O que dizer quando não nos querem ouvir?



Autor Paulo Roberto Savaris
Assunto EspiritualidadeAtualizado em 7/15/2025 8:47:50 PM
Somos seres de encontros. Por natureza, buscamos o outro - não apenas para sobreviver, mas para sermos. A convivência é mais que um traço social: é uma necessidade da alma. E neste mundo cada vez mais acelerado e conectado, a comunicação se tornou não apenas um meio, mas uma forma de existir. Nem sempre por nós. Muitas vezes, pelos outros.
Falar é mais que emitir sons - é abrir janelas da alma. Escrever, por sua vez, é falar com silêncio e intenção. Cada palavra escrita exige pausa, exige pensamento. Já a fala revela o instante, a essência sem filtro. Mostra quem somos antes mesmo que percebamos. Enquanto a escrita permite o véu, a fala nos desnuda.
Mas são as ações que, de fato, nos desvelam. Elas dizem o que somos quando nenhuma palavra é dita.
Escrever, portanto, é um ato de generosidade. É um convite: "Venha, pense comigo." Mas o convite só é aceito por quem está disposto. Já a fala, lançada ao vento da convivência, exige ouvidos. E nem todos querem escutar.
Ouvir, mesmo quando se discorda, é um exercício de humanidade. É reconhecer que, embora sejamos frutos distintos, viemos da mesma árvore. E que julgar o outro sem caminhar com ele é como querer colher flores sem semear.
Não nos cabe moldar a mente alheia à força de nossos caprichos. O que nos cabe é dialogar - não com gritos, mas com argumentos enraizados em algo maior que o próprio eu: o conhecimento que a humanidade construiu ao longo de sua história. É nesse chão firme que se reconhece a sabedoria e se evitam os abismos do ego e das vaidades coletivas.
Nem sempre vale insistir. Há momentos em que o silêncio é a fala mais alta. Quando percebemos que há corações fechados, talvez seja hora de silenciar e apenas desejar paz. Quem não ouve, não está pronto para escutar. E há quem prefira se perder em suas certezas do que ser encontrado pela escuta.
Cada um caminha como quer - e pode. E não estamos obrigados a seguir todos os passos alheios. Caminhar ao lado nem sempre é sinônimo de amor. Às vezes, é sacrifício desnecessário, que nos intoxica. Amar a si é, também, saber partir quando o caminho fere.
Paulo de Tarso nos sussurra com sabedoria: "Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém." Cabe a nós discernir. Separar o joio do trigo. Cultivar o que é bom. Colocar os dons a serviço de algo maior - uma humanidade mais lúcida, mais compassiva, mais inteira.
Agir com propósito. Distanciar-se dos que semeiam rancor. Cuidar-se dos "ismos" que empobrecem a alma e reduzem o mundo a trincheiras ideológicas. Deixar o veneno com quem o destila. E, como Francisco de Assis, escolher a mansidão como norte: viver em paz, amar a vida em todas as suas formas, estender a mão com ternura.
Voltar-se para dentro. Contemplar a própria jornada. Celebrar os pequenos passos. Eis a verdadeira sabedoria. Há quem veja o sucesso apenas no brilho material. Mas o que reluz nem sempre ilumina. O essencial nem sempre reluz - mas nutre.
Melhor ser um pobre em paz do que um rico perdido em vaidades. Melhor ser uma estrela discreta que ilumina discretamente do que uma que pisca forte e apaga cedo - deixando apenas cinzas de uma vida que brilhou para fora, mas jamais acendeu por dentro.
Falar é dom. Calar, sabedoria. E caminhar, mesmo em silêncio, é um testemunho de fé na vida.
Um Sonhador, Caminhando com Francisco: Paulo Roberto Savaris é autor dos eBooks: Caminho de Francisco, Entre o Céu e o Silêncio e o Segredo da Simplicidade Franciscana na Amazon Série Descubra Caminhando com Francisco e do Blog Caminhando com Francisco, dedicado à educação, à escrita inspirada na espiritualidade e nos valores de simplicidade e amor ao próximo.
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