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O encontro com a polaridade complementar

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 14/07/2003 11:49:27


Devido ao fato de elegermos algumas características humanas como pertencentes à nossa noção de EU, tomamos estas formas de ser uma espécie de ferramenta para todos os usos e necessidades. Nos identificamos e nos apegamos a elas, passamos a gostar delas, a admira-las, a defende-las e a estrutura-las fortemente:

Se alguém é decidido, ativo, de vontade forte e de uma autoconfiança indiscutível, ele se aproxima do ideal defendido pela comunidade local, que compara a atuação de um homem comum ao “Mito do Herói”; ou seja, diante dos olhares dos outros, ele pode:
- ter dúvidas,
- vacilar,
- parecer fraco,
- demorar a tomar decisões,
- mudar de rumo de repente ou ainda,
- mostrar-se sentimental ou emotivo demais?
É claro que não!!! Estas facetas humanas são incompatíveis com a definição popular de um herói.

Erroneamente acredita-se que estas são características que qualquer herói que se preze deve evitar por todos os modos.
Elas encontram-se hoje disseminadas, historicamente, entre homens e, mais modernamente, inclusive entre as mulheres que, por condicionamento familiar e social, sempre foram forçadas a se identificar com a polaridade oposta ao do “herói masculino”.

Continuando... Naturalmente, estas facetas são, por todos os modos, afastadas da noção de EU e vão parar em algum outro lugar que não a Personalidade consciente. São banidas do terreno pessoal. Reprime-se a Polaridade Feminina e suas qualidades de doçura, pureza e sentimento...

Imagine-se em uma situação parecida, pense comigo e faça a seguinte pergunta: Se foram banidas da Personalidade, mas pertencem ao todo das possibilidades humanas e se, todavia não desaparecerão pelo esforço de reprimi-las, para onde elas irão?
A resposta é a criação, no “herói” em questão, de uma espécie de pasta na lixeira do seu Ser, que poderia se chamar “nunca usar”, ou “nada tem a ver comigo”, ou ainda ”reprimir a qualquer custo”.

O nome técnico para esta “pasta”, em Psicologia, é “Sombra Pessoal”.
O herói ficará carente das características que reprimiu (para a sua Sombra Pessoal) e poderá cometer muitos erros em função de nunca usar tais FERRAMENTAS DE SER. Por exemplo, ele poderá querer agir impacientemente, em hora e situação errada, quando a melhor opção seria a de ficar “quietinho em seu canto”, esperando a hora certa de agir - nem antes nem depois.
Neste exemplo tão corriqueiro, nosso assim denominado “herói” comete erros por carregar um desequilíbrio interno (de Polaridades) e ele se MOSTRA através de:
- não ter paciência,
- não saber se adaptar a uma situação de impotência diante dos fatos,
- não saber ouvir, ou ainda,
- achar que é o único responsável direto por tudo que acontece (não sabe o que é perdão).

E isto tudo pelo simples fato de ter reprimido, em si mesmo, qualidades humanas que são, em si mesmas, legítimas e eficazes na adaptação madura, de homens e mulheres, ao vivido.
Lá no fundo de sua Alma ele reconhece o fato de que precisa terminantemente e visceralmente destas mesmíssimas características, para atingir um mínimo de equilíbrio em sua vida, para ser mais feliz, completo e eficiente...
Então o herói passa a procurar isso de que se tornou carente e o faz (é claro!) apenas no mundo exterior.

E o mais interessante é que o “herói” pode encontrar o que procura, já que o Universo garantiu que OUTRAS pessoas possam, ou mesmo devam, se identificar com as partes negadas na Personalidade do “Herói”.
Por obra e graça do destino, outra pessoa pode ter incorporado, em sua noção de EU, justamente as características que ele negou e pode tê-lo feito, igualmente, em função da sua experiência de vida.
Com sorte pode acontecer isso em alguém do sexo oposto ao do herói e que se verá identificada com a passividade, com a obediência aos reclamos do tempo e do destino.
Esta pessoa terá, reprimidas em sua Sombra Pessoal, exatamente as qualidades que o “herói” exerce explicitamente e assim, este encontro mágico, entre Polaridades Complementares, será seguido por uma revoada de fogos celestiais celebrando o encontro cósmico do UM LADO com o OUTRO LADO.

Concluindo: Se a vida e os desafios do herói o levam a um estilo de ser e de viver, naturalmente se cria a necessidade e a carência de alguém que incorpore tudo aquilo que, nele, foi relegado a um segundo plano. Nascem, portanto, as díades de papéis complementares onde:

- Se alguém muito fala, alguém muito ouve.
- Se alguém sempre faz, alguém nunca age.
- Se alguém sempre decide, alguém apenas segue as decisões tomadas.
- Se alguém comanda, alguém se conforma.
- A Psicologia do Mestre (que escolhe, que decide) é sempre mais exigente e cheia de responsabilidades do que a Psicologia do discípulo (que se submete e que não tem poder pessoal).
- As mulheres, historicamente, conhecem bem este fardo do “destino” de ser mulher.

Estas díades de papéis humanos complementares apresentam-se em quase todo casal que se preze e costumam ser bastante estáveis devido à interdependência de papéis complementares.

CONTUDO, A ESPECIALIZAÇÃO EM UM ÚNICO TIPO DE DESEMPENHO DE “PAPEL” OU “PERSONAGEM SOCIAL”, REPRIME A EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL DA COMPLETITUDE EM SI MESMO.

Ninguém duvida que alguém decidido e voluntarioso necessite de alguém que sempre espere dos outros uma decisão... Do mesmo modo, alguém cheio de confiança é seguido de perto por um (ou muitos) inseguro(s).
Homens “ativos e decididos” buscam mulheres “submissas e conformadas”. Mulheres “ativas e cheias de confiança” costumam atrair homens “femininos e dependentes”.

Lá do alto, o Universo assiste à cena e verifica que o infalível MECANISMO DAS POLARIDADES mais uma vez funcionou maravilhosamente bem. E isso nada tem a ver com o sexo dos envolvidos, nada tem a ver com a definição por uma hetero ou homo-sexualidade, pois mesmo nos casais homossexuais podemos identificar claramente a presença marcante da díade de Polaridades Complementares.

O fato é que:
Duas METADES COMPLEMENTARES, quando se ENCONTRAM, identificam, cada qual, no OUTRO, a possibilidade de resgatar a ORIGINAL PLENITUDE PERDIDA.

O crescimento Individual só ocorre quando somos capazes de REINCORPORAR à Personalidade as qualidades humanas que um dia possuímos, mas que se encontram há muito tempo banidas de nossa identificação pessoal e, portanto, excluídas de nossa noção de EU.

Quando esta reincorporação ocorre - por exemplo, de modo assistido na terapia de casais - nota-se a existência real do respeito e da compreensão de alguém para com os pontos de vista, valores; modos de ser, pensar ou agir do “companheiro de jornada”.


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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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