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Dormindo com o Anti-Cristo? Indagações sobre a sombra e os nossos valores

Atualizado dia 3/25/2007 9:54:59 PM em Psicologia
por Andrea Pavlo


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Estava no metrô, sentada, com uma dor terrível nas pernas e uma vontade enorme de que aquele trem chegasse logo ao seu destino, quando ouvi a conversa entre duas pessoas ao meu lado, um homem e uma mulher. A mulher dizia que o mundo não tinha mais valores, que as pessoas não tinham mais respeito e que a água estava terminando. Na hora entendi (cá com meus botões e com a desconexidade do diálogo) que a mulher estava somente tentando impressionar, por meio da inteligência, o rapaz que a acompanhava, já que ela mesma não primava pela beleza. Porém, senti um toque de discurso pronto, Jornal Nacional e Fantástico na sua conversa. Comecei claro, a pensar no assunto.
Sempre me lembro da história dos índios brasileiros. Eles vivem em ocas no meio da mata, sem roupa, sem lenço e sem documento. Aí, um belo dia, encontram um pessoal estranho, cara-pálida, com um monte de novidades interessantíssimas que vão de espelhinhos a TV´s de plasma e se encantam com a civilização. Ah, a civilização, como isso é bom, não é mesmo? Mas, bem, voltemos aos índios. Então chega um grupo de ambientalistas e diz que não, que eles não poderão passar a usar roupas, assistirem TV e nem nada disso, porque isso não é coisa de índio. Que eles devem simplesmente preservar os seus costumes e tradições e esquecer que, um dia, viram uma pessoa mais branca do que eles (e que se sentia bem mais confortável, claro). Enquanto isso, crianças indígenas são sacrificadas, na hora do nascimento, por serem gêmeas ou por apresentarem alguma deficiência, em prol da tradição. Outras morrem antes dos três anos de idade porque não tem alimentação adequada, depois que a caça acabou e eles perderam as terras onde plantavam. Então, que diabos, eles não podem usufruir das benfeitorias porque são índios? Por que deram azar de nascer índios fora de época?
O fato é que, sim, as coisas mudam. Eles são índios e devem, se quiserem, manter as tradições que acharem por bem e sim, merecem a terra que lhes é de direito há gerações. Mas porque não podem usufruir dos benefícios da ciência, da educação para os seus filhos e de todas as coisas boas que também existem no mundo. Eles têm mais para nos ensinar do que nós a ensinarmos para eles, poxa! Então, por que ainda somos tão apegados aos velhos valores?
De fato, o ser humano passa por uma mudança de valores. Não acredito que seja a falta deles, porque ninguém vive sem isso, mas uma mudança que, de tão significativa, passa a ser quase incompreensível para a maioria de nós. Ao bem da verdade, isso já deve ter acontecido antes, e aconteceu. Quando se lembra um pouquinho da história, percebe-se que em muitos momentos, coisas que hoje parecem cruéis ou ridículas, eram consideradas perfeitamente aceitas e isso era uma questão de valores. Valores como a virgindade, a diminuição da mulher, os casamentos arranjados e outras pérolas históricas sempre aconteceram. E aí você me pergunta: mas e a vida humana? Ninguém liga mais, mata-se por nada. Sim, e sempre se matou por “nada”! Hitler matou milhares de judeus por puro complexo de Édipo mal resolvido. Alexandre, o Grande, matou muita gente porque achava que deveria e por aí em diante. Esse “nada”, na verdade, são os motivos ocultos de cada ser humano que, de uma maneira cruel ou não, tem uma incrível necessidade de encarar a sua sombra. Todas as épocas têm o seu anti-Cristo. A diferença é que, agora, o anti-Cristo não está mais personificado numa única figura, e sim em toda uma sociedade. É a sombra da sociedade, que sai taciturna à noite para assombrar os nossos lares felizes.
Um menino de oito anos morreu arrastado por bandidos no Rio de Janeiro e todos ficaram chocados. Nos idos de 68, em plena ditadura militar, era comum fazerem isso com garotas de 16 anos que ousassem burlar o sistema. Às vezes não tinham feito nada, eram vítimas inocentes, tão inocentes quanto um menino de oito anos. Claro que nós nos impressionamos mais com uma coisa que poderia ter acontecido com você ou comigo, com um dos nossos filhos, netos, irmãos ou primos. Mas isso só denota que a crueldade humana é tão inerente quanto a bondade, a complacência ou a fome. A sombra é algo que pertence a todos nós, a cada um de nós, assim como a toda a sociedade, a todo planeta. As calotas que derretem, os maremotos, os furações nada mais é do que o mesmo “nada” que Hitler sentia. O mesmo nada que nós move a xingar alguém no trânsito e a pensar em matar aquela vendedora maldita que disse que você precisa de uma calça de dois números maior.
E, mais uma vez, chegamos ao ponto. Então, não é a sombra que incomoda. Não é o nosso lado negro, sombrio, ruim que assusta, mas o que fazemos com ele. Podemos simplesmente não crescer, como o Peter Pan, e passar a vida literalmente fugindo da nossa sombra. Podemos encará-la como uma amiga e parar de ser dominados por ela. Podemos, sim, domina-la, mas não sem antes conhecê-la. A sombra é aquela parte em nós que sabemos que existe, mas não gostaríamos que existisse. E que passamos horas, dias, semanas, anos tentando esconder de todo mundo.
Então, valores? É, não existem valores. Existem os nossos valores, existe o que faremos com a nossa maldade. A água está acabando? Sim, e eu fico louca quando vejo uma velhinha empurrando uma folha pelo quintal inteiro com um fio de água de mangueira que daria pra matar a sede do nordeste. Mas isto é, sim, aquilo que plantamos. Aquilo que a nossa natureza perseguiu por gerações de evolução. Hoje o homem consegue ver, enxergar isso e esse é o ponto evolutivo mais importante da nossa história. Agora sim, com essa consciência, conseguiremos agir. Agora sim poderemos nos conhecer e conhecer o planeta de modo a conseguir realizar alguma mudança. O que se foi se foi. A consciência era outra. Daqui pra frente ainda podemos fazer algo se não nos apegarmos a estes velhos e parcos valores que já não nos servem de nada.
Mais alma. Menos ego. Sempre.

Texto revisado por: Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Andrea Pavlo   
Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa.
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