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O dia da iniciação - Capítulo 6

Atualizado dia 10/22/2010 1:40:37 PM em Espiritualidade
por Satyananda


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No primeiro dia, após Marcio ser aceito como aluno no Ashram foi um momento de imensa felicidade, pois depois de tanto tempo de leitura e espera, conseguir fazer parte das aulas era um triunfo pessoal enorme; para aquele que leu a vida do Paramahansa Yogananda e viu a dificuldade que o swami teve para encontrar seu mestre, ser aceito equivalia encontrar a própria libertação.
E não era um lugar qualquer, pois ali se reunia toda sua história pessoal, sua busca espiritual, os livros, sua memória sagrada. Parecia que ele havia se preparado para encontrar esse swami, naquele exato dia, um verdadeiro e feliz renascimento!

Na primeira aula, dividida em cinco yogas diferentes, começava-se pela Hatha Yoga, depois eram mais minutos de pranayamas - aqueles exercícios de respiração que preparam o corpo para a meditação, onde a mente vai silenciando, passo a passo, o batimento cardíaco vai diminuindo, chegando em um determinado momento em que simplesmente se sentava pra meditar, com a mente calma, o corpo tranqüilo e aí aprendia-se a ouvir, a mergulhar no silêncio, de um modo profundo, repleto de bem-aventurança e uma paz incomensurável.

Aos 20 e poucos anos, percebia-se o mundo somente agora, no momento em que sua mente se esvaziava, que as aflições do corpo silenciavam e não se sentia mais o corpo, onde ele começava nem terminava, não se tinha noção de tempo, nem da sua própria respiração; eram horas de silêncio onde, de repente, um sino tocava, e a partir dele, cantava-se mantras que falavam de Ganesha, Shiva, Krishna e de Rama, mesmo sem saber direito quem era Krishna, quem era Rama, cantava-se por 15, 20 minutos com uma devoção impressionante. As aulas eram divididas como em qualquer Ashram que se preze, segunda e quarta-feira, as meninas; terça e quinta-feira, os meninos, das 19:00h as 20:30h.

Foram meses e meses de exercícios com uma alegria indescritível. Cada vez que ele se sentava para meditar, ao voltar da meditação, sabia e sentia que era outra pessoa. Em nenhuma meditação verdadeira, a pessoa que se senta é a mesma que se levanta. A cada dia o ego, ou o que restou dele, ia se esvanecendo, se extinguindo e a vacuidade que a meditação trazia junto com bhakti e as canções...

Seu mestre falava que na “volta para casa” precisava-se de duas asas de anjos, uma asa chamada meditação, silêncio interior, mente vazia, som guardado, silencioso, corpo e gesto silencioso; a outra asa era a devoção, amar realmente Deus. Os Avatares são as pessoas que vêm para a Terra sem ego e promovem ajuda a todos os seres ao seu redor, a amar todo esse sistema de forma incondicional.
Quando se cantava, entendia-se o que era esse amor... Ao sair do Ashram à noite, Marcio pegava o ônibus para casa, sentava e sentia de verdade cada ser humano, os olhos do trocador, cansado, sonolento, atrás da catraca e, cada um ali, que enfrentava uma rotina, carregando pelas costas o peso do dia, ficando às vezes duas horas olhando pela janela sem ver nada; sentia mentes e corpos cansados e pessoas sem esperança. Mas de uma forma incrível, para ele, andar do lado do mais humilde era infinitamente melhor do que sentar na faculdade ao lado das pessoas que estavam curtindo a vida. Não conseguia entender como elas festejavam enquanto em volta haviam pessoas com falta de alegria, sem possibilidades...

Os contrastes foram ficando cada vez mais acentuados. Qanto mais meditação mais devoção, mais silêncio, menos ele conseguia viver com pessoas que achavam essa vida maravilhosa; não a vida do comer dos pássaros, do vento, a vida pura; mas a vida mental, a vida imposta, aquela vida em que a gente fala que as pessoas viraram pessoas de-mentes, pessoas que mentem para elas mesmas, porque a natureza da mente – me desculpem o trocadilho - é produzir mentiras. E no meio dessas mentiras pessoais, ele começou a entender o que é o ego, uma persona, uma máscara que as pessoas usavam para se colocar sempre em uma condição melhor do que elas mesmas, melhor do que os outros e, em alguns casos, até, em condições piores, doentes, porque aquilo desfazia algum tipo de bem que até hoje não entende.

O ego é a nossa máscara e a meditação tira a nossa capacidade de ver o ego no outro. Nesses meses, chegar perto de qualquer pessoa de atitudes mundanas, engajadas na realidade vigente, era incômodo, era uma sensação de dor física que pegava o estômago, um enjôo... e com o ouvido familiarizado agora ao silêncio, não conseguia conversar, nem mais jogar conversa fora. Parecia que a vida era mais importante do que relatar coisas que aconteceram de forma superficial ou simplesmente julgar o outro, falar, analisar o outro sem estar dentro dele. Como é que pode a meditação e a devoção o levarem a sentir o outro, falar de uma pessoa que você já sabe o que está sentindo?

Naqueles dias era praticamente desnecessário falar ou conviver com qualquer pessoa, porque parecia que você sentia realmente que a vida que habita dentro de cada um de nós, é a mesma que habita todo o cenário externo, e você percebia que cada pessoa queria somente ser feliz, e viver em paz, mas parecia que o tempo já não importava, era um contraste enorme entre essa sensação, esse brilho no olhar de cada pessoa, como se fosse uma criança perdida nos olhos de um adulto, era impressionante a diferença entre este ser que habitava em cada um de nós e os pensamentos externos, tendenciosos, os pensamentos do ego.
Naquele dia, Marcio entendeu uma frase simples que martelava em sua cabeça sobre o Cristo, “o Cristo ser o que ele é”. Ramana falava o tempo inteiro em ser, os mestres falam sempre que temos que manifestar a nossa essência pura.

Assim, ele compreendeu quem era Cristo... e o anti-Cristo... Aquilo que não é nada essencial, a superficialidade das ações, gestos, da fala, era uma doença e tantas vezes via o seu mestre passar, sorrir e gesticular com a boca aqueles barulhinhos de “tsc, tsc, tsc”, de desaprovação... e dizia: o homem está doente”... sorria e comentava: “penso e logo desisto”. Passava sempre sincero, verdadeiro, honesto, leve, gentil, carregando o peso de todos em seus olhos, mas nunca lhes devolvendo nenhum mal estar.

Assim era a vida de aluno daquele Ashram... Determinado dia teve uma crise de choro, comprou flores e frutas, e foi ao Ashram, eram 17:00h e a aula começaria 2 horas depois. Fazia isso algumas vezes para meditar, mas nesse dia chegou sem motivo algum.
A mãe do Ashram, a Mãe Sutra – que significa ensinamento, falou: filho, você vai ser iniciado hoje? Ele falou: não, não sei, só cheguei mais cedo para meditar. Aí, ela disse: coloca a sua roupa branca e espera no vestiário, por favor. De repente, ele escutou uma batida no vestiário, seu mestre entrou e falou: Bom, você, já está há algum tempo aqui como aluno e chegou o dia de morrer, chegou o dia da sua iniciação, vem comigo que chegou a hora de você optar, se você quer realmente a felicidade plena, ou simplesmente caminhar como os outros homens que ficam entre a alegria e a dor. Venha comigo, filho!

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