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Menos ou mais de cinqüenta metros? - Parte I

Atualizado dia 6/9/2006 1:47:56 PM em Autoconhecimento
por Fernando Cavalher


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Chego à casa em uma terça-feira. Minha amiga Tati está assistindo TV: é o programa de Luciana Gimenez, na Rede TV! É um debate. Envolve vários participantes que falam sobre espiritualidade, religiões, crenças e dogmas.

Este debate está acontecendo há séculos. Quase todos, em todos os tempos, em um átimo que seja, já tiveram curiosidade a respeito do que são e do que os transcende. "Quem sou? Há algo além de mim e do que vejo?", estamos debatendo há séculos... Mas este debate ficou muito mais duro quando as grandes religiões monoteístas adentraram os palcos, especialmente, o cristianismo. Os mono(teísta)s fundamentam-se em sua crença de que há um deus único, eliminando as outras possibilidades. Estarão certos, os monos?

Não vem ao caso. Não quero olhar charques de verdades agora.

O que quero é falar de transtornos, de alguns destes transtornos que surgem no comportamento dos monos. E, para isso, nossa contemporânea Gimenez deu-me uma oportunidade ao reavivar o debate naquela terça-feira. Estavam presentes cerca de oito pessoas – os nomes não cheguei a saber, porque entrei em minha casa com o programa já em andamento. Três, contudo, marcaram-me mais profundamente.

O primeiro deles foi o que me chamou a atenção e fez-me parar na sala para assistir um minuto de TV, minuto este que se estendeu por mais quinze: padre Quevedo, cujo nome eu já conhecia. Quando o olhei na tela sua imagem tornou-se ícone indelével em mim.

Padre Quevedo. O dedo indicador da mão direita quase apontava para o céu. Mas não era o gesto de Platão na Escola de Atenas, de Rafael. Não era um dedo de autoridade, mas um dedo autoritário, acusador. As escleróticas, vermelhas, expressavam algo que só posso definir como cólera. Os dentes pontiagudos, levemente voltados para dentro, sugeriram uma fera, com fome de carne, sedenta de sangue fresco. Não é que a aparência defina tudo. Mas eu, que sou meio infantil, impressiono-me com estas coisas.

O padre tentava, com todo os esforços, provar que não existem espíritos. Sabemos porque o padre fazia isso: a igreja católica tem dificuldade com a existência de espíritos pois seus dogmas restringem o Cosmos a quatro lugares: o planeta Terra, o inferno, o purgatório e o céu. Assim, não pode haver espíritos, pois isso pressupõe que há um quinto lugar cósmico: um lugar que está na Terra e não é um dos outros três. A existência desta quinta possibilidade reforçaria as religiões agrupadas, erroneamente, sob a denominação de “espíritas”.

Para atingir seus objetivos, o padre usou uma técnica de retórica. Aceitou como verdadeiros os fatos com que seus questionadores o interpelavam. (Assuma-se: são fatos difíceis de aceitar, tanto por sua paranormalidade quanto pelo fato de o entrevistado ser mono-católico: combustões espontâneas e casas mal-assombradas.) Porém, mudou-lhes as causas. Disse que estes fenômenos, quando são verdadeiros, são causados por pessoas vivas que estão a menos de cinqüenta metros do local do evento paranormal. Ou o padre é repetitivo, ou pensa que todos são tolos, pois disse cinqüenta vezes que a pessoa que produz o evento paranormal está, no máximo, a cinqüenta metros do local do acontecimento. Talvez seja um jogo de palavras e idéias, sei lá.

Minha primeira crítica é: as afirmações do padre são indemonstráveis. São apenas uma saída intelectual para fazer a realidade caber dentro de dogmas arcaicos. Mas mesmo este não é meu tema. Tantas já foram as investidas da igreja neste sentido que nada mais se pode dizer a respeito, a não ser listá-las em grandes folhas de papel não-reciclável.

A postura interior de Quevedo repele-me. Não consegui ver nele um humano. O tempo todo me parecia um porta-voz da Verdade Máxima Inimputável do Cosmos: falava com arrogância, com um ar de superioridade, de uma altura impossível de quantificar. Seu dedo, apontado para o alto, apontava para si mesmo.

Pode uma pessoa ser assim tão especial ao ponto de conhecer a Verdade Última? Isso é dado ao ser humano? A mim não foi dado...

E ainda que seja possível... Digamos que Quevedo conheça mesmo todas as coisas. Qual seria a necessidade dele ao revelar isso em tanta grandiloqüência? Não saberia ele que todo fato verdadeiro é auto-evidente? Ou será que há razões bem mais pessoais do que defender os dogmas indemonstráveis da igreja? Padre Quevedo nunca foi a meu consultório... Mas, até hoje, todos aqueles que foram e que usavam de grandiloqüência tentavam compensar um imenso vazio interior, para não falar do ódio de si mesmos. Eu também fiz isso, durante muito tempo. E lembro-me da dor que sentia nesses momentos e que senti quando me conscientizei disso. Ainda me apanho assim, às vezes.

Estaria eu pensando o padre como me penso, esquecendo-me das infinitas diferenças individuais? É possível que eu esteja cometendo este erro, tão básico, tão freqüente, tão comum. Mas que eu não me esqueça jamais de nossas diferenças individuais!

Parte II

Texto revisado por Cris

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