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O caminho do meio e o prazer de viver

Atualizado dia 6/19/2015 11:17:51 AM em Autoconhecimento
por Rodrigo Durante


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Na estressante rotina de nossas vidas, quase nunca temos tempo ou todas as condições necessárias para fazer tudo o que gostaríamos. Vamos estabelecendo prioridades muitas vezes ao ponto em que negligenciamos completamente aquilo que nos dá prazer para cumprirmos com o nosso dever.

Para agravar mais a situação, existem ainda mecanismos internos que construímos em milênios de encarnações neste planeta extremamente repressores, senão totalmente proibidores do prazer. Dogmas religiosos, rejeições e autodesvalorização, culpas e autocondenação, desmerecimento, raiva de si mesmo, carências afetivas, autoinferiorização, vergonha, medos, traumas, enfim, tudo isso que em algum momento de nossa existência podemos ter sentido e ficou registrado em nosso inconsciente serve de combustível para este poderoso mecanismo autossabotador atuar na manifestação de nossa realidade.

Pelos mais variados e até por vezes nobres motivos, vamos dando prioridade às urgências, às nossas contas, às tarefas domésticas e mesmo com muita boa vontade em cumprir com nossas obrigações, às vezes chegamos a um ponto onde nos sentimos sufocantemente sobrecarregados com uma vida que limitou-se à resolução de problemas e atenção única e exclusiva à necessidade dos outros. Nossos prazeres e alegrias de antigamente parecem um sonho cada vez mais distante, assim como qualquer nova oportunidade de fazer algo agradável. Entramos numa rotina de encontrar apenas caminhos fechados para aquilo que nos faz bem, enquanto os caminhos para o cumprimento das obrigações vão ficando cada vez mais complicados e desgastantes. Tudo nos parece um fardo, recusamos convites para coisas boas, apenas para evitar o transtorno enquanto buscamos transformar nossa raiva em disposição para enfrentarmos as lutas da vida. Assim, nosso descontentamento aumenta, parece que quanto maior a provação, maior nossa disposição em cobrar “dos céus” por alguma solução.

Vamos nos perdendo neste novo personagem triste e limitado que rejeita totalmente seu presente, criando inconscientemente o hábito de ser feliz em um futuro imaginado. Nosso mundo mental se torna mais atrativo que o físico, despercebidamente tirando-nos da realidade que fomos Criados para viver. As origens disto estão em nós mesmos e são tão profundas que nem percebemos o quanto nós colaboramos para permanecer neste padrão.

É desnecessário dizer a infinidade de complicações que sofremos por causa disso, desde angústias insones a problemas físicos que podem até nos levar à morte. Também pudera, se é isso mesmo que estamos fazendo com a gente: matando-nos aos poucos. Aprisionamos nosso coração em barreiras imaginárias à realização, negamo-nos o direito a felicidade, a expressão de nosso Ser e a quem realmente somos. Não há alma que queira ficar em um mundo destes onde tudo nos é proibido.

Criamos a separação e a reforçamos a cada dia com todas as justificativas possíveis, sempre buscando restaurar a superioridade de nosso ego. Para manter um mínimo de autoestima, criamos um sistema de crenças onde nos sentimos especiais por sermos tão resignados, esforçados e batalhadores, até criticamos aqueles que têm uma vida mais fácil que a nossa. As críticas externas são uma maneira dos inseguros que se prenderam em uma realidade ruim e sustentada por crenças de se sentirem mais certos a respeito de si mesmos.

Por mais estranho que isso pareça, a aceitação incondicional dos deveres é parte integrante da cura. Viemos cumprindo com nossa parte diligentemente, enquanto interiormente, criávamos resistências a estas obrigações tão distantes do que gostaríamos de estar fazendo e, assim, gerando negatividades e mais sufocos a cada dia, mesmo que inconscientemente. Tornamo-nos explosivos, frágeis e sensíveis à menor oscilação em nossa rotina já tão sacrificadamente levada adiante. Qualquer lâmpada que queima em casa já nos parece de uma dificuldade enorme, algo que irá nos causar muito mais problemas. Então nos fechamos em nossa insalubridade espiritual e adoecemos, em um chamado desesperado de nossa alma para nosso despertar.

