ÉTICA POR INTERESSE X ÉTICA POR PRINCÍPIO
Autor Dalton Campos Roque
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 11/25/2025 10:45:26 AM

A Cisão Ética Fundamental
A sociedade humana, em seu complexo emaranhado de relações, parece orbitar em torno de dois polos éticos antagônicos e, muitas vezes, conflitantes. De um lado, a ética por princípio, uma força motriz interior, inalienável, que emana da consciência individual e se alinha com uma noção universal de cosmoética - um senso de justiça, integridade e compaixão que transcende contratos sociais. Do outro, a ética por interesse, uma caricatura utilitarista da moral, que não passa de um comércio de aparências, uma máscara conveniente usada para proteger mercados, reputações e negócios. Esta última não é ética genuína; é uma transação calculista, uma vida dupla onde o bem é performático e a conduta, uma moeda de troca.A falência ética que testemunhamos não é apenas a ausência generalizada de moral, mas a sua corrosão por dentro, a sua substituição por um simulacro tão eficaz que confunde a própria sociedade. Este artigo busca dissecar essa patologia social, investigando suas manifestações no espiritualismo mercantilizado, na cultura da "Lei de Gerson" e na hipocrisia que se tornou o padrão de conduta.
1. A Ética por Interesse: A Máscara do Mercador
A ética por interesse é filha legítima do pragmatismo extremo. Ela não pergunta "O que é correto?", mas "O que é conveniente?". Sua pergunta fundamental é: "Como esta ação será percebida?" e não "Qual é a sua essência moral?". É a ética do marketing pessoal, onde a virtude é um produto a ser vendido ao "juízo público".Nesse modelo, um empresário poluidor doa para causas ambientais, não por amor à natureza, mas para lavar sua imagem. Um político defende bandeiras sociais não por convicção, mas por pesquisas de opinião. A máscara é temporária porque é situacional: é vestida em momentos de vigilância pública e retirada na sombra do anonimato ou quando os custos da ética superam seus benefícios. É uma vida dupla exaustiva, que fragmenta o indivíduo e corrói a confiança social, pois ninguém pode discernir onde termina a persona e começa a pessoa.
2. A Ética por Princípio: A Voz da Cosmoética
Em contrapartida, a ética por princípio é a coluna vertebral do caráter. Ela não é negociável e não flutua conforme as circunstâncias. Vem "da alma, do coração", como uma bússola interna que aponta para o Norte da integridade. O termo "cosmoética" é crucial aqui: sugere uma ética cósmica, universal, que transcende culturas, leis humanas e dogmas religiosos. É o entendimento profundo de que somos parte de um todo interconectado e que nossas ações, boas ou más, reverberam nesse tecido.Quem age por princípio não precisa de um público. Sua plateia é a sua própria consciência. A ação correta é realizada mesmo que ninguém veja, mesmo que haja um custo pessoal, pois a maior recompensa é a coerência interior. Esta ética é o antídoto para a vida dupla; é a unificação do ser, onde o público e o privado são um só.
3. A Falência Ética e a Hipocrisia Espiritual: Pirateando a Sabedoria
O autor levanta um ponto devastadoramente preciso: "Qtos espiritualistas pirateiam livros de autores que tentam sobreviver dignamente deles, cavando minhoca no asfalto." Esta é uma das contradições mais gritantes do nosso tempo. Em nichos que se autoproclamam guardiões de valores superiores - como comunidades espiritualistas, de autoajuda ou de desenvolvimento pessoal - a incoerência é epidêmica.Como pode alguém que busca iluminação, que discute compaixão e desapego, violar o direito mais básico de um criador? O ato de piratear um livro espiritual não é apenas um crime; é uma profunda contradição metafísica. É querer absorver um conhecimento sagrado através de um ato mesquinho. Enquanto o autor "cava minhoca no asfalto" - uma metáfora poderosa para o trabalho árduo e quase impossível de sobreviver com arte e intelecto num ambiente hostil - seu suposto discípulo o rouba, acreditando que o fim (o acesso ao conhecimento) justifica os meios (o furto). Isso demonstra que a "espiritualidade" para muitos é apenas outro produto de consumo, outra máscara da ética por interesse. Busca-se a elevação da alma com a mesma mentalidade com que se compra um produto em promoção: pagando o mínimo possível, idealmente nada.
