A DANÇA DO TIGRE
Atualizado dia 5/20/2006 2:59:00 AM em Autoconhecimentopor Fátima Rodrigues Graziottin
A Índia também é um país que me fascina desde a adolescência. E lágrimas silentes correm pelo meu rosto quando assisto documentários ou filmes sobre a Índia e vejo os tigres e também o rio Ganges. Ir à Índia é um sonho (ainda) não concretizado.
Lembro a primeira vez em que fiz a Dança do Tigre, em um grupo regular de Biodanza. Achei bastante difícil mas logo percebi a força "dele" dentro de mim!
Há várias formas de vivenciar o tigre. Cada vivência é realmente única e se configura da forma como cada qual está naquele momento, do quanto está disposto a entrar em vivência, do quanto consegue expressar e como quer expressar o que está sentindo, vivenciando.
Então, naquela noite, quando foi proposta - mais uma vez - a Dança do Tigre esperei que uma colega que estava muito estressada se apresentasse no meio da roda. Ela precisava expressar sua raiva e sentir e mostrar sua força, tendo em vista que estava bastante fragilizada. E minha colega ficou paralisada... Existe bastante empatia e confiança entre esta minha colega e eu. Por isso, num primeiro momento, senti vontade de empurrá-la para o centro da roda, dizendo: “Vai, guria, é tua chance, é pra ti esta vivência! Aproveitaaa, acordaaa!” Mas ela ficou paralisada e outras duas colegas se apresentaram no centro da roda.
Após a primeira dupla fazer a Dança DO Tigre, o facilitador, então, inteligentemente, deu a chance para mais duas outras pessoas entrarem na roda. Eu me apresentei e minha colega - "a estressada" - apresentou-se em seguida no centro da roda.
Fiquei muito feliz pois senti que, além de aceitar o desafio, de perceber que era importante para ela, ela confiou em mim, que fazer a Dança do Tigre comigo fora uma escolha sua! E pensei: “Vou deixar ela expressar toda sua raiva e até encorajá-la neste sentido!” E começamos nossa dança... olho-no-olho, movimentos cuidadosos de reconhecimento do "adversário" e do "território". O tempo, lentamente, ia se desviando de seu curso normal...
Aos poucos nossa dança foi se intensificando em movimentos, olhares, ataques, confrontos, recuos e muita, muita força! Repentinamente, minha colega veio com tudo, irada! Imediatamente senti não só sua imensa raiva, mas principalmente a força de seu tigre! Redobrei a atenção, os cuidados e também dei mais espaço para ela se expressar!Eu estava vivenciando a dança do tigre, em dois níveis de consciência: um, o da própria dança, dos meus sentimentos, da minha agressividade, da minha força, da minha luta interior e exterior, do meu desafio e de tantas coisas que já nem sei mais...
O outro, a consciência da dança da minha colega, da sua raiva, da sua força, do seu desespero, do querer que ela expressasse intensamente, provocando-a, dando espaço, dando continente, passando confiança, fazendo-a perceber a sua força e respeitando-a.
Foi tão lindo, tão intenso, tão forte, tão transformador, tão transcendental... que quando terminamos a dança, os colegas aplaudiram! Os aplausos ainda estão ressoando em meus ouvidos.
Foi a melhor, mais intensa, mais forte dança do tigre que vivenciei até hoje, em 13 anos de biodanza!
Para mim foi importante demais vivenciar "o dar suporte", "dar continente", "dar apoio", "sustentar", "suportar a agressividade", "a raiva", "o desafio", "a força", agindo e reagindo sem me desestruturar, sem me perder na ebulição de sentimentos, tendo uma certa consciência, num outro nível, do que estava vivenciando. Com certeza eu fui além, transcendi meus limites de forma saudável e positiva!
Na mesma noite, em outras vivências, fiz questão de reverenciair o tigre de minha colega, pois "ele"/ela realmente mereciam reverência e gratidão! Foi muito lindo, fantástico e emocionante o que senti. Aqueles sentimentos que não se consegue expressar com palavras!
Realmente, eram nossas identidades dançando, se confrontando, se respeitando, se expressando com toda intensidade, indo além e se superando!
Como diz Rolando Toro Arañeda, criador da biodanza, foi uma vivência que serviu de porta “através da qual penetramos no puro espaço do ser, onde o tempo deixa de existir e somos “aqui e agora para sempre.” Para sempre... para sempre! Esta vivência, com certeza, está impressa nas minhas células, com muita força!
Texto revisado por Cris
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