O Chamado de Assis: Uma Nova Era de Amor por Toda a Criação
Autor Marcia Dario
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 11/25/2025 2:20:37 PM
São Francisco de Assis, o "Poverello" que viveu há quase um milênio, continua a ser uma das figuras mais cativantes e revolucionárias da história. Sua vida, marcada pela radicalidade do Evangelho e por um amor incondicional a todas as criaturas, ecoa com uma urgência particular em nossos dias. O que Francisco nos ensina, afinal, sobre a espiritualidade, o cuidado com os animais, a ação prática (quase uma Cinesiologia da compaixão) e o uso da tecnologia em um mundo que anseia por uma nova era de harmonia?
O Amor Universal de Francisco: Além dos Limites Humanos
A história de Francisco é a de uma conversão profunda. De um jovem rico e boêmio, ele se tornou o arauto da simplicidade e da fraternidade universal. Sua espiritualidade não era abstrata; era encarnada, vivenciada em cada encontro, em cada escolha. Para Francisco, toda a criação era um espelho da bondade divina, e cada criatura, um irmão ou irmã. Seus sermões aos pássaros, o lobo de Gubbio amansado por sua mansidão e a maneira como chamava o Sol de "irmão" e a Lua de "irmã" não são meras lendas, mas testemunhos de uma visão de mundo onde não havia hierarquia de valor entre os seres. Ele via Deus em cada folha, em cada gota dágua, em cada animal, convidando-nos a uma comunhão profunda com a natureza e seus habitantes. Esta perspectiva, expressa poeticamente no "Cântico das Criaturas", celebra a interconexão de todos os elementos da criação, desafiando o antropocentrismo predominante de sua época e antecipando o que hoje chamamos de ecologia integral.
Essa "espiritualidade franciscana" é, em sua essência, um convite à humildade e à interconexão. Ela nos lembra que não somos senhores da criação, mas parte dela, e que o amor ao próximo se estende a todas as formas de vida, desde o ser humano mais marginalizado até o menor dos insetos.
A Cinesiologia da Compaixão: Espiritualidade em Movimento
A visão de Francisco não se limitava à contemplação. Sua espiritualidade era profundamente ativa, uma "cinesiologia da compaixão", onde a fé e o amor se manifestavam em movimento, em ação concreta. Cinesiologia, o estudo do movimento, pode parecer distante da vida de um santo medieval, mas ao considerarmos a essência da sua vida, percebemos uma profunda ligação metafórica. A vida de Francisco foi um constante movimento em direção aos marginalizados, aos doentes, aos leprosos e, inegavelmente, aos animais.
Ele não apenas pregava o amor à criação; ele o vivia. Sua compaixão o impelia a agir: a curar os feridos, a proteger os vulneráveis, a interceder pelos que não tinham voz. Mais do que meras palavras, suas ações eram a manifestação física de sua fé. Ele literalmente "moveu-se" para fora dos muros da cidade para cuidar dos leprosos, uma classe social e sanitária totalmente excluída. Ele "moveu-se" para o meio da natureza para dialogar com os animais, reconhecendo sua dignidade intrínseca. Essa é a verdadeira "cinesiologia da compaixão": a translação de uma profunda convicção espiritual (amor a Deus e à criação) em um engajamento físico e prático no mundo. É o corpo em serviço do espírito, movendo-se para aliviar o sofrimento, para restaurar a dignidade e para promover a paz entre todas as criaturas. Sua vida é um lembrete de que a verdadeira espiritualidade nos tira da inércia e nos coloca em um caminho de serviço e cuidado ativo.
O Paradoxos do Nosso Tempo: Tecnologia e o Grito Silencioso dos Animais
Vivemos em uma era de avanços tecnológicos sem precedentes. A tecnologia nos permite monitorar espécies ameaçadas com sistemas de sensoriamento remoto e inteligência artificial (AI) para identificação e rastreamento, desenvolver vacinas para animais de estimação e silvestres, comunicar instantaneamente sobre casos de abandono e até mesmo criar comunidades globais de resgate e proteção animal através de plataformas digitais. No entanto, ironicamente, é também uma era onde a exploração animal atinge níveis alarmantes, a degradação ambiental avança a passos largos e milhões de animais sofrem em sistemas de produção industrial ou são vítimas de crueldade e abandono.