4. A "Lei de Gerson": A Maldição do Jeitinho Brasileiro e sua Universalidade
A "Lei de Gerson", famosamente propagada em um comercial de cigarros nos anos 70, sintetiza a ética do interesse em sua forma mais pura e perniciosa: a ideia de que "levar vantagem em tudo" é o objetivo máximo da vida inteligente. O autor a define como "uma maldição egoísta onde tirar vantagem (roubar) é proibido apenas com a arma na mão."Esta é a normalização da imoralidade desde que haja impunidade. O roubo é condenado não em sua essência, mas em sua forma. É errado ser pego. A ética, aqui, é reduzida a um sistema de vigilância e punição. Se não há um policial, uma câmera ou um testemunha, o ato é tacitamente "permitido" pela lógica distorcida do indivíduo.
Esta mentalidade é um câncer social. Ela explica o corrupto que desvia milhões e se sente um vencedor, o sonegador de impostos que se gaba de sua esperteira, o profissional que entrega serviço meia-boca porque o cliente "não vai perceber". É a vitória da astúcia sobre a honestidade, do oportunismo sobre o caráter. A "Lei de Gerson" é a antítese da cosmoética; é uma ética de curto prazo, que ignora as consequências sistêmicas do individualismo predatório, onde a confiança se esvai e a sociedade se transforma em um campo de batalha onde todos desconfiam de todos.
5. A Coerência como Revolução Silenciosa
Diante desse panorama desolador, a pergunta que se impõe é: há saída? A resposta talvez não esteja em grandes revoluções políticas ou em novas doutrinas morais, mas em uma revolução íntima e silenciosa: a prática da coerência.A verdadeira mudança começa quando o indivíduo se recusa a vestir a máscara. Quando o espiritualista compra o livro, mesmo podendo baixá-lo de graça. Quando o empresário escolhe não poluir, mesmo que a fiscalização seja falha. Quando o cidadão paga seus impostos, não por medo da multa, mas por entender sua função social. É o triunfo da ética por princípio sobre a ética por interesse.
Viver com princípios em um mundo de interesses é um ato de resistência. É "cavar minhoca no asfalto" - é um trabalho difícil, ingrato e muitas vezes solitário. Mas é o único trabalho que constrói uma fundação sólida para o self e para a sociedade. A cosmoética não é uma abstração; é a lei natural que rege as consequências de longo prazo. Sistemas baseados no egoísmo e na vantagem acabam por colapsar sob o peso de sua própria desconfiança e injustiça.
Conclusão: Restaurando a Alma do Mundo
A falência ética não é um destino, mas um sintoma. O sintoma de uma humanidade que, em sua corrida frenética por sucesso, segurança e aprovação, esqueceu-se de sua alma. A distinção entre ética por princípio e ética por interesse é a linha que separa a integridade da conveniência, o ser do parecer.Enquanto celebrarmos os "espertos" e menosprezarmos os "ingênuos" que insistem na honestidade, estaremos alimentando a própria maldição que nos consome. A cura está em cada escolha diária, em cada momento em que optamos pelo princípio, mesmo que ele não traga "vantagem". É na sombra dessas pequenas, mas corajosas, decisões que a verdadeira ética - a que vem da alma e se harmoniza com a cosmoética - pode, lentamente, refazer o tecido rasgado de nossa humanidade. A restauração começa não "lá fora", mas dentro de cada um de nós, no silêncio de nossa consciência, onde não há plateia, apenas o nosso juízo final e imediato.
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Autor Dalton Campos Roque Médium, projetor astral consciente, sensitivo, escritor e editor consciencial, autor de dezenas de obras espiritualistas. Eng. Civil e Professor de Informática (aposentado), pós-graduado em Estudos da Consciência com ênfase em Parapsicologia, e em Educação em Valores Humanos (linha de Sathya Sai baba). @Consciencial YT: @DaltonRoque E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
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