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Dias de sol - Reflexões em tempos de pandemia

Atualizado dia 6/2/2020 2:27:14 PM em Autoconhecimento
por Patricia Marques Barros


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Lindos dias de sol… e a estiagem… No Japão cervos descansam sob as cerejeiras em flor, criando um cenário de contos de fada… Nos canais de Veneza, cisnes, golfinhos e flamingos… E, por todo o mundo, nuvens escuras encobrindo a luz dos espíritos…

Há muitos dias, quase não saímos de casa. Uma amiga com problemas sérios me telefona com frequência e depois de falar com ela sinto-me triste, sem energia… Só às vezes converso com outras pessoas. Saudade das pessoas queridas, solidão… Por outro lado, é possível participar de reuniões virtuais com pessoas de qualquer lugar do mundo e as lives podem ser acompanhadas por um número ilimitado de pessoas. Tão perto e tão longe…

Preocupação com a sobrevivência, com a saúde… Preocupação com a crise econômica provocada pela pandemia… Discuti com o meu marido por causa de problemas financeiros. E é claro que inúmeras pessoas estão em situação pior do que a nossa…

Assisto às notícias e me invade um intenso mal-estar. Procuro reagir… Escuto música, assisto a shows e a filmes na televisão, leio, comecei a estudar um pouco sobre psicologia junguiana…(1) É lindo, profundo e estes estudos me fizeram bem. Por enquanto, mal comecei a encarar a minha “sombra”, as minhas características indesejadas, ocultas no inconsciente. E, segundo os terapeutas, não há nada a fazer, senão suportar o desconforto. A simples consciência dos nossos defeitos nos leva a ter melhores atitudes.
Com o tempo o “self”, a instância superior e organizadora da psiquê, provoca mudanças. Mas a mudança essencial é a diminuição do ego, que volta ao seu lugar, pois é apenas um mediador entre a imensidão do mundo interno e a realidade externa. O ego sente este processo como derrota, quase como se fosse a morte. Mas é bom que seja assim. Um ego inflado é um grande peso, é um ideal que jamais conseguiríamos alcançar. Procurar aceitar a condição humana não é um processo tranquilo ou fácil, mas acaba por trazer alento. Afinal, somos humanos, imperfeitos e não precisamos corresponder a altas expectativas dos outros ou à imagem idealizada que temos de nós mesmos.
E quanto à evolução espiritual? Como já comentei, psicólogos junguianos e mestres espirituais ensinam que o “self”, que também poderia ser chamado “Cristo interno” ou “Eu Superior”, encarrega-se deste processo. De acordo com várias passagens da Bíblia, a luta é de Deus, e não do homem.

É verdade que a crise pode despertar o que há de pior em nós. Os casos de violência doméstica tornaram-se mais numerosos, o que é muito triste. Em um de seus textos recentes, Gisela Rao conta que descuidou da sua aparência e que o mesmo parece ter acontecido com a sua beleza interior.(2)
Isto porque enfrentar este período difícil causa, entre outras coisas, raiva e vontade de esganar os irresponsáveis que não se preocupam com os outros. A seguir, ela conta sobre uma conversa com um amigo, o que a levou a uma mudança de postura perante a pandemia e perante a vida.

“Mas aconteceu um lance. Recebi uma chamada de vídeo do Rocco Iacopini – um italiano que eu gosto muito. Ele tem a casa de chá “Mago Merlino”, em Florença, e estava no Marrocos para comprar especiarias. Só que o pessoal do Airbnb cancelou sua estada, e ele foi parar na casa que um amigo emprestou no deserto. Detalhe: sem nada ao redor. A única cidade estava a 20 quilômetros.
Ele me ligou para mostrar a maravilha da quietude do deserto, da simplicidade da casinha sem banheiro e com uma cama no chão, a alegria dos cachorros que viviam por lá e dos dois pássaros que dormiam no telhado da casa, à noite, junto com ele.