A tecnologia, por si só, não garantiu a "salvação" dos animais. Ela é uma ferramenta, neutra em seu potencial, mas sua aplicação depende da bússola moral e espiritual de quem a utiliza. Podemos ter os melhores aplicativos para denunciar maus-tratos (como Animal Welfare Apps) ou as mais avançadas técnicas de reprodução assistida para espécies em risco, mas se o coração humano não for tocado por uma espiritualidade de compaixão, essas ferramentas serão insuficientes. A tecnologia sem alma pode, inclusive, perpetuar o sofrimento ao otimizar sistemas de exploração, como na pecuária industrial, onde algoritmos e automação visam maximizar a produção sem considerar o bem-estar animal, ou em pesquisas que utilizam animais de forma antiética. O paradoxo reside na nossa capacidade de criar soluções poderosas, mas na nossa falha em aplicá-las com sabedoria e ética.
O Chamado para uma Nova Era: O Legado Franciscano Reinterpretado
A vida de São Francisco de Assis, portanto, não é apenas uma bela história do passado; é um farol para o futuro. Sua mensagem nos convida a uma "nova era", não de mera inovação tecnológica, mas de uma profunda revolução espiritual e de comportamento.
- Espiritualidade Integrada: Precisamos de uma espiritualidade que nos conecte não apenas com o divino, mas também com a terra e seus habitantes. Uma espiritualidade que nos incite a ver o sagrado em cada ser vivo e a reconhecer nossa responsabilidade como guardiões, não apenas como administradores. Isso implica romper com dualismos que separam o humano da natureza, o sagrado do profano, e abraçar uma visão holística onde toda a existência é interdependente e digna de respeito.
- Cinesiologia da Ação Consciente: A compaixão não pode ser passiva. Deve se traduzir em movimento, em escolhas diárias: o que consumimos, como tratamos os animais em nosso entorno, como defendemos seus direitos. Isso se manifesta em ações como a adoção responsável de animais de estimação, o apoio a santuários, a escolha de produtos cruelty-free, a participação em campanhas de conscientização e a defesa de políticas públicas que protejam a fauna e o meio ambiente. Que nossa fé impulsione nossos corpos a agir, a resgatar, a proteger, a educar.
- Tecnologia a Serviço da Vida: A nova era exige que a tecnologia seja subserviente à vida, e não o contrário. Que usemos a inteligência artificial (AI) para otimizar o resgate de animais em desastres, a biotecnologia para curar doenças e restaurar ecossistemas, a comunicação digital para unir vozes em defesa dos animais e do meio ambiente, e o blockchain para garantir a rastreabilidade e a ética nas cadeias de suprimentos. Contudo, essa aplicação deve ser feita com a sabedoria e a humildade que Francisco encarnou, priorizando o bem-estar e a dignidade de todas as formas de vida, e desenvolvendo ethical AI frameworks que incorporem valores de compaixão e sustentabilidade.
Que o espírito de São Francisco de Assis inspire a todos nós - cientistas, ativistas, líderes religiosos, cidadãos comuns - a construir uma nova era. Uma era onde o amor universal não seja apenas um ideal, mas uma realidade vivida; onde a espiritualidade guie a ação; e onde a tecnologia seja uma aliada na grande obra de salvar e honrar toda a criação. É um chamado para um mundo onde o grito silencioso dos animais seja finalmente ouvido e respondido com a compaixão que brota de um coração franciscano.
Abraços carinhoso
Márcia Dario
Márcia Dario
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Autor Marcia Dario Márcia Dario é Mestre em Comunicação e Cinesiologista por Testes Musculares. É mentora realizando sessões individuais, em jogos, game e desativação de stress emocional, medo de falar em público, ansiedade, pânico. Promove através do trabalho: autocomunicação, autoconhecimento e autodesenvolvimento. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Espiritualidade clicando aqui. |
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