Cavalo de Troia Psíquico: Crenças que Colonizam a Mente

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Autor Marco Moura

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 7/9/2025 7:46:40 AM


Vivemos em um tempo onde as ideias nos alcançam com mais velocidade do que somos capazes de assimilá-las conscientemente. Redes sociais, doutrinas espirituais, movimentos sociais, teorias de salvação e gurus carismáticos oferecem, todos os dias, algum tipo de "resposta" para as dores humanas. Mas o que acontece quando uma dessas ideias entra na psique como quem não quer nada - e se aloja em um ponto vulnerável do nosso ser?

Essa reflexão parte de um conceito simbólico: nossa psique como uma mandala. Assim como as mandalas tradicionais representam um sistema ordenado em torno de um centro, nossa estrutura interna também se organiza em torno de eixos e posições arquetípicas - o herói, a mãe, o sábio, o inocente, a sombra, o amante, entre outros. Quando essas posições estão bem ocupadas e reconhecidas, sentimos uma certa coerência existencial. Mas basta que um desses pontos esteja fragilizado ou inconsciente para que nos tornemos vulneráveis a influências externas disfarçadas de "respostas salvadoras".

A Isca Simbólica

Imagine alguém com uma ferida profunda relacionada ao abandono. Essa pessoa, sem perceber, está com o arquétipo do cuidado (geralmente associado ao materno ou ao autoacolhimento) desocupado ou distorcido. Surge então uma seita, um líder espiritual ou mesmo um movimento ideológico que promete "amor incondicional", "pertencimento" ou "uma nova família". A proposta parece curativa. E talvez seja - em parte.

Mas junto com essa promessa, vem um pacote simbólico completo: uma nova moralidade, uma cosmovisão, uma hierarquia, um "nós contra eles", uma entrega de autoridade. O que parecia ser apenas uma crença isolada - uma ideia simpática - era, na verdade, um cavalo de troia psíquico. Não entra só uma ideia; entra um sistema inteiro.

Esse fenômeno é semelhante à hipnose. Uma suspensão temporária da vigilância da consciência crítica permite que conteúdos externos passem a ocupar as posições internas da mandala. Aos poucos, a pessoa já não distingue mais o que é dela e o que foi implantado. Sua mandala foi colonizada.

A Sombra: O Portão Esquecido

Se há uma área da psique particularmente vulnerável a esse tipo de invasão simbólica, é a sombra - o aspecto rejeitado de nós mesmos. Como diz Jung, a sombra é tudo aquilo que preferimos não ver, não admitir, não tocar. E justamente por isso, é um campo sem vigilância.

Sistemas manipuladores sabem disso. Eles costumam oferecer conteúdos que aliviam a dor de confrontar a própria sombra: a raiva é projetada no "inimigo", a insegurança é coberta por uma identidade de grupo, a carência é preenchida por rituais externos de aceitação. Assim, sem precisar tocar o que está ferido, a pessoa sente alívio. Mas esse alívio vem ao custo da própria autonomia.

Exemplo: O Espiritualista que Rejeita a Raiva

Imagine um buscador espiritual que considera a raiva algo "inferior", "não iluminado". Ele a reprime, tentando manter uma imagem serena. No entanto, essa raiva reprimida - sombra não reconhecida - se transforma em rancor inconsciente, que pode ser facilmente manipulado.

Basta um sistema externo apontar um "culpado" pelo sofrimento do mundo (um governo, um grupo, uma elite, uma energia) e o espiritualista, ainda acreditando estar vibrando amor, começa a alimentar ódio mascarado. Ele está sendo manipulado justamente pelo conteúdo que não quis olhar dentro de si.

Cuidar da Mandala Interna

A proteção contra essas influências não está em construir muros, mas em cultivar presença simbólica: saber quais arquétipos habitam em você, quais estão saudáveis e quais estão carentes ou distorcidos. Isso exige um trabalho de autoconhecimento profundo, muitas vezes desconfortável - especialmente no contato com a sombra.

Também exige cautela com o que você acredita. Porque uma crença nunca é apenas uma crença. É uma porta de entrada. E dependendo da simbologia que ela carrega, pode reconfigurar toda a sua experiência de realidade.

Finalizando:
A verdadeira liberdade psíquica não está em rejeitar os símbolos, mas em reconhecê-los, compreendê-los e integrá-los com consciência. Uma mandala íntegra não é aquela que está "limpa" ou "perfeita", mas aquela onde cada posição está ocupada por você mesmo - e não por ideias implantadas.


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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Marco Moura   
Marco Moura conduz no Centro Dao de Cultura Oriental (metrô Ana Rosa, São Paulo) práticas voltadas ao desenvolvimento integral do corpo e da mente, por meio do Tai Chi Chuan, Qigong e Meditação Budista.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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