Quando desliguei, chorei. Chorei pelo inesperado da ligação e pela beleza da coisa toda. E chorei pelo tempo que a gente perde se depreciando, encanando com peso, beleza, grana, relações ruins e a caralh**a toda, esquecendo da grandiosidade das coisas que são tão sagradas, como a natureza. Não precisamos disso (futilidades...) pra ser feliz, né? A ficha precisa cair. Se não hoje, na pandemia, quando?”

De fato, este período complicado está levando muitas pessoas a refletir sobre o que é essencial...

Uma das coisas essenciais é o afeto. Os relacionamentos são muito importantes para todos nós. O ser humano é social por natureza e muitas pessoas estão se sentindo sozinhas durante a quarentena. É verdade que nada substitui a presença de alguém querido, um abraço faz falta… Mas o contato virtual também pode ser muito rico. Graças à tecnologia podemos conversar com pessoas do mundo todo e um evento virtual pode atingir um público muito maior do que uma reunião presencial. Afinal, não é qualquer evento que atrai um grande público, considerando-se fatores como o deslocamento e outras despesas. Provavelmente, várias coisas vão mudar depois da pandemia, o mundo não será o mesmo… Mas tratar deste tema não é o objetivo deste texto. Tenho a intenção de tratar de mudanças interiores.

Durante estes últimos dias muitas pessoas pararam para pensar sobre a questão da impermanência. A perda de uma pessoa querida, o processo do luto é algo muito difícil... Mas os sentimentos acabam por se apaziguar... As mudanças que aconteceram nas nossas vidas e os problemas que estamos enfrentando são grandes desafios... Por outro lado, é claro que a impermanência pode ser algo positivo... A crise pela qual estamos estamos passando vai passar.

Mestres espirituais, entre eles Buda e Chico Xavier, se detiveram para meditar sobre a impermanência.  "Chico Xavier costumava ter em cima de sua cama uma placa com os dizeres: “Isso também passa!” Perguntaram a ele o motivo… Ele disse que era para que quando estivesse passando por momentos ruins, lembrar-se de que eles iriam embora, que iriam passar, e que ele estava vivendo aquilo por algum motivo. Mas a placa também era para lembrá-lo de que quando estivesse muito feliz, ele não deveria deixar tudo para trás e se deixar levar, porque esses momentos de euforia também iriam passar, e momentos difíceis viriam novamente". (3)
Esta é uma lição de como chegar ao equilíbrio emocional. E assim aprende-se também a lição do desapego, o que torna possível chegar ao que é essencial.

Estes dias difíceis vão passar. Depois do inverno sempre é possível voltar a florescer. A primavera sempre vem, não é verdade? E a árvore que voltou a florir em outra primavera já não é a mesma do ano anterior, amadureceu...
Heráclito disse que nós não podemos entrar duas vezes no mesmo rio. Ele tinha razão. A água no rio hoje é completamente diferente da água na qual nós tomamos banho ontem. Ainda é o mesmo rio.
Quando Confúcio estava na margem de um rio assistindo seu fluxo, ele disse: "Oh, flui assim dia e noite, sem fim".
(4)
Nós mudamos, sim. Tudo muda… Assim é a vida, é a lei da impermanência, da qual falam os budistas. Mas a nossa essência permanece a mesma, é claro. E a jornada é a busca pelo que é essencial. Assim continuamos a caminhar, aprendizes, peregrinos...

1 – Vai para dentro, com o psicólogo Marlon Reikdal 
2 - #BlogDaGiselaRaoNoUOL
3 – Fonte: https://www.melhorconsciencia.com.br/2011/10/isso-tambem-passa-chico-xavier/
4 - Fonte: www.viverconsciente.com/textos/impermanencia.htm
Texto Revisado

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Conteúdo desenvolvido por: Patricia Marques Barros   
Sou jornalista e advogada. Atualmente sou funcionária pública. Sempre me interessei por questões que envolvem comportamento e o desenvolvimento pessoal. Espero contribuir um pouco para o bem-estar e felicidade de algumas pessoas!
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