e hotéis do Rio de Janeiro, não se dançava o samba, mas o "schottische", as mazurcas, as polcas, as valsas e o maxixe, que era o único ritmo genuinamente nacional.

Somente em 1869, quando o ator Correia Vasques adaptou a música de uma peça francesa e deu para essa adaptação o nome de "Zé Pereira" — mesma música que é cantada até os dias de hoje — apareceu a primeira música de Carnaval. Até então todas as músicas eram instrumentais ou em outro idioma.

O carnaval da rua, entretanto, quase não existia. Tudo à custa da "violência" que tinha o "Entrudo". Alguns jornalistas da época começaram a estimular a criação de carnavais que imitassem os de Roma e de Veneza, onde as pessoas saiam às ruas fantasiadas para tomar parte no corso ou para realizarem batalhas de flores ou de confete. Um dos jornalistas que defendia ardorosamente esta forma de Carnaval era José de Alencar, que escreveu na sua coluna do "Jornal Mercantil" do Rio de Janeiro, às vésperas do Carnaval de 1855, a seguinte frase: "Confesso que esta idéia me sorri. Uma espécie de baile mascarado, às últimas horas do dia, à fresca da tarde, num belo e vasto terraço, com todo o desafogo, deve ser encantador".

Foi assim, após uma campanha dos jornalistas contra o "violento Entrudo" e a favor do "Carnaval Veneziano", que os desfiles de rua começaram a acontecer.

Não há dúvidas que, mesmo de forma "moderna", com um up ou down grade, o arquétipo de Dionísio continua presente no carnaval, nos inconscientes pessoais, no inconsciente coletivo e no inconsciente vital, instintivo de cada um e da sociedade como um todo.

É como se nos quatro dias de carnaval a sociedade recebesse uma “alforria provisória” onde a "educação", os “bons costumes”, a "moral" e a "ordem", ficassem em suspenso temporariamente. Podemos notar isso nos desfiles de escolas de samba, onde mulheres com corpos nus ou seminus, esculturais, se exibem sedutoras para o delírio de homens (e mulheres).

O próprio Ministério da Saúde alardeia o uso de camisinhas, atitude que atesta oficialmente que nesta época em especial é permitido transgredir! O proibido... é proibir, ou melhor, "é proibido proibir", com diz Caetano Veloso.

Resta saber se nesses nossos tempos apolíneos essa "alforria provisória" promove e incrementa a saúde, a vida e a alegria genuínas ou reforça ainda mais o aniquilamento, a dor, o caos, o desamor e a tristeza na qual nossa sociedade agonizante e doente está imersa...

Festejemos genuinamente nossa natureza dionísica, no nosso dia-a-dia, nas pequenas coisas, nos pequenos prazeres, celebrando a VIDA, a ALEGRIA e o AMOR, em nós, no outro, na natureza e no cosmos! Assim, podemos nos permitir pequeninas transgressões, sem maiores conseqüências e em doses homeopáticas, sem colocarmos todas as nossas expectativas naturais de transgressão e liberdade em quatro dias de “alforria provisória”.

Fontes de consulta:
ORIGEM DO CARNAVAL - Claudia M. de Assis Rocha Lima - Pesquisadora
https://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=300&textCode=896&date=currentDate
CARNAVAL – Dionísio Domesticado - Voltaire Schilling
https://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/carnaval.htm
CARNAVAL - Renato Roschel
https://almanaque.folha.uol.com.br/carnaval.htm
CARNAVAL
https://www.artes.com/carnaval/historia.html

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Imagem: Bacantes, Jacques Philippe Caresme

Texto revisado por Cris

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