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Atravessar É Preciso, Atravessar para Deixar - Brincadeiras com o Tempo

Atualizado dia 1/13/2010 2:19:38 PM em Espiritualidade
por Isabela Bisconcini


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Quando inicia um Ano Novo temos oficialmente uma chance de recomeçar. Curioso isso, porque no Budismo falamos muitas vezes em tempo sem início. Falamos também no continuum mental, o nosso disco rígido do computador interno que, num nível muito sutil, grava todas as impressões que geramos de momento a momento com nossas ações de corpo, palavra e mente e que migra com estas informações de uma vida à outra, gerando nossas próximas experiências, ou melhor, gerando o aspecto que elas terão para nós : como aparecerão para nós as próximas experiências.

Em apenas 1 segundo criamos 65 marcas (impressões) no continuum mental. "Tudo é guardado na mente", diz Gueshe Michael Roach. As impressões são como sementes: você pensa, fala e faz algo, isso é plantado na mente, as sementes crescem dentro da mente muito sutil, e depois de um tempo, com as condições adequadas, amadurecem na forma como você vê tudo. O karma cru vem do que se pensa. Então não existe um início e um fim, há um ciclo que continuamente se alimenta das marcas que geramos. Podendo se esgotar à medida que não o realimentamos mais.

Então... Mais importante do que prestar atenção nos fatos que estão nos acontecendo, é prestar atenção nas nossas reações a eles, pois é assim que giramos a roda mais uma vez, para recriar a situação futuramente, ou não.

Quando estamos passando por uma situação dolorosa, esta nos aparece com uma solidez inquestionável. E é essa solidez que acreditamos ser "A" realidade... mas quando sentimos de fato nas células do corpo, visceralmente, "isso vai passar", a situação recupera o movimento que lhe confere a sua real condição: é como uma onda: se forma, cresce, atinge um pico e se desfaz... e assim é tudo que aparece...

É, de fato, repousante a percepção disso... é um ganho real para nós, pois deixamos de nos desgastar tanto. Então, a melhor coisa a dizer talvez seja: respire, saboreie, siga... respire, saboreie, siga... respire, saboreie e siga...

Lama Gangchen Rinpoche, no seu livro AutoCura III, diz:

"Todos os fenômenos dos mundos externo e interno, com exceção do espaço natural e da vacuidade, existem na impermanência. Das maiores cadeias de montanhas, estrelas e galáxias à corrente interna de energia de vida dos seres humanos, com suas emoções e pensamentos sempre em mutação, tudo está continuamente se desintegrando de momento a momento, e se transformando em outra manifestação de vida e de energia elemental".

Sente o movimento? Trata-se de atravessarmos as situações com menos gasto de energia; sem contrairmo-nos. E, idealmente falando, sem gasto de energia; se conseguirmos aproveitar a impermanência, até com ganho de energia!

No espaço (no vácuo) não há atrito. Lembra-se das suas aulas de física na escola? O atrito é uma resistência, uma força contrária, que faz com que a força inicial vá perdendo sua velocidade até parar. Sem o atrito, o movimento é contínuo. Pode imaginar isso?

Nossa mente é este continuum mental, que vai indo de uma experiência à outra sem parar. Mas resistimos à experiência. A resistência que podemos gerar a uma situação não fará com que o nosso continuum mental pare, mas sim com que a situação nos pareça parada, com que se gerem obstáculos nela.  

Uma vez sentia-me completamente bloqueada e sem alternativas; amarrada.  Conversando com um mestre, Ven. Walpola, ele me disse: "you said too many NOs!"  "Você disse NÃOS demais"! 

Quando criamos resistências, quando dizemos "NÃO!" a algo, geramos pedras (cristalizamos pedras) na correnteza do rio que inicialmente era liso, com uma plácida superfície. Ao dizermos "NÃO!" começamos a gerar atrito, resistências e a interromper o fluxo da continuidade da experiência. E quanto mais rejeitamos a situação, mais difícil e pesada vai nos parecendo a experiência, mais dolorosa e fixa ela fica, menor vai ficando o nosso horizonte, até paralisarmos fechados nela. E isso é o reflexo do nosso "NÃO!" da nossa resistência, que vai gerando obstáculos no nosso fluxo contínuo... Uma simples contração muscular denota esta recusa!

Recordo-me da fala da psicoterapeuta Elisabete Lepera: "quando se vê a vida externa de uma pessoa, e ela parece parada nos acontecimentos, monótona e desinteressante para a própria pessoa, há resistência constelada em algum lugar do psiquismo".

Projetamos nossas dificuldades no mundo externo como se este fosse separado do mundo interno, sem perceber que a mente cria a realidade que vivemos. Se a vida parece parada, é porque dentro a energia psíquica está a serviço de defender-se, resistindo. O reflexo disso é que a vida toda começa a parar...

Isto me lembra do filme "O Feitiço do Tempo" que conta a história de quando a vida literalmente trava: o personagem acorda todos os dias no mesmo dia. A história se repete indefinidamente e ele só sai da situação quando, após brigar muito com ela sem sucesso, começa a achar algo de interessante pra fazer ali dentro, já que dali não sairá. Ele se rende e abre-se de alguma forma para o que já está acontecendo; passa a procurar ali algo positivo e a criar positivamente ali dentro, onde está.

Ao contrário, quando atravessamos uma situação até o fim passando por ela toda, aceitando cada fato exatamente como é (porque bem... ele já está sendo assim!), isso nos traz uma sensação de conclusão, de completude, de ter vivido tudo e, consequentemente, não ter deixado nada por fazer. Experienciamo-nos capazes de superar e concluir. Descobrimos uma força que não sabíamos que tínhamos. Estamos liberados... podemos seguir. A vida vai andar... vai seguir e o novo virá.

Isso nos libera para o futuro. E, aí sim, a bênção é a do renascimento, do recomeço. A sensação é de ganhar força e parece até que rejuvenescemos.

À medida que nos desprendemos, rejuvenescemos... Nos realimentamos do tempo. Ganhamos energia. Usamos o tempo ao contrário! Isso de fato existe. Às vezes, depois de um tempo sem ver Lama Gangchen, ao vê-lo ele está mais jovem! Ele regenera sua própria energia continuamente!

Então... atravessar é preciso. Recuperar o movimento de qualquer situação, em qualquer cena, é preciso.  
Atravessar para deixar.

Passar pelo que aparecer, com menos sofrimento, com menos resistência, com genuína aceitação, com gentileza, construindo positivamente ali dentro é a meta. E continuar caminhando. Passo após passo. Pois no fim tudo passa, tudo sempre passa.



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Conteúdo desenvolvido por: Isabela Bisconcini   
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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