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Entre dois mundos - Capítulo 2

Atualizado dia 9/3/2010 3:06:42 PM em Espiritualidade
por Satyananda


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Depois da experiência do homem luminoso e do filme, que na verdade era uma sugestão pra gente viver numa eterna juventude e responsabilidade com a nossa felicidade, numa eterna reflexão sobre como se manter verdadeiro o tempo todo. Depois desse filme, depois do encontro com esse homem, Marcio caminhou a pé até sua casa. Lembra de ter chegado e observado seu cachorrinho de estimação que se chamava Toti. Ao olhar em seus olhos, teve a estranha sensação de que nunca tinha olhado de fato para ele. Teve a certeza de jamais ter percebido aquele ser e que o brilho naqueles olhos era o mesmo que ele tinha acabado de perceber em tudo à sua volta. A diferença entre o brilho dos olhos do animal e o dos homens na rua, com quem trocara olhares, é que o Toti era presente. Sempre se colocava numa condição de afeto, de companheirismo.

Naquele dia, antes do filme, pegou o cachorrinho e o colocou no colo. Cortou seu pêlo da forma mais intuitiva possível... e realmente ele ficou horrível. Mas estava quente e deu pra perceber que ele tinha ficado feliz. Quando regressou da rua, Toti veio recepcioná-lo na porta: trocaram um olhar profundo... e parecia que era o primeiro “oi, tudo bem?” na vida deles e ele lhe mostrou a patinha direita, apontou em sua direção e puxou, no meio da patinha, com o dente, um pêlo que ele tinha esquecido de cortar.

Marcio falou pra ele: "Toti, esqueci de cortar o pêlo dentro da sua patinha, né? Que falta de educação"! Daí, ele se viu conversando de verdade com um ser, igual ao ser que reonhecia dentro dele, com a mesma sensação. Só que era um ser dentro de um cachorrinho. Um cachorrinho que fora recolhido na rua... e o tempo inteiro emitia a gratidão das pessoas que são salvas – porque ele latiu tanto na porta da casa até conseguir entrar um dia... e ser adotado...
A porta estando aberta, ou não, ele sempre ficava na parte de dentro e parecia que, com aquele tamanho minúsculo, queria dar a vida pra defender a casa de qualquer tipo de invasão. Aquele cachorrinho estava na porta latindo pra mostrar a gratidão que tinha. Foi assim que ele sentira. Mas não foi só com o Toti que isso aconteceu.

Naquela noite, Marcio não dormiu direito, não conseguia mais chorar, nem falar também; sem vontade de conversar ou de olhar pra alguém. Parecia até que era fácil sentir os sonhos das pessoas, os sentimentos, as vontades... pelos gestos, pelo tom de voz...

Ele se recolheu e se trancou no quarto, sentou-se e passou uma noite isolado olhando pro nada. Dia seguinte, foi até o parque, sentou embaixo de uma árvore  e ficou olhando pra tudo em volta. Para os pássaros, as pessoas andando de bicicleta, outras correndo e, pela primeira vez, acreditou que existia o paraíso, ali, agora, no presente.

Na sua infância, lembrava das histórias de Adão e Eva, do paraíso, da gente vir pra Terra e ser expulso do Éden porque cometeu o pecado original. E nunca entendeu direito isso e achava uma tristeza enorme a gente toda estar aqui porque um casal errou... Nem sabia ao certo... Não tinha muita reflexão sobre isso. Mas, naquele dia, entendeu que o paraíso era aqui e a gente simplesmente não via... ou não vê. O pecado original é a gente não perceber que está no paraíso... Aquela reflexão era tão intensa e verdadeira que, por conta dessa percepção, Marcio passou três dias em silêncio absoluto. Um silêncio que envolvia o corpo e os sentidos, que parecia que ia conseguir ouvir até o som do próprio silêncio. Era profundamente extenso. Uma sensação de paz que dava a capacidade de se olhar pra cada pessoa e não pensar nada deles.

Com o tempo, percebeu que esse silêncio, na verdade, era a ausência total de pensamento. O fluxo de pensamentos tinha parado, a respiração tinha se alterado. Ele já não era literalmente a mesma pessoa de antes do filme... Foi um dia de muita paz. Lembra que foi pra faculdade, as pessoas o procuravam para conversar e ele só emitia um sorriso tímido. Parecia estar vendo as pessoas pela primeira vez. Era a sensação de uma criança que tinha acabado de nascer no corpo de um pré-adulto. Era tudo tranqüilo, pacífico e sem julgamento. Não havia julgamento porque não havia idéia da nada. Ele estava vendo tudo e as pessoas pela primeira vez!

Os efeitos especiais do dia do carroceiro, na terceira vez em que viu o filme, desapareceram, mas ficou uma coisa melhor no ar. Ficou uma sensação de vida. Que toda aquela vida tinha um significado, tinha um por quê. Praticamente as pessoas conversavam, se esbarravam umas nas outras, mas aquilo tudo estava pré-determinado, estava em harmonia. Mesmo as pessoas que ao longe pareciam tensas, nervosas, ainda assim, dava pra entender o que elas estavam sentindo, como se o Marcio tivesse sentindo o mesmo setimento de cada um.

Não havia nenhuma experiência religiosa, nenhum conhecimento mental pra poder balizar isso. Mas também ele não estava se importando de forma nenhuma com isso. Não estava preocupado com nada. Estava simplesmente vivendo. Foram três dias em silêncio, cheios de atividades, simplesmente respondendo o que as pessoas perguntavam, sem nenhum tipo de questionamento sobre nada. Até que no terceiro dia seguido de silêncio, o Marcio chega em casa e a mãe o chama num canto e fala que ele está se drogando, que aquela vida de surfista ia dar nisso, que as amizades iam levar pra isso. Começou a gritar, brigar e, no calor dessa discussão, teve que responder, teve que colocar que nada acontecera, que não tinha nada importante pra relatar, que ele só estava vivendo em paz.

Então, ele sentiu um calor no corpo todo, um peso na barriga, aquela sensação de susto que a gente passa de vez em quando, que mais parece uma pancada no estômago que um simples sentimento que está entrando pela mente, pelo corpo. Ele sentiu algo entrando pela barriga, sentou no seu quarto e chorou muito. Então, o sonho de perfeição, o sonho do paraíso, a visão de unidade com tudo em volta desapareceu. E ficou aquela sensação do Marcio antes do filme, daquela pessoa que vivia sem significado, mas estava bem, ou seja, não sabia de nada, no entanto, era igual a todo mundo em volta. Se não estava feliz, encontrava felicidade na felicidade dos outros, se não estava feliz com a felicidade dos outros, ligava a televisão e esquecia. Esquecia de tentar entender o que que a gente está fazendo aqui e pra que que serve tudo isso. E agora, agora sim, começara a doer. Porque agora ele estava entre dois mundos. Ele sabia que existia algo, mas não sabia mais voltar para aquele sentimento, para aquela visão. Ele também não era mais o jovem que tinha entrado no cinema. E aí, começa uma busca intelectual, uma busca pela mente pra tentar entender o que eram aquelas luzes, o que era aquela paz infinita e o que era aquela sensação de unidade que produzia um êxtase quase que ininterrupto. Um viver quase como se a gente estivesse olhando tudo pela primeira vez... Daquele dia em diante, passou a existir uma busca frenética sobre o que aconteceu na consciência daquele jovem...

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