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Uma história de amor - continuação

Atualizado dia 10/7/2006 8:17:18 PM em Autoconhecimento
por Celso A. Cavalheiro


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Capítulo 11

Seu José andava meio irritado. Já não tinha muita paciência comigo e depois de ver o gato velho todos os dias em sua padaria contando histórias começou a resmungar e pegar toda hora na vassoura. Os clientes já não aturavam um gato, imaginem dois. Foi então que o gato velho decidiu convidar-me para ir morar com ele.

No princípio fiquei com receio, já havia sido escorraçado tantas vezes, que já estava cansado. Queria viver em paz, nem que fosse embaixo de uma ponte. Mas não poderia perder o gato velho de vista e correr o risco de não descobrir o resto de minha história.

O gato velho morava num porão bem amplo, com espaço suficiente para nós dois. Mas tinha um cheiro de cachorro molhado naquele lugar, quase insuportável. O gato velho me disse que um cachorro abandonado havia pedido para passar uns dias ali e ele, com pena, não pode negar. O cachorro acabou morrendo poucos dias depois mas o mau cheiro havia ficado impregnado no local.

Há muito eu não dormia tão bem. Quando amanheceu sentia-me revigorado como se tivesse dormido uma semana. O gato velho providenciara o café da manhã com um certo requinte. Pediu-me que não perguntasse o que era e que, se eu gostasse, poderia comer à vontade. Notei, então, o quanto havia sido egoísta até aquele momento. Interessado somente na história da minha família esqueci-me de perguntar sobre ele. Tentei desculpar-me. Mas ele me disse que não queria falar de si mesmo naquele momento. Foi então que senti o olhar de ternura do gato velho enquanto falava comigo e compreendi que, às vezes, não estamos tão sós como pensamos, é só preciso deixar que os amigos se aproximem de nós.

Capítulo 12

“Meu Deus o que eu vou fazer com tantos gatos", disse dona Genésia apavorada. "Assim que começarem a comer vou dá-los todos. Já tenho problemas demais por aqui. Tomara que aquela cobra papa-pintos, que mora no galpão grande, se engane e acabe devorando alguns deles, assim me poupa o trabalho.” Minha mãe quase enlouqueceu quando ouviu isso. Sabia que dona Genésia não era má pessoa, mas andava estressada demais com o problema de seu Joaquim e era bem capaz de fazer uma loucura.

Seu Joaquim já não se levantava mais da cama e mamãe já não sabia o que fazer pois já não podia mais dormir na cama com ele. Tinha que proteger seus filhotes da papa-pintos e não podia afastar-se por muito tempo.

Quando a noite caia mamãe levava-nos a todos para dentro da caixa em baixo do fogão. Éramos onze irmãos esfomeados e sugávamos mamãe dia e noite. Se não fosse Isabel, a amiga de mamãe, vir nos dar um pouco de leite, teríamos matado a coitada.

Isabel era bem determinada e só deixava que cinco de cada vez viessem mamar nela. Costumava dizer que aquilo não era fome, era só gula, e ela não admitiria tanta falta de educação. Isabel era nossa segunda mãe. Havia se escondido no trem em que mamãe viajara e havia corrido todos os riscos só para ficar perto da amiga. Isabel esteve sempre perto de mamãe nos períodos mais difíceis de sua vida e, se não fosse a companhia dela, mamãe não teria agüentado tanto sofrimento. Mamãe era a família que Isabel não tivera e, quando mamãe conheceu papai Isabel achou que iria ter que viver na solidão. Mas mamãe apesar da mudança radical em sua vida jamais esqueceu a amiga. As duas haviam crescido juntas e suas vidas estavam infinitamente ligadas.

Capítulo 13

Um carro vermelho parou bem na frente da casa onde nós morávamos. Uma criançada desceu correndo e gritando como se tivessem descoberto uma mina de brinquedos. Um casal bem arrumado desceu logo após e, com ar de gente determinada, disseram a dona Genésia que tinham vindo buscar os gatinhos para distribuir entre os amigos e ficar com alguns.

Minha mãe que dormia na varanda em cima de uma cadeira, deu um pulo e correu para o pátio onde nós brincávamos com uma bola de tênis. “Corram para o porão", gritou mamãe desesperada. Mas já era tarde demais. Os capetinhas haviam pegado todos os meus irmãos e corrido para dentro do carro vermelho. “Pode deixar esse feioso, vamos levar só estes.” Disse um dos capetas, referindo-se a mim.

Mamãe ficou enlouquecida, miava desesperada e corria de um lado para outro em cima do carro vermelho. De nada adiantou. Dona Genésia agarrou minha mãe com firmeza e jogou-a para longe do carro, que saiu em disparada. Mais uma vez Isabel estava lá para consolar mamãe.

Um dia, depois de muitas lágrimas e tristeza, mamãe resolveu pedir a Isabel que tomasse conta de mim. Não suportava mais aquela vida. Queria sair em busca de papai. Parecia não ter mais nada a perder. Seu Joaquim havia falecido há algumas semanas e eu já estava bem crescido, podia me virar sozinho. Precisava voltar e encontrar papai de qualquer maneira. Ela sabia que ele a estaria esperando. Não tinha noção de quanto tempo havia passado desde a separação, mas nada dentro dela havia mudado e ela sabia que papai ainda a amava da mesma forma.

O melhor caminho era a estrada de ferro. Não sabia o que a esperava, mas tinha certeza de que não poderia adiar mais o retorno. Só a estrada de ferro poderia levá-la de volta a papai. Então, saiu decidida na direção de onde o sol costumava nascer.

Mamãe andou dezenas de quilômetros no primeiro dia. Queria abreviar o tempo e o sofrimento e nada melhor que andar até a exaustão para poder esquecer a dor. Confiava em Isabel, sabia que cuidaria bem de mim até poder encontrar papai e voltar para me buscar. Depois de dias de caminhada, enfraquecida pela fome e pelo cansaço, mamãe ouviu vozes de pessoas e tropel de cavalos. Avistou não muito longe uns galpões grandes e uma casa de família. Precisava chegar lá mas estava muito fraca e a casa estava rodeada de cães. Se tentasse se aproximar na certa não sobreviveria. Não tinha muito tempo. Era preciso, no entanto, deixar a noite cair para tentar uma aproximação menos arriscada.

Texto revisado por Cris

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