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Microscópios ou óculos para miopia I

Atualizado dia 2/23/2007 4:09:27 AM em Autoconhecimento
por Fernando Cavalher


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Falta epistemologia nas linhas de raciocínio que tenho visto por aí. Aliás, tenho vontade de começar todos os meus textos com esta frase. É uma falha grave, uma vez que o raciocínio, se quiser ser idôneo, como normalmente é apresentado, não pode se colocar acima de si mesmo, não pode fugir de ser processado pelo próprio raciocínio, não pode gozar de imunidade parlamentar.

Esta ausência é turbinada quando se entra na arena da defesa dos pontos de vista. Aí a associação inconsciente que normalmente é feita entre a validade do ponto de vista e o valor de seu defensor como ser humano, transforma a miopia da falta de epistemologia em cegueira de um cego que está certo de enxergar. Em terra de religiosos – freqüentadores dos países catolicismo, protestantismo, espiritismo, budismo, e incluídas aí as duas mais recentes religiões, o esoterismo e o cienticismo (vulgarmente chamado de ciência) – faltam reis possuidores de um olho.

É o que se pode perceber, vultuosamente, na reportagem “Como a fé desempatou o jogo”, de Okky de Souza, na edição 1994 de VEJA, de 7 de fevereiro de 2007. O leitor desatento já está pensando que meu texto vai ficar criticando a matéria da VEJA. Pode ser. Mas o leitor sagaz, o leitor epistemológico, o meu leitor (preciso dar um jeito nesta minha vaidade!) verá que as fronteiras deste texto são esféricas.

Façamos, antes do massacre, uma ressalva. É uma ressalva capital em se tratando de um texto que exige epistemologia. Ora, há mais de um tipo de pensador. Há, sim, estes defensores de crenças, carentes de epistemologia. Mas há também um outro tipo, para o qual Nietzsche nos chamou a atenção ao falar de Thales, nas suas “Considerações extemporâneas”. Não me lembro bem como escreveu, mas ressaltou sua capacidade de agregar tudo o que via em uma visão única. Este último grifo parece um paradoxo, dado que critiquei os defensores de crenças. Não é: estes têm únicas visões. Desnecessárias outras explicações. Tento, em minha vida, exercer esta visão única, inaugurada por Thales; este texto incluso.

Esta é minha epistemologia: a da visão única; não apenas busca agregar, mas não se arroga perfeita. Antes se pressupõe um processo, moto contínuo, que quer seguir crescendo. Concorda em modificar-se, mesmo diante dos questionamentos mais profundos às suas proposições. E, se ainda assim soçobrar, frente à queda de seu pilar central, sacrifica-se, aceita novos paradigmas para renascer intacta, digna de se ter recriado, pois sua natureza só se reveste de singularidades: a curiosidade, o caminhar para a totalidade, a vontade de compreender. Fim da ressalva.

Quando olho esta reportagem quase desisto de continuar. Fico com vontade de ficar apenas na elegia à epistemologia. Sinto-me arrumando meu quarto depois de uma crise existencial, ou ainda entrando nele depois de a faxineira tê-lo limpado: parece arrumado, mas você não acha coisa alguma. E, como não existem textos imparciais (também não existem dissertações), não consegui entender se o Sr. Okky é a favor da ciência, da religião, ou do que quer que seja. Por um lado, o título de um de seus quadros “Mitos do além explicados pela ciência” parece indicar que ele ridiculariza toda a mitologia mundial (pulou as leituras de Jung, hein Sr. Okky?).

Por outro lado, termina seu texto com [as descobertas científicas] “não encerram a busca pelas raízes da fé ... [são] certamente apenas um tijolo de uma catedral maior: a vida espiritual humana.”. Estas colocações parecem opostas à maior parte do texto, pois aqui se supõe que ele tende para o lado da espiritualidade. Sua tentativa de conciliação, ao afirmar no primeiro parágrafo que “A novidadade é que não existe paradoxo.” falha durante todo o resto de seu texto tendencioso. Como o Sr. Okky é inconclusivo, como falta unidade em seu texto, vamos ter que nos contentar com a apreciação das idéias de outras pessoas, que estão expostas no texto. As idéias dele apenas criticarei.

Outro erro do Sr. Okky foi gerar uma dualidade inexistente. Pôs a ciência contra um grupo, que jamais existiu, formado por católicos carismáticos, evangélicos pentecostais, budistas, esotéricos, magos, supersticiosos, astrólogos, espiritualistas, etc. Um estudo mínimo sobre cada uma das fatias componentes revelará que não só são bem diferentes como brigam entre si, o que evidencia sua discordância. Talvez tenha feito isso para o texto caber na revista (também eu estou preocupado, pois começo a alongar-me; sou viciado em crácktica). Ou talvez tenha pensado que o “segundo grupo” se nivela por uma tendência mais ou menos constante, com diversos graus de dedicação, de se relacionar com coisas indemonstráveis, ou parcialmente indemonstráveis, pela ciência. Feito este trabalho mínimo de organização, passemos à tarefa quase quixotesca de arrumar este quarto depois da “faxina” do Sr. Okky.

Texto revisado por Cris

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