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A Soja na saúde humana - Parte 3

por Conceição Trucom em Corpo e Mente
Atualizado em 01/09/2006 12:27:45


Pretendo hoje finalizar esta série de textos sobre a influência da Soja na saúde humana. Porém, desejo comentar que a partir dos textos parte 1 e parte 2 recebi muitas mensagens dos internautas, não só agradecendo pela densidade das informações neles contidas, como também pelos três questionamentos bastante comuns com relação à soja.

1) É verdade que a soja contém também certas substâncias que podem causar problemas ao ser humano?
Estas substâncias são os chamados agentes antinutricionais, que estão presentes em todos os alimentos de alguma forma ou concentração. No espinafre e no tomate é o ácido oxálico; nos alimentos integrais, principalmente nas fibras, é o ácido fítico e nas leguminosas (os feijões, ervilhas e a soja) estão presentes algumas destas substâncias como o ácido fítico, as lectinas e a tripsina. Ou seja, em todos os feijões estas substâncias estão presentes, mas, o povo brasileiro, grande consumidor de feijões, deve saber que o cozimento e o consumo adequado – sem exageros e composto com outros alimentos vegetais – não acarretará problemas; ao contrário, os componentes ativos e benéficos da soja sempre estarão lá para fazerem a sua parte.
No meu livro Soja - Nutrição & Saúde, fiz questão de colocar um capítulo específico – Entendendo as críticas sobre a Soja - onde aprofundo e esclareço todos os aspectos desta polêmica questão.

2) A soja pode ser consumida por pessoas que tenham problemas com a tireóide?
Pessoas com problemas de tireóide devem consumir acelga, alho poro, cebolinha e leguminosas com moderação.

3) E como vou saber se a soja é transgênica?
Procurando fornecedores idôneos ou de cultura orgânica. Mas saibam que enquanto todos ficam de olho na soja, muitos alimentos do nosso dia-a-dia já são massivamente transgênicos (exceção somente para os orgânicos) como é o caso do tomate e do pepino. Querer evitar 100% os transgênicos já pode ser considerado uma utopia, tipo querer respirar ar puro. O poder econômico já ultrapassou limites que dificilmente poderão ser retomados. E, no meu livro Soja - Nutrição & Saúde, há também um capítulo específico sobre Biotecnologia e os Transgênicos, onde esclareço os principais aspectos desta polêmica questão.

Bem, voltemos ao nosso tema.

A Diabetes e a Soja
A diabetes ocorre quando as células não conseguem obter a glicose (açúcar do sangue) que elas necessitam para ter energia e sobreviver.
Normalmente, a glicose é produzida pela quebra de carboidratos complexos como os dissacarídeos e os amidos. As células necessitam de insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, para absorver a glicose. Em pessoas diabéticas tipo 2, a insulina está presente no sangue, mas as células não conseguem reconhecê-la como tal, não absorvendo a glicose.
Pesquisas sobre os efeitos da soja na diabetes têm demonstrado que o teor de glicose na urina de pessoas diabéticas que consomem soja é menor do que naquelas que não consomem, sinalizando um aumento da habilidade das células para a absorção da glicose.
As fibras solúveis, fartamente encontradas na soja e alguns dos seus derivados, podem auxiliar na regulagem dos níveis de glicose, porque favorecem na liberação mais lenta e gradual deste açúcar na corrente sangüínea.
Estudos revelam que uma dieta rica em fibras e carboidratos específicos pode auxiliar as células a se tornarem capazes de reconhecer a insulina na corrente sangüínea. É importante observar, entretanto, que o conteúdo de fibras pode variar bastante entre os alimentos derivados de soja. (Ver Tabela E).

A Hipoglicemia e a Soja
A hipoglicemia é uma disfunção fisiológica, na qual o pâncreas produz insulina com exagero diante do aumento da liberação de glicose na corrente sangüínea. Isto faz com que as células absorvam rapidamente a glicose disponível no sangue, provocando a hipoglicemia, ou seja, uma redução drástica na taxa de glicose no sangue. As conseqüências são fadiga, enjôo e tontura.
Estudos revelam que as fibras da soja, juntamente com os seus oligossacarídeos, cumprem o benéfico papel de absorverem a glicose gerada durante o processo digestivo, tornando mais lenta e gradual a sua liberação para a corrente sangüínea, evitando assim o excesso de produção de insulina pelo pâncreas e a hipoglicemia.