Infelizmente, precisamos chegar no limite para olharmos para dentro, para libertar, resgatar e reintegrar os pedacinhos de nossa alma que foram ficando pelo caminho. É assim que vamos restaurando nossa identidade, nossas preferências e vontades que muitas vezes ficaram escondidas em camadas e camadas de privações. Para quem passa por isso, mesmo para aqueles que de tanta repressão nem sabem mais o que gostariam de fazer, existe uma prática muito boa para restaurarmos o gosto pela vida e permitirmos que a chama em nosso coração se acenda novamente, além de abrir novamente os caminhos para que a vida nos traga cada vez mais experiências gostosas de participar: é transformar uma atividade simples em uma experiência espiritual.

Primeiramente, reserve um tempo para si. Pode ser o intervalo para um cafezinho no meio da tarde em sua empresa. Respire fundo, sinta seu corpo, sinta o quanto você merece este tempo. Ofereça um café a si mesmo reverenciando o ser Divino que você é. Sinta cada aspecto deste café, o aroma, a temperatura, o sabor, o ambiente protegido, a cadeira para você sentar, enfim, tudo de bom deste momento. Parabenize-se pelo dinheiro que você tem na carteira para comprar este café. Sinta como é bom fazer algo por si mesmo, sinta gratidão por você poder fazer o que você quer. Sinta gratidão por um momento como este em sua vida, tão bom e tão acessível. Sinta gratidão por todos os sincronismos que o universo organizou para lhe proporcionar este momento. Sinta como seu Ser é capaz de lhe trazer muitas coisas boas sem que você precise se esforçar para isso. Agora, sinta gratidão por você ser você, exatamente do jeito que você é. Sinta como o universo e você estão ligados, foi isso que lhe proporcionou toda esta experiência. Que tal foi tomar este cafezinho nesta nova dimensão? Já relaxou e voltou ao seu Eu natural, não foi? Pode fazer isso com tudo, andando na rua e reparando no verde da sua cidade, prestando atenção em como o sol aquece a sua pele, sentindo uma brisa fresca no rosto ou apenas respirando. Tudo isso nada mais é do que aprender a relaxar e a usar a mente a nosso favor. Com o passar dos dias este hábito cultivado de estar presente vai se tornando mais natural e espontâneo. O tempo e agrados que você reserva a si podem ser cada vez maiores, um cinema, um presentinho, uma Terapia Multidimensional...

No entanto, outros desafios podem surgir. Nesta etapa, é normal criarmos uma aversão a limites, alguns trabalhos ou situações “obrigatórias”, aquelas que a vida nos apresenta sem nos pedir permissão. O medo ainda pode nos obrigar a controlar as coisas, ainda sugere que existe algo no futuro que pode nos fazer voltar a sermos como antes, infelizes ou que não possa ser amado. Então, acontece algo que temos que lidar um pouco diferente do que imaginávamos e imediatamente rejeitamos a situação, já nos desesperamos, afloram raivas, inseguranças, revoltas, vitimismo e lá se vai nossa paz de espírito novamente, desta vez não pela autonegação, mas pelo medo de nos perdermos novamente.

E, assim, este novo ciclo pode se perpetuar, os medos e raivas com que enfrentamos o momento presente vão criando um futuro muito distante do desejado. Ainda não percebemos que o único motivo para nossa insatisfação é nossa recusa em aceitar e amar.

Para seguirmos adiante no processo, é necessário, então, reconhecer um medo oculto de aceitar que a vida é exatamente aquilo que se apresenta a nós no momento presente. Um medo de que se vivermos o aqui-agora com todo nosso amor e atenção estaremos abrindo mão de um futuro que nossa mente considera o que há de melhor para nós. Há uma dúvida torturante sobre o que realmente temos controle e, neste caso, nitidamente o medo tem vencido a razão. Pois se o futuro depende de como vivemos o nosso presente, é óbvio que se abrirmos mão da ilusão de controle que nosso mental traz e nos dedicarmos com o máximo de nosso potencial de amor e aceitação ao aqui e agora, por mais insignificante que esta tarefa possa parecer, nosso futuro será o melhor que jamais pudemos sonhar.

