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Crônicas da Vida Invisível 2

Atualizado dia 4/1/2008 4:39:13 PM em Autoconhecimento
por Christina Nunes


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A personagem desta segunda crônica sou eu, de forma que este segundo caso pode e deve, sim, ser tomado como um testemunho.

Fez, nesta terça-feira, dez dias de um pesadelo vivido com meu filho mais velho, vitimado pela forma (graças a Deus!) mais branda da infame epidemia de dengue que vem assolando todo o Rio de Janeiro e aterrorizando os cariocas.

Dez dias de terror. De noites mal dormidas. De dias, manhãs e noites durante as quais contaram-se no mínimo, por dia, cinco horas de pé em plantões de pronto-socorro infantil, debaixo da pressão esmagadora da aflição, do indizível martírio físico e emocional, e não apenas por meu filho. Pelo próprio fato de presenciar tanto - mas tanto - sofrimento de mães e pais e de suas crianças. Pequenos prostrados por febres escaldantes, surtos de náusea, submetidos a hemogramas diários - e, a cada um deles, à torturante expectativa pelos seus resultados. Mães em desespero mergulhadas em lágrimas; pais nervosos; crianças em cujos rostinhos se retratam tristeza indescritível, desconsolo, mal estar, perplexidade pela compreensível ausência de entendimento das razões pelas quais estão flageladas por tanta agonia, como se participando de horrendo reality show ou filme de terror!

Em meio a tanta agonia, e fragilizada como todos os demais, e por conseguinte solidária em toda a imensa carga de aflição, e em sendo espírita convicta desde os idos da adolescência, bem como habituada a manter com a assistência do invisível contato constante em razão do trabalho literário desenvolvido sob as suas diretrizes, me pus, muito naturalmente, a atormentar a Espiritualidade em busca de socorro. Afinal, também sou mãe. Humana. E também me contorci de angústia e de desamparo, em meio às lágrimas amargas, a cada resultado de exame, a cada vez que via no meu filho, sempre tão alegre e bem disposto, o maltrato impiedoso dos sintomas da virose.

Ontem, após o sétimo ou oitavo hemograma, tive as cordas emocionais afrouxadas e fraquejei. Imersa em lágrimas incontidas, como em benvinda explosão de uma válvula de escape, mentalizei funda quanto sentida prece ao enfim baquear na cama para o desassossegado repouso noturno. Cobrei - praticamente exigi - do meu mentor espiritual que me presenteasse com um sinal qualquer da sua presença e do seu amparo, como em tantas vezes já fez no passado. Um alento que fosse! Que se fosse fato o processo de convalescença do menino, que me sinalizasse de alguma forma positiva que oferecesse algum reconforto após tantos dias de flagelação emocional.

Pedia, destarte, por mim e também, de entremeio, por todas as crianças - lembrando-me do intenso sofrimento coletivo presenciado naquela unidade de atendimento pediátrico do bairro onde moro. Esgotada de forças físicas e emocionais, adormeci - melhor dizendo, desmaiei - nesse estado de profunda mentalização dirigida aos mentores e aos médicos do espaço. E só fui despertar hoje pela manhã, ainda interiormente exaurida, para mais um dia de maratona às voltas com hemogramas e com filas de atendimento intermináveis.

Antes de sair com meu filho, resolvi de repente que deveria levar um livro para amenizar o cansaço do tempo de espera que se faria extenso quanto exasperante, como o fora nesses muitos dias, não haveria nem dúvidas. Afobada com a hora, e já totalmente esquecida do ardente apelo espiritual dirigido ao mentor na noite passada, passei a mão à esmo num volume qualquer da minha biblioteca espírita particular, cuja quantidade de livros já se torna incontável depois de todos estes anos de labor na área espiritualista; tomei da bolsa, e saímos.

Chegamos no pronto-socorro; abarrotado, como era de se esperar. Peguei uma senha cuja numeração já ultrapassava de muito os setecentos números, busquei assento para meu filho. Eu mesma me mantive em pé após as primeiras providências, e enfim me dispus a esperar lendo o livro que trouxera, obra da autoria de Herculano Pires, de conteúdo interessantíssimo sobre o tema da reencarnação. Abri a esmo. E me tomei de grato espanto!

Nem me lembraria mais depois de tanto tempo daquele esboço mediúnico - justo o retrato em miniatura do meu mentor espiritual, recebido há pelo menos três anos - e que guardara no meio das páginas daquele livro! Talvez custasse a encontrá-lo de novo, se não escolhesse aleatoriamente aquela obra específica para ocupar o meu tempo durante o período de espera por atendimento. E, de pronto, compreendi a resposta amorosa deste Amigo querido do mundo maior que nunca - nunca! - em momentos de grande aflição, me deixou desprovida deste tipo de sinal fraterno e zeloso de sua presença!

Com efeito, aquele pequeno retrato dizia: Aí está! O sinal que pediu, mas não apenas da minha presença: da de todos que, daqui, do mundo maior, estão não apenas ao seu lado, mas amparando cada mãe, pai ou pequeno aflito nesta fase de intenso sofrimento para os habitantes desta cidade!...

Algum tempo depois, com o novo hemograma em mãos, o médico plantonista confirmava o restabelecimento do meu menino e a sua alta para a próxima quinta-feira.

É esta, pois, a crônica da vida invisível de hoje - cujo especial conteúdo é compartilhado fraternalmente com todos vocês, por intermédio deste testemunho, na intenção de se confirmar que, de fato, não nos achamos sozinhos nos nossos momentos mais difíceis! Há, indubitavelmente, um universo repleto de vida insuspeitada, e muito maior, no qual habitam todos esses incansáveis seres amigos que nos amam, nos amparam e nos encorajam, zelando com profunda ternura e compaixão para que não esmoreçamos e para que não se extinga nunca a chama da esperança nos nossos corações!

Post scriptum: ... e como habitamos ambos os lados da vida, o meu profundo agradecimento a toda a equipe de médicos e funcionários da clínica pediátrica SAMCI - heróis anônimos dos nossos tempos...

Amor... a todos!
Lucilla

Parte 1

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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