O Colesterol e a Soja
Em 1999, o FDA, órgão do governo americano que regulamenta o uso de medicamentos e alimentos, reconheceu que o consumo de alimentos contendo proteína de soja auxilia no combate ao colesterol, como também na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares.
Pesquisas realizadas nos EUA, Europa e Japão têm sinalizado que as proteínas de origem vegetal são mais benéficas à saúde do que as de origem animal. Um fator determinante, elas atuam reduzindo o colesterol total e o LDL (low density lipoprotein), popularmente conhecido como “mau” colesterol.
A ingestão diária de 25 gramas de proteína de soja pode reduzir em até 30% os níveis do LDL, ao mesmo tempo em que ocorre um estímulo para a produção do “bom” colesterol (HDL – high density lipoprotein).
Uma explicação para esta redução pode ser pelo aumento da excreção de sais biliares pelas fezes (principal forma de eliminação do colesterol) ou pelo aumento do metabolismo do colesterol, para compensar o aumento na eliminação de sais biliares.
Além disso, o consumo de proteína da soja diminui a relação insulina x glucagon, hormônios que estão envolvidos no metabolismo do colesterol.
A soja também é fonte de ácidos graxos mono e poliinsaturados e da lecitina de soja que favorecem as artérias, veias e vasos, tornando-os mais flexíveis e desobstruídos, que aliados às isoflavonas, previnem a arteriosclerose e a trombose, que são processos de obstrução das artérias.
Um fosfolipídio encontrado em elevada concentração na soja
(2 a 2,5%), a lecitina é um excelente coadjuvante para a boa preservação das artérias do coração, quando ajuda a reduzir os níveis de colesterol e triglicérides do sangue.
As quantidades indicadas na Tabela a seguir equivalem a 25 gramas de proteína de soja. O ideal é alternar estas fontes e integrá-las com outros alimentos naturais como frutas, legumes, cereais integrais e verduras.



E mais, pesquisadores do Wake Forest University Baptist Medical Center, na Carolina do Norte, EUA, verificaram que as pessoas que consomem produtos à base de soja com elevado teor de isoflavonas, apresentaram uma redução substancial nos níveis do LDL (colesterol ruim) e do colesterol total, em apenas 9 semanas.
Vale ressaltar que variedades da soja, como também derivados da soja, que contenham baixo teor de isoflavonas não serão tão eficientes nesta capacidade de redução do colesterol.
O efeito cardioprotetor das isoflavonas se deve provavelmente às suas muitas semelhanças químicas e biológicas ao estrógeno dos mamíferos, mas seu mecanismo de atuação ainda não está claro.Entretanto, é certo que as isoflavonas necessitam da proteína de soja para funcionarem, já que trabalhos anteriores mostram que, sem a proteína de soja presente, o efeito de redução do colesterol não é tão expressivo.

A Menopausa, a TPM e a Soja
A menopausa e a tensão pré-menstrual (TPM) são características de alterações hormonais, principalmente no nível de estrógeno no sangue.
As taxas de estrógeno diminuem durante o ciclo menstrual, causando a famosa TPM.
Porém na menopausa, quando os níveis de estrógeno no corpo diminuem em até 70%, podem ocorrer muitas alterações fisiológicas: a dificuldade na regulagem da temperatura do corpo como os suores noturnos e as ondas de calor, o ressecamento da pele, o ressecamento da vagina, a insônia, as dores de cabeça, a queda de cabelos, a irritação, a ansiedade e a depressão.
Diante deste quadro de desconforto generalizado, acompanhado de apatia e mudanças de humor, muitas optam pela reposição hormonal feita com medicamentos sintéticos. Esse tipo de tratamento aumenta os riscos da mulher desenvolver um câncer de mama, por exemplo.
Estudos recentes sugerem que alimentos à base de soja podem reduzir tais incômodos. Portanto, antes da decisão pela reposição hormonal para combater os sintomas da menopausa, deve ser considerada uma pequena mudança nos hábitos alimentares.
Pesquisadores australianos, após vários estudos, concluíram que as mulheres que consomem diariamente meio copo de farinha de soja (kinako), o que equivale a 25 gramas de proteína, apresentaram significativa redução nos sintomas da menopausa. Como já colocado anteriormente, a ingestão da farinha de soja é muito mais efetiva do que as cápsulas isoladas e concentradas de isoflavonas, porque estes fitoestrógenos da soja, apresentam sua melhor performance quando integrados a proteína e todos os demais componentes da soja.
Observar na Tabela abaixo o teor de isoflavonas na soja e alguns de seus derivados.
A descoberta explica por que mulheres asiáticas sofrem muito menos com a menopausa. As japonesas, por exemplo, consomem entre 50 e 70 g de soja ou derivados por dia. Convém lembrar também que, juntamente com hábito alimentar do consumo da soja, o oriental ingere mais alimentos integrais, vegetais e peixes.
As isoflavonas, apesar da semelhança com o estrógeno humano ou sintético, apresentam atividade cerca de 100.000 vezes mais fraca, não causando a desvantagem de provocar efeitos colaterais.



