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Jô - Uma História de Vida (Parte III)

Atualizado dia 1/29/2007 9:04:33 PM em Autoconhecimento
por Rafaela Magalhães Lopes Souza


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“Um coração para amar, pra perdoar e sentir./Para chorar e sorrir/Ao me criar tu me destes/Um coração pra sonhar inquieto e sempre a bater/Ansioso por entender as coisas que tu disseste/Eis o que venho te dar, eis o que eu ponho no altar/Toma senhor que ele é teu, meu coração não é meu/Quero que o meu coração, seja tão cheio de paz/Que não se sinta capaz de sentir ódio ou rancor/Quero que aminha oração possa me amadurecer/Leve-me a compreender as conseqüências do amor...”

Olhando para o passado vejo que não deveria ter me surpreendido com os fatos que sucederam a essa época. Não poderia ter esperado, na verdade, outra reação de Roque além desta. Ninguém pode dar o que não tem para oferecer... Ele não foi preparado para ser pai, nem para assumir responsabilidades, muito menos para administrar as duas coisas ao mesmo tempo. Ele não tinha tido um pai. Ele não teve uma figura paterna forte a quem pudesse se segurar e se mirar.

Roque foi o quinto filho de um casal que se amou muito e foi abruptamente separado por um câncer no pulmão do Sr.Francisco, pai de Roque. Dona Yvone, ainda jovem foi obrigada a se assumir como chefe da família e a tomar conta dos seus cinco filhos. Não deve ter sido uma tarefa fácil. Quando Seu Francisco faleceu Dona Yvone estava grávida de três meses, muitos dos seus amigos e parentes devem tê-la aconselhado a não ter aquele filho. Ela estava passando por um momento muito traumático. A doença do seu marido tinha sido fulminante - três meses - e criar mais uma criança neste momento, parecia uma dor insuportável. Mas Dona Yvone entendeu estes acontecimentos como um gesto de Deus e, se Ele havia lhe dado este filho com sua última recordação do seu marido, ela lhe seria fiel e iria cuidar desse filho com mais amor do que qualquer outro ser humano pudesse sentir.

Roque foi criado por uma verdadeira matrona e teve uma educação católica. Dona Yvone era uma mulher muito religiosa e fazia questão de levar seus filhos, todos os domingos à Igreja. Os irmãos dele, por outro lado, eram muito mais velhos. O mais próximo cronologicamente era Joaquim, 15 anos mais velho. Depois vinham Francisco, Roberto e Yêda. Roque foi crescendo e se mirando nos irmãos. Eles saíam para muitas festas, namoravam e faziam outras coisas peculiares a suas idades e à época em que vivam. E Roque, menino pequeno carente de atenção, se esforçava para se enquadrar no perfil dos irmãos e poder sair com eles. Tudo começou com pequenas festas, eventos diurnos; mas depois vieram as garotas e Roque passou a ser um menino-precoce-quase-adolescente. Ele apenas conheceu o lado “farrista” da vida. Nunca teve exemplo de um pai, da figura paterna que um homem deveria exercer em sua família e por isso não poderia ter agido diferente.

Aos 18 anos, antes de prestar o vestibular, Roque foi morar nos EUA. Era uma experiência emocionante para ele. Lá ele apenas conseguia enxergar uma vida sem limites, com muita diversão, paqueras, sem estudo e principalmente sem vestibular. Para ele, não havia nada de errado nisso. Praticamente todos os seus amigos e, inclusive seus irmãos viviam assim, então, ele tirou essa oportunidade como sendo única em sua vida.

Mas quando completou 19 anos Roque voltou para Salvador. E foi numa das suas primeiras festas de “welcome back” com seus amigos, que nós nos conhecemos. Nossos momentos não poderiam ser mais diferentes; quase que uma versão da música que se tornaria “Eduardo e Mônica”. Eu já era há muito tempo responsável pela minha vida, como também pela vida dos meus irmãos. Era independente e fazia o meu próprio dinheiro. Já havia me formado na faculdade e tinha passado do auge da fase “curtidora” típica da adolescência. Estava disposta a conhecer alguém com quem pudesse construir uma família, só minha. Tinha as minhas próprias carências, traumas, mas já compreendia tudo isso com serenidade. Era difícil prever que nossa união daria certo...

Da primeira vez que conheci Roque ele se apresentou como sendo um engenheiro, graduado recentemente, de 25 anos. E ele era muito magro, alto e se olhássemos em seus olhos perceberíamos que não passava dos 19 anos que ele realmente tinha, mas era galanteador o suficiente para fazer com que comprássemos essa idéia e bem... No meu caso, que me apaixonasse.

Foi somente após três meses de namoro que eu soube que o meu, até então, namorado não tinha algum diploma, não trabalhava, não morava sozinho, não tinha carro próprio e, muito menos, os 25 anos que havia dito ter. Ele não passava de um garoto que ao conhecer uma mulher de verdade, se amedrontou com a possibilidade da rejeição. Pensou que eu não o aceitaria ou não me interessaria por ele. Um garoto, como tantos outros que tentava conquistar "sua garota"... Confesso que não foi das mais nobres atitudes, vindas de um homem, mas na época, tudo me pareceu muito engraçado e eu já estava suficientemente apaixonada para não me preocupar mais com isso. Pequenos detalhes... Daqueles que a gente não conta aos filhos quando eles crescem...

Com pouco mais de 1 ano e meio de namoro descobri que estava grávida. Na época os métodos contraconceptivos não eram tão divulgados quanto hoje e tudo parecia mais difícil do que realmente é. Confesso que sempre esperei ser mãe; só não esperava que fosse tão cedo. A notícia me causou um sentimento muito misturado, com a surpresa e a dúvida, de como seria a minha vida dali em diante. Seria Roque o meu parceiro ideal? O que eu achava engraçado, até agora nele, seria o ideal de um pai de família? E ele, quando soubesse, iria querer ser um pai de família? Nada disso foi fácil... Muito menos contar à mãe dele.

Quando Roque soube da notícia se esquivou um pouco, mas tão logo abriu um sorriso e disse: “Que bom!”. Acho que na realidade ele não pôde mensurar todas as conseqüências deste “pequeno” evento. Mas para mim, apenas de saber que ele ficaria ao meu lado, naquele momento, foi suficiente.

Este texto é verídico e é sobre a história da minha mãe, Joazil Carvalho de Magalhães Lopes, falecida em 18 de agosto de 2003. Foi escrito por mim, em memória da sua vida.

Continua...

Texto revisado por Cris

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