Existe um equilíbrio a ser encontrado entre o aceitar e o querer. Quem só faz o que quer resistindo àquilo que a vida inesperadamente lhe traz acaba preso ao próprio vazio interno em um caminho infinito de busca por si mesmo fora de si, como um cachorro correndo eternamente atrás do próprio rabo, cada vez mais cansado, agressivo e infeliz. E não falo apenas de tarefas ou situações que a vida nos traz, mas também de alguns momentos sozinhos, do silêncio, da falta do que fazer... tudo isso nos serve de lição para nos aprofundarmos em nosso âmago e buscarmos nossa essência novamente.

Nosso mecanismo de busca da felicidade através da satisfação de desejos é tão limitado e inferior à plenitude do Ser que quem vive apenas para satisfazer-se apresenta nítidos sintomas de imaturidade e desequilíbrio espiritual, de máscaras, orgulhos e defesas vaidosas para seus medos ocultos. Ainda assim, como a palavra já diz, a plenitude engloba também este mecanismo de desejar e conseguir, pois a plenitude do Ser é a própria Unidade, não julga, não rejeita, não separa... nada fica de fora. Por isso, nossas preferências pessoais não devem ser negadas, pois são sagradas como qualquer outra parte da Criação.

O segredo para encontrar o equilíbrio está, então, em abrir o coração para tudo o que a vida nos apresenta, sem nos negar o prazer das pequenas efemeridades do dia a dia. Estando conscientes de que nada disso curará feridas ou preencherá algum vazio existencial, será através da busca da satisfação destes pequenos prazeres que nosso coração nos guiará para a verdadeira felicidade. Talvez ainda tenhamos algum aprendizado entre uma alegria e outra, mas a vida tem seus mecanismos para nos despertar, não precisamos nos preocupar gastando uma energia enorme buscando fazer o trabalho que cabe à própria vida fazer. Viver com cem por cento de fé e cem por cento de entrega já é o suficiente, aliás, é o melhor que podemos fazer.

E, assim, vamos a cada dia aprendendo a amar mais e mais. Não devemos temer as surpresas da vida, precisamos compreender que as dificuldades ou mesmo os simples deveres de nossa rotina tudo têm a ver com o nosso propósito, eles estão cheios de lições importantes que nos fazem amadurecer, transcender limitações, tomar conhecimento de nossas capacidades, expandir nossa consciência além de nos colocar em um novo patamar de amor, sabedoria e realização. Cada imprevisto que nos cutuca em um medo ou ferida é uma oportunidade de expandir nossos horizontes, de dissolvermos nossas barreiras e nos tornarmos novamente Unos com tudo o que há.

Os desejos neste estado tornam-se um pouco diferentes pois na Unidade não temos mais os vazios necessários para gerá-los. Podemos, então, considerar os desejos como simples escolhas. Na plenitude do Ser, tudo é bom, tudo é a própria vivificação do paraíso e não há mais necessidade de escolher nada. Porém, neste mundo ela ainda existe, temos que escolher se viramos à direita ou à esquerda, o menu do jantar, as roupas que vamos vestir, o novo emprego que estão nos oferecendo e um monte de outras coisas. A maquinação e estratégias do mental, no entanto, vão perdendo suas funções na medida em que vamos alinhando nosso sistema de crenças e modos de agir com a Presença Divina em nosso coração. As escolhas tornam-se cada vez mais sentidas do que pensadas, a própria vida nos apresenta as opções e tudo o que temos que fazer é sentir e escolher.

Equilíbrio é tudo na vida, é o que nos mantém na direção certa e de menor resistência: o caminho do meio. É onde mais somos ajudados e onde mais estamos em condições de ajudar o próximo, cumprindo assim com nosso dever como seres humanos. O ser humano foi criado para a vida em sociedade, para um servir ao outro, não ao ego do outro, mas ao Uno, ao Todo, a Criação. A boa ação é instintiva em nós, diferente da maldade que é gerada sempre de um medo ou ignorância, a bondade é nosso estado de maturidade natural. Fora deste equilíbrio, nossos interesses e ações sempre tenderão para o ego, para o benefício próprio inconsciente, para a separação. O caminho do meio permite a pura ação, Deus se manifestando através de nós. Dever e prazer, então, passam a andar sempre juntos pois, se feito com o coração em aceitação e entrega, o dever também se torna um prazer, sendo mais uma oportunidade para amar.

Namastê!

Rodrigo Durante
www.rodrigodurante.com.br

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