A Osteoporose e a Soja
A osteosporose é uma dificuldade na saúde dos ossos, causada pela perda de massa e resistência dos ossos, enfraquecendo-os, tornando-os porosos e mais propensos a fraturas. Hoje se sabe que ela atinge homens e mulheres, nas mais diversas idades, mas as principais vítimas são as mulheres na pós-menopausa.
Mulheres na pós-menopausa são as principais candidatas à osteosporose, quando estão desprotegidas então pelo declínio dos níveis de estrógeno, um hormônio que inibe as perdas ósseas.
Mas, num processo natural, depois dos 30 anos, os ossos começam a parar de crescer e absorvem menos cálcio.
Entretanto, outros fenômenos também podem acelerar ou predispor pessoas mais jovens à osteoporose, como uma alimentação e hábitos antagônicos à formação e/ou manutenção dos ossos.
Existem inúmeras causas associadas à osteosporose e uma das mais importantes é a ingestão de cálcio.
Pesquisas recentes têm revelado que mulheres entre 19 e 50 anos de idade consomem cerca de 500 mg de cálcio diariamente, enquanto meninas adolescentes, consomem menos que 2/3 do valor diário que é de 700 mg/cálcio/dia.
Neste aspecto, a soja apresenta elevado teor de cálcio, mas seu aproveitamento é parcial pela presença do ácido fítico, que tende a formar fitato com cátions divalentes como o cálcio, ferro, zinco e magnésio. E este é um dos motivos pelo qual o consumo da soja e seus derivados deve ser integrado com frutas e vegetais. Mas existem outros aspectos muito positivos que indicam o consumo da soja na prevenção e tratamento da osteoporose.
Os ossos são extremamente dinâmicos e estão em constante renovação celular. Cerca de 15% da massa total dos ossos é substituída anualmente, e aproximadamente 7 gramas de cálcio sai e entra nos ossos todos os dias. Embora a ingestão de cálcio seja importante, a quantidade de cálcio retido pelo organismo é determinante para a saúde dos ossos.
Um dos fatores que aumenta a perda de cálcio pela urina é a qualidade da proteína. Observe-se o fato de que em países onde o consumo de proteína animal é mais elevado, o índice de fraturas também é maior.
Em comparação, a proteína da soja produz menor excreção de cálcio pela urina. Por exemplo: um estudo demonstrou que indivíduos que consumiram apenas proteína animal excretaram 150 mg de cálcio/dia, e os indivíduos que consumiram apenas proteína de soja excretaram 13 mg por dia.
O consumo de 40 gramas de proteína de soja por dia, durante 6 meses produziu resultado positivo, com ganho de resistência óssea, em um grupo de teste de mulheres na pós-menopausa.
Estudos realizados na Universidade de Illinois, Urbana - EUA, têm demonstrado que mulheres que consomem soja com freqüência apresentam aumento na densidade dos ossos da coluna vertebral, e sinalizam um papel importante dos isoflavonóides da soja na manutenção da saúde dos ossos.
Uma curiosidade: a daidzeína, um isoflavonóide da soja, é muito similar a uma droga largamente utilizada na Ásia e Europa para tratar osteosporose.
Inúmeros fatores podem afetar a saúde dos ossos, como a fundamental prática de atividade física ou caracteres hereditários. Entretanto muitos estão associados com a dieta e a soja pode contribuir com a saúde dos ossos porque:
• É fonte de cálcio de fácil absorção, principalmente se enriquecida com frutas, legumes e verduras.
• A proteína da soja afeta favoravelmente o metabolismo do cálcio,
• Os isoflavonóides da soja inibem a perda óssea.

A Memória e a Soja
À medida que nossa população envelhece, aumenta o número de pessoas com perda progressiva e intensa de memória. Ocorre uma lenta e contínua degeneração das células cerebrais, conduzindo aos quadros de demência. Infelizmente pouco se pode fazer por tais pacientes depois que o quadro já está instalado e a única e melhor alternativa atualmente é a prevenção.
As últimas pesquisas têm mostrado que a proteína da soja melhora a memória bem como a atividade do cérebro como um todo. Se considerarmos o Japão, onde a ingestão da proteína da soja é muito maior que no ocidente, a taxa de incidência de Alzheimer e outros tipos de demência são bem menores.
Como já demonstrado anteriormente, a soja e seus derivados integrais, são alimentos ricos em óleos nutricionais, fosfolipídios e fitosteróis, substâncias que podem afetar positivamente o desenvolvimento cerebral, incluindo a memória e a inteligência.
Pesquisas científicas têm demonstrado que a lecitina, o principal representante dos fosfolipídios da soja, é altamente benéfica na recuperação da estrutura dos nervos, pode prevenir e melhorar dificuldades com a memória, especialmente a perda moderada de memória associada com o envelhecimento.
O consumo diário da soja, dos seus derivados que preservam a fração oleosa, como também da lecitina de soja, pode incrementar a memória de adultos normais e ajudar a reduzir os “momentos de perda temporária de memória”.

Texto extraído do livro Soja - Nutrição & Saúde - Conceição Trucom - Editora Alaúde. Reprodução permitida desde que citada a fonte.


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trucom
Conceição Trucom é química, cientista e escritora sobre Alimentação Baseada em Plantas, considerada como Alimentação do Futuro: vitalizante e regenerativa.
Portal: www.docelimao.com.br
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