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Humildade... o caminho difícil do ajoelhar-se

Atualizado dia 5/7/2013 8:59:53 AM em Espiritualidade
por Alex Possato


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Lama Padma Samtem, em foto de Thiago Teixeira (Jornal A Tarde - Salvador)

Acabo de voltar de um retiro de ensinamentos do budismo tibetano, com o Lama Padma Santem... um gaúcho super envolvente, que largou sua carreira como professor de física da  Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para se tornar um monge. Budista.

- O rapaz virou pra sua esposa e disse: mulher, comprei uma cama pra sua mãe. Cama redonda.

- ?!? Redonda? Por quê?

- É porque ela dorme enrolada...

Assim, o Lama recheava as explicações profundas da psicologia budista sobre o comportamento, onde a imagem arquetípica da cobra possui um papel importante, com piadas aqui e ali, com seu jeito simples, calmo e humilde de ser. Sim, humilde. Atendia a todas as perguntas, por mais descabidas que pudessem soar ao meu ouvido. Não perdeu a tranquilidade, apesar de horas ininterruptas de trabalho. Parecia não se importar nem um pouco enquanto as pessoas reverenciavam-no enquanto ele passava, e se prostravam três vezes no chão, antes de acomodarem-se na almofada de meditação. Pois é, caiam no chão três vezes. Bem... eu e mais meia dúzia de gato pingado não. Tenho dificuldade de me prostrar até para o meu mestre, e achei que não era pro meu “bico” cair de joelhos e cabeça no chão por causa de um monge de outra linhagem...

Mas o fato de não me prostrar não saiu da minha cabeça. Minha namorada, que me acompanhou, não teve problemas com isso. Fiquei pensando, pensando. Ela, dias atrás, quando ouviu eu reclamar que um cachorro fugidio do vizinho urinara na minha varanda, enquanto eu falava em chutar a bunda do canino, silenciosamente pegara um balde, sabão, desinfetante, e... lavou a área! Só isso. Não falou nada.

Este mesmo cachorro, que me fizera limpar os sacos de lixo que ele volta e meia estoura na frente da minha vila, espalhando restos de comida pela zona sul de São Paulo inteira, aprontara novamente. E meu vizinho, silenciosamente, vassoura, pá e saco de lixo na mão, limpara tudo cuidadosamente, sem abrir a boca.

Eu, com meus probleminhas infames, fico chorando as pitangas...

Meu avô falava isso: chorar as pitangas... reclamar, chororô, mimimi... Vez em sempre, eu alerto meus clientes de terapia sobre a bobeira de ficar dando força pra criança interior ferida, reclamando, reclamando, reclamando... Não importa qual o problema (e lido com problemas bem sérios como terapeuta, assim como já passei e passo por situações cabeludas na minha vida pessoal), o chororô é uma estratégia da mente doente, para sair do estado de presença. Para sair do aqui e agora. Para deixar de estar imerso em seu Eu superior que está sentadinho, bonitinho, perfeito, tranquilo... humilde e... poderoso!

Enquanto identificado com o sofrimento, estou vulnerável ao carrossel das emoções e pensamentos desenfreados. Enquanto identificado com a mente, acredito que o fato de prostrar-me ao chão significa alguma coisa. E por isso, não faço. Não estou dizendo que todos os discípulos que se jogavam ao chão tinham esta consciência. Que importam os outros? Tudo que ocorre no mundo, tem a ver com o significado e sensações que conecto.

Mas algo de muito profundo afetou-me neste retiro. Já pratico meditação há anos. Com mais ou menos perseverança, mas pratico. Yoga também. Espiritualidade, desde que me conheço por gente. E posso dizer que somente agora algo de muito gostoso começa a ocorrer. Durante muito tempo busquei ser o cara perfeito, com o comportamento irretocável, para alcançar algum céu que minha mente iludida acreditou. Mas agora, começo a estar confortável com meus defeitos. Começo verdadeiramente a me aceitar, com meus vícios, defeitos de personalidade, com minha arrogância... E também com meu lado luminoso, bondoso, compassivo... bem, não preciso me elogiar, né? Começo a honrar e respeitar profundamente os professores e mestres que passaram pela minha vida. E assim, percebo também os momentos que não honro. E tão logo vejo isso, posso baixar a cabeça e dizer:

- Errei.

Fui um dos últimos da fila a reverenciar o Lama Padma Santem. Abaixei profundamente a cabeça. Então levantei, e ele me olhava com os olhos intensos, sem piscar. Senti-me embaraçado, com dificuldade de falar. Como se eu precisasse... Balbuciei:

- Sou discípulo de Prem Baba. Vim beber os seus ensinamentos. Ele me olhou compassivo, e suavemente disse:

- Não o conheço.

- É de uma linhagem indiana. Bakti Yoga.Ele respirou, sem deixar de me fitar.

- É um caminho muito bonito, esse... E fez segundos de silêncio, onde minha mente parou por uma eternidade. Nada passou realmente pela minha cabeça naqueles instantes.

- Peça a ele para orar por mim, finalizou o mestre.

Fiquei mudo. Reverenciei ele mais uma vez e me afastei.Entendi. Gratidão, Padma Santem. Humildade é algo que ocorre. Ocorre quando a mente verdadeiramente se rende. As emoções infantis estão curadas. Abre-se um espaço interno de não reatividade, embora os pensamentos possam pulular, aqui e ali. Assim, algo profundo e divino pode tomar posse, inclusive da mente racional. Compreendi nestes milésimos de segundo, o significado da humildade, a mesma humildade que brilhava em Chico Xavier, Madre Teresa, meu guru e tantos seres de luz, que em algum momento, se renderam ao Deus que habita a tudo e a todos.

Alex Possato é terapeuta e coordena os trabalhos da Casa Amor em Movimento

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Conteúdo desenvolvido por: Alex Possato   
Